por Livia Alves de Oliveira Cruz, 29, jornalista, do Jardim Ingá, Campo Limpo, zona sul da capital paulista
“Gordofobia é um preconceito em que pessoas se acham superiores às outras por ter um modelo padrão de corpo”, explica
Comparações com pessoas magras, exclusão em atividades que demandam esforço físico, bullying, questionamento sobre autocuidado e até agressão foram algumas das situação que Livia viveu ao longo da infância e juventude
“Não é como se [as pessoas] julgassem, elas já tem a certeza de que não vou conseguir fazer [algo] pelo meu peso”, fala sobre já ter sido excluída de atividades como trilha e esportes
“Nas favelas e nas periferias, a gente tem como padrão estético as minas do baile funk, que é muito próximo do heteronormativo e das capas de revista. Já teve muito rolê na periferia que eu cheguei e saí, porque tinha gente me zoando”
A questão estrutural é um desafio. Livia aponta que passar por catracas de ônibus já foi um momento constrangedor. Ladeiras íngremes, falta de transporte e aparelhos de ginástica das praças sem acessibilidade são obstáculos para pessoas gordas.
No comércio, o problema continua: poucos estabelecimentos oferecem roupas GG, ainda mais com estampas e estilos mais descolados. “O dono da loja não vê a gente como possível cliente”.
LUTANDO CONTRA Livia acredita que é necessário atacar a raiz do problema, abordando o tema sem tabu “É preciso conscientizar de que ser gordo é uma característica e não uma doença. O termo ‘gorda’, por exemplo, não é um problema, mas sim como ele é usado”.
Não opinar, estimular mudanças ou comparar são posturas urgentes. “As pessoas ficam dando dicas de dieta ou relatos de pessoas que fizeram a bariátrica, sem eu perguntar. Falar que a pessoa precisa emagrecer é agressivo".
É importante também melhorar o acolhimento, por exemplo garantindo assentos preferenciais e preparando profissionais de serviços públicos. “Quando eu vou em uma consulta, tenho que levar uma mochila de exames para provar que meu problema no joelho não é por conta do peso”
Vale estimular e incluir pessoas gordas em todos os grupos sociais e garantir espaço convidativo, confortável e acessível. “Chama ela para fazer algo com você, algo divertido. Isso mostra que ela tem importância na sua vida e vai ajudar bastante”.
Texto: Jacqueline Maria da Silva e Fran Carneiro Edição: Sarah Fernandes Imagens: Léu Britto Montagem: Magno Borges