Thaiane Torres, 25, e Andrey Cacilha, 37, estão juntos há 6 meses. Eles se conheceram na igreja evangélica Redenção, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. O relacionamento nasceu em meio posições políticas distintas de cada um. Enquanto ela vota no ex-presidente Lula (PT), ele defende o atual, Jair Bolsonaro (PL).
O casal é um exemplo das divisões políticas vividas em famílias e em relacionamentos durante a eleição de 2022, na qual, a religião foi colocada como pauta pelos candidatos em boa parte da campanha eleitoral.
O segundo turno será realizado no domingo (30). Na primeira rodada de votação, em 2 de outubro, o petista saiu em vantagem ao receber 48,4% dos votos válidos contra 43,2% do candidato à reeleição.
“Hoje a gente vê um governo para grupos específicos, não tem uma pluralidade. No Brasil há muitas diferenças sociais e acredito que quem mais vai representar o povo em todos os aspectos é um governo de esquerda, que nessas eleições é o Lula”, opina Thaiane.
A jovem apoiadora do ex-presidente mora no Inamar, no município de Diadema, região metropolitana de São Paulo. Na cidade, governada por Filippi (PT), Lula teve uma boa vantagem contra Bolsonaro, com 56% dos votos contra 32% do adversário no primeiro turno.
O candidato do PT venceu em cinco dos sete municípios que compõem o ABC Paulista, inclusive em Ribeirão Pires, município governado interinamente por Guto Volpi (PL), onde mora Andrey. Apesar de ter ganho na maioria das cidades da região metropolitana e na capital, Lula ficou atrás de Bolsonaro no estado de São Paulo.
Andrey, apoiador de Bolsonaro, afirma que a pandemia de Covid-19 e os conflitos internacionais, como a guerra da Rússia com a Ucrânia, atrapalharam o governo, mas que a economia brasileira fluiu bem. Até por isso, defende a continuidade da gestão.
“O PIB (Produto Interno Bruto), um dos principais indicadores da economia do país, no governo Bolsonaro foi maior do que em 2015 e 2016, anos que não tinha pandemia e nem crise global”, argumenta sobre anos em que houve queda de 3,5%, em meio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). O PIB caiu 3,9% em 2020 e subiu 4,6% ano passado.
Embora hoje vote em Bolsonaro, Andrey conta que no passado já votou em Lula por influência do pai, Agostinho Cacilha, 60, que ainda segue votando no petista. “Ao longo do tempo fui revendo os meus conceitos”, justificou a mudança.
Influência da igreja e valores cristãos
Para o casal, a igreja evangélica influencia os votos dos eleitores. Porém, Thaiane acha errado pastores se posicionarem politicamente.
“Não participaria de uma igreja em que se fala abertamente para votar em um candidato. As pessoas vão muito pelas referências e os pastores têm representatividade. Não acho isso legal.”
Thaiane Torres, moradora de Diadema
Já Andrey defende os posicionamentos dos pastores, desde que não seja uma imposição, por acreditar que os valores cristãos precisam ser defendidos.
Na tentativa de se aproximar do público evangélico, Lula chegou a fazer uma carta aberta que foi publicada na semana passada para dizer que prega a liberdade religiosa, que é contra o aborto e que não fechará igrejas. A informação de que o petista fecharia igrejas evangélicas é falsa e foi verificada pelo projeto Papo Reto no Zap.
Já Bolsonaro defende abertamente pautas como a não legalização do aborto e das drogas, posicionamentos que Andrey e Thaiane também concordam enquanto cristãos. No entanto, a jovem propõe uma mudança na lei para reduzir a morte de mulheres por causa de abortos ilegais.
Segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, de 14 de outubro, Bolsonaro tem 65% do índice de votos entre evangélicos, enquanto Lula tem 31%. Já entre os católicos, o cenário se inverte, com Lula à frente com 57% e Bolsonaro com 37%.
Mesmo sendo evangélica, Thaiane já chegou a ter a fé cristã questionada por frequentadores da igreja por conta do posicionamento político. No relacionamento, ela e Andrey brincam de como lidam com essa divergência política.
“Quando estamos debatendo, pode ter no máximo até a tréplica, se não o assunto não acaba mais. Mas nossos valores de igreja e do cristianismo são muito mais importantes do que nossas posições políticas. O que pensa diferente não é meu inimigo”, diz Andrey.