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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Katia Flora | Amanda Atalaia | Egberto Santana | Felipe Barbosa | Halitane Rocha | Paulo Talarico

Edição: Paulo Talarico

Arte: Magno Borges

Publicado em 08.08.2024 | 16:09 | Alterado em 09.08.2024| 14:59

RESUMO

Apenas três cidades elegeram pessoas negras para prefeitos em 2020 e 35% dos vereadores se declararam pretos ou pardos, abaixo da proporção da população na região. Por trás dessa ausência, a dificuldade de discutir pautas raciais e a perseguição a políticos negros marcou os últimos quatro anos

Tempo de leitura: 3 min(s)
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A eleição de 2020 foi histórica para Rio Grande da Serra. Ali no ABC Paulista, a cidade elegeu Claudio Manuel Melo (MDB), o Claudinho da Geladeira, primeiro prefeito negro da história do município de 33 mil eleitores.

Mas esse fato histórico durou pouco. Em julho de 2022, Claudinho foi cassado pela Câmara Municipal. Os vereadores votaram pela saída do político por conta de requerimentos não respondidos pela gestão e pela suspeita de que uma funcionária furou a fila de vacinação contra a Covid-19.

Procurado pela Agência Mural, Claudinho não quis dar entrevista, pois diz que o processo segue na justiça e ainda tem esperança de revertê-lo. Em 2023, ele afirmou ao site Repórter Diário que “o que aconteceu foi um golpe”.

Distribuição dos atuais prefeitos @Magno Borges/Agência Mural

Quando procuramos falar com o ex-prefeito, a ideia era entender se o fato dele ser o primeiro prefeito negro influenciou na atuação dos vereadores para derrubá-lo. Após a cassação, a vice-prefeita Penha Fumagalli, irmã do então presidente da Câmara, Charles Fumagalli, assumiu a prefeitura.

O motivo dessa procura é que com a queda dele, cai para apenas duas as gestões na Grande São Paulo comandadas por prefeitos autodeclarados negros, o que pode cair ainda mais este ano. Nas Câmaras Municipais, o cenário é um pouco mais favorável, com 34% dos legisladores se declarando pretos ou pardos.

Mesmo assim, houve processos de cassação e vereadores que não têm a causa antirracista como norte.Nesta reportagem especial da Agência Mural, relevamos como a ausência dessa discussão afetou o último mandato e como isso deve impactar nas eleições de outubro deste ano.

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Magno Borges/Agência Mural

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Magno Borges/Agência Mural

Os raros prefeitos

Nas três cidades onde há prefeitos autodeclarados negros, lideranças apontam que faltaram políticas públicas que atendessem a população. Entenda:

E as mulheres negras

Há poucas mulheres no legislativo e quando falamos em mulheres negras, a situação é ainda mais delicada. Em São Bernardo do Campo essa é uma ausência histórica e quem chega ao poder precisa lidar com racismo e machismo. Confira

Perseguição a vereadores

Um dos vereadores pretos eleitos no último mandato passou por dificuldades para se manter na Casa. Em Embu das Artes, vereadores abriram um processo de cassação, depois de Abidan fazer denúncias contra a atual gestão. Confira

A Câmara mais negra

A Câmara de Cotia é o legislativo com maior representatividade, pelo menos na declaração dos parlamentares. Mas ter a maioria dos vereadores negros mudou algo nos últimos anos? Confira

Novos nomes

Em meio a essa falta de representatividade, há novos nomes tentando, desde a eleição passada, conseguir uma vaga no legislativo e no executivo. Confira algumas dessa histórias.

Por que isso acontece?

Os motivos para a pouca representatividade nos espaços de poder estão ligados a fatores históricos e políticos, avalia Beatriz Mendes Chaves, 26. mestranda em ciências políticas pela USP. Ela cita que desde a escravidão há uma exclusão sistemática dos negros do sistema político.

‘Isso aparece principalmente pela existência de políticas públicas que se constituíram como um verdadeiro obstáculo para participação de pessoas negras na política’

Ela aponta como exemplo que até a Constituição de 1988, ainda haviam barreiras para que pessoas pretas votassem.

Quanto a situação da Grande São Paulo, ela acrescenta que há uma dinâmica consolidada, com práticas que excluem a possibilidade de novas candidaturas emergentes, “seja pelo conservadorismo, seja pelo capital social político e também financeiro que candidaturas brancas herdam e que candidaturas negras no geral não possuem acesso.”

Além disso, o Brasil tem a maior parte de sua população negra e isso não está devidamente representado nos espaços decisórios e políticos. “Temos uma assimetria em relação às políticas que são produzidas e os verdadeiros interesses nessa população. Os homens brancos são um único grupo totalmente representado.”

Por fim, ela aponta um outro desafio. Garantir que essa representatividade esteja sendo cumprida eficientemente. Ou seja, é possível que os números que são baixos, sejam ainda piores, por conta da falta de fiscalização sobre as declarações, ainda mais por conta do aumento de recursos públicos para essas candidaturas.

“Há diversas candidaturas que se autodeclararam como negras, mas que não são lidas socialmente como negras num exercício de hetero identificação. É fundamental que exista algum tipo de fiscalização. Esses recursos estão sendo repassados sem que existam candidaturas numa proporção considerada e adequada”.

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Katia Flora

Jornalista com experiência em jornalismo online e impresso, tem publicações em diversos veículos, como Uol, The Intercept e é ex-trainee da Folha de S. Paulo no programa para jornalistas negros. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2014.

Amanda Atalaia

Graduanda em Jornalismo, acredita no poder da comunicação, da educação e da cultura. Canceriana apaixonada por pets, leitura e domingos de sol. Correspondente de Santana de Parnaíba desde 2023.

Egberto Santana

Jornalista, também é crítico de cinema e redator. Sempre ouvindo ou assistindo alguma coisa, do novo ao velho, do longa-metragem ao reels do Instagram ou Tik Tok. Correspondente de Poá desde 2021.

Felipe Barbosa

Jornalista e social media, motivado por boas histórias e ideias. Jovem de espírito sonhador, com um pé na área cultural. Correspondente de Embu das Artes desde 2023

Halitane Rocha

Produtora do podcast Próxima Parada e correspondente de Cotia desde 2018. Mãe de gêmeas e 2 gatas. Família preta e do axé… muita treta!

Paulo Talarico

Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.

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