Léu Britto/Agência Mural
Por: Paulo Talarico
Publicado em 17.12.2021 | 21:41 | Alterado em 17.12.2021| 21:45
Confira alguns fatos que marcaram as periferias neste anos e alguns destaques da cobertura da Agência Mural
Tempo de leitura: 5 min(s)Os últimos 12 meses foram intensos. A pandemia teve o pior momento no primeiro semestre. A perda de renda somada e alta dos preços levou mais moradores das periferias a passarem dificuldades. Por outro lado, não faltaram histórias de solidariedade, novos negócios, pessoas que por necessidade buscaram outras formas para sobreviver. Teve também muita cultura espalhada por toda a Grande São Paulo.
Fizemos uma pequena retrospectiva sobre como foi este ano para as periferias de São Paulo e os destaques da cobertura da Agência Mural em 2021.
A vacinação de Covid-19 começava em toda a Grande São Paulo e dava o primeiro sinal de esperança para reduzir o número de vítimas na pandemia, apesar da desinformação sobre os imunizantes seguir se espalhando. No aniversário da capital, contamos ahistória de como moradores de nove estados do Nordeste ajudaram a construir São Paulo.
A pandemia começava a entrar no período mais tenso no Brasil, mas após a flexibilização no fim de 2020, muita gente seguiu pelas ruas. A pergunta “Por que aglomero?” foi o mote de uma reportagem especial que ouviu jovens de diversas periferias sobre a ida a festas nesse período.
Os motivos iam desde as mentiras espalhadas sobre a Covid-19 até pessoas que frequentavam esses espaços para garantir renda em meio à crise econômica – nessa época, o auxílio emergencial estava suspenso e moradores começavam a relatar o receio da fome.
Mesmo com medo da contaminação, esse mês marcou o começo do retorno às aulas presenciais. A medida, contudo, teve de ser revogada pouco tempo depois.
O volume de casos de Covid-19 crescia e veio mais uma fase vermelha do Plano São Paulo. Mas sem renda moradores e lideranças das periferias viam essas medidas com descrença. Alguns gestores decidiram também antecipar novamente os feriados, mas, advinha, cada cidade decidiu fazer isso de um jeito, sem coordenação. Para complicar, uma chuva com ventania destruiu casas em Perus (zona norte de SP), e moradores fizeram uma mobilização para tentar amenizar os danos.
Enquanto a crise se agravava, o auxílio emergencial teve início com valores até 70% menores do que o do ano anterior. O valor não foi o suficiente para famílias que já não conseguiam comprar o botijão de gás e usavam lenha para cozinhar em favelas da região metropolitana.
O Brasil vivia o pior momento da pandemia, chegando à marca de 400 mil mortes pela Covid-19, uma tragédia que ainda acaba com vidas, conexão e acolhimento nas periferias. Na Grande São Paulo, foram quase 10 mil vítimas em apenas um mês. Apesar da vacinação avançar, o ritmo era desigual entre brancos e negros em São Paulo.
Comunidade em Carapicuíba em mobilização para conseguir alimientos Léu Britto/Agência Mural
Se a vida estava complicada, imagina para as crianças. Em um ano de pandemia, a sensação de medo do vírus e a saudade dos amigos marcava a vida delas em periferias de São Paulo. E em meio à crise, a perda de direitos trabalhistas e a necessidade de renda agravou diversas situações como o aumento das favelas ou do trabalho precário.
Em maio, a Mural mostrou que, em quase dez anos, cerca de 900 pessoas foram resgatadas do trabalho análogo à escravidão na Grande São Paulo. Uma outra reportagem no mês revelou que São Paulo ganhou uma igreja evangélica por semana nessa década – boa parte nas periferias.
Em junho, começou uma parada especial. Ou várias paradas. O Próxima Parada, podcast original Spotify, produzido pela Agência Mural, estreou com um programa diário sobre as periferias. Falamos também sobre a saúde mental dos adolescentes nas periferias e sobre como estava a vida das prostitutas que vivem nas quebradas.
Contamos ainda as histórias de pessoas LGBTQIA+ que se articularam nas periferias para combater a fome e a pobreza.
Essa articulação foi apenas uma das formas que moradores das periferias buscaram para se ajudar. Outro movimento foi o do funk. Influenciadores ajudaram comércios locais com a divulgação de serviços e produtos da galera que vive na quebrada. Outros negócios informais ganharam força, como o delivery de catraca
Tudo isso em meio ao improviso de famílias para conseguir comida e pegando as sobras do açougue. Enquanto a vacinação avançava, vereadores da Grande São Paulo ainda defendiam o uso de medicamentos sem comprovação científica.
Começamos uma série sobre a mobilidade nas periferias. Em uma das primeiras reportagens, abordamos como as favelas de São Paulo sofrem o impacto da falta de infraestrutura e do preconceito para conseguir acessar à cidade. Essa imagem da favela, por outro lado, vem sendo mudada pelo trabalho de pessoas, como a arquiteta Ester Carro, criadora do Fazendinhando.
Em Carapicuíba, enquanto as aulas voltavam, o ônibus que levava as crianças da favela Porto de Areia foi cortado. AAgência Muralrevelou ainda que a mesma região vinha sofrendo com alagamentos por causa de uma obra de aterramento feita por ali. O Ministério Público está apurando o caso.
Com a queda no número de vítimas e na ocupação dos hospitais, as aulas presenciais voltaram. Mas profissionais da educação relataram medo, falta de protocolo e alunos com fome. Os impactos da pandemia serão sentidos por um bom tempo e o agravamento de antigos problemas também. É o caso da falta de saneamento básico em várias favelas de São Paulo, inclusive das novas que surgiram.
A calma da pandemia também fez com que antigos programas voltassem como o Ruas Abertas. Mas aAgência Muralmostrou que esse retorno foi apenas para a Avenida Paulista, não para as periferias. Setembro também marcou os 100 anos de Paraisópolis.
A Biblioteca Caminhos da Leitura, em Parelheiros, perdeu o espaço que tinha dentro de um cemitério. Após o despejo, moradores se uniram para guardar as obras enquanto não conseguiam um novo espaço. Na zona leste, o professor Fabiano Ramos passou a usar o “dialeto periférico” para ensinar filosofia e se tornou referência em Itaquera.
E a COP26, Conferência Mundial do Clima, foi realizada na Escócia. Entre os brasileiros, ativistas das periferias estiveram no evento para defender que quem vive nas quebradas precisa opinar, pois são os mais afetados nas cidades pelas mudanças climáticas.
O fim do Bolsa Família causou apreensão em famílias que agora passam a receber o Auxílio Brasil, programa que por enquanto está previsto para funcionar apenas até o final de 2022.
AAgência Muralcompletou 11 anos e lançou um novo site, que está na régua, e também publicamos as primeiras reportagens em webstories.
Além disso, contamos como novas produtoras de música das periferias têm fomentado o trabalho de artistas das quebradas. Da zona norte à zona sul, projetos tentam emplacar com clipes, sons e até vinis. Já entre as rodovias de São Paulo, a região da Dutra, em Guarulhos, é líder em vítimas por acidentes de trânsito, mostra reportagem especial.
No encerramento da série sobre mobilidade nas periferias, especialistas apresentam soluções para o transporte nas quebradas. Um dos pontos importantes é melhorar a intermodalidade, garantindo a integração entre vários meios.
Mas, recentemente, uma mudança poderá dificultar um pouco mais isso. A troca do Cartão Bom pelo Cartão Top vai afetar aintegração em ônibus de cinco cidades da Grande São Paulo.
Para fechar, nesta sexta-feira (17), trouxemos reportagens sobre o impacto da pandemia na primeira infância:mudanças de comportamentopor causa do luto,insegurança alimentareperda de aulas por causa da gripesão alguns dos problemas vividos pelas crianças nessa faixa.
Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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