“É para votar em pessoas para melhorar nosso bairro”. Simples e certeira, Jandira de Fátima Macário, 7, explica a importância das eleições municipais de 2024. Moradora do Parque Bristol, no distrito do Sacomã, na zona sul de São Paulo, ela conhece bem as necessidades do seu bairro e reivindica melhorias, enquanto anda de patins na laje de casa: “tem um parquinho aqui perto, mas às vezes fica fechado e os brinquedos não são legais. Eu gosto de jogar futebol, mas nunca tem vaga”.
Ela é uma das 40,2 milhões de crianças que compõem a população brasileira, segundo dados do Censo de 2022, e que serão diretamente impactadas pelos resultados das eleições municipais. Por isso, a Agência Mural foi ouvir de meninos e meninas como Jandira o que elas esperam dos candidatos. “Eu quero mais oportunidades para as crianças”, reivindica.
Quem também está por dentro dos problemas da cidade é Viviane Linhares, 10, moradora do Grajaú, na zona sul São Paulo. “Eu já estudei em escola pública e o aprendizado era muito fraco. [Os governantes] poderiam fazer uma reforma nos parquinhos que estão acabados, com brinquedos todos lascados e poderiam construir mais parquinhos”. E conclui: “a opinião das crianças importa muito.”
E para que as crianças sejam ouvidas, é preciso ter quem as escute, como reforça Karina Fasson, gerente de Políticas Públicas na Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. Além de serem prioridade absoluta para o país, segundo a Constituição Federal, elas devem participar da vida política do país e da elaboração de políticas públicas.
“Um exemplo disso é a criação de planos de primeira infância. No contexto das eleições municipais, [essa demanda] se traduz na elaboração de planos municipais [com diretrizes e propostas para garantir direitos das crianças]”, diz.
O trabalho exige diagnósticos, coleta de dados e diálogo com os especialistas e, em especial, com “os beneficiários finais: as famílias e as crianças”, como pontua Karina. “É algo que o Brasil ainda precisa avançar, para garantir que todos os municípios tenham seus próprios planos, o que é uma exigência do Marco Legal da Primeira Infância, de 2016”.
Direito à educação, ao brincar e a vida política
Na zona oeste da cidade de São Paulo, no distrito do Butantã, bairro do Jardim João XXIII, Emilly Pietra Pereira da Silva, 11, espera melhorias nas escolas públicas. “Se eu visse um candidato a prefeito hoje, pediria mais aulas.”
Outra preocupação é com a zeladoria da cidade e com a ampliação de programas sociais. “Queria pedir também que eles tirassem os lixos da rua e melhorasse o Bolsa Família”.
No Brasil, quase 10 milhões de crianças vivem em famílias com renda mensal per capita de até meio salário-mínimo (R$ 660), segundo levantamento da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a partir de dados do IBGE e do Ministério de Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à Fome.
Enquanto joga videogame com a sua irmã, Raphael Henry, 7, de Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, reivindica mais espaço para que as crianças possam cumprir sua principal função e seu direito inquestionável: brincar.
“Seria legal se tivesse pelo menos um parquinho aqui perto pra gente brincar. Se eu fosse prefeito, tiraria todas as crianças das ruas, colocaria para estudar e daria comida [para todas].”
O pedido tem fundamento: pelo menos 3,7 mil crianças e adolescentes vivem nas ruas da capital paulista, segundo o Censo de Crianças e Adolescentes em Situação de Rua, realizado pela Prefeitura de São Paulo (SP) em 2022.
Também da zona leste, no distrito de Arthur Alvim, Gabriel Alves, 6, deseja que a nova gestão crie oportunidades de empregos, para que possa ter mais tempo com os pais. “Queria poder andar de bicicleta com meu papai.”
E no cuidado com as famílias, os idosos também ganham destaque nas reivindicações das crianças, como Maria Clara Tenório, 11, da Freguesia do Ó, zona norte. Ela quer que o prefeito cuide e priorize quem já tem mais de 60 anos. “[É preciso] respeito aos idosos [e também] à alimentação e ao lazer, como mais bibliotecas. Eu gosto de ler livros divertidos”.