Ato 2: Transfobia

por Chloe Domingos de Oliveira, 21, produtora de moda, cria de Guaianases, zona leste de São Paulo

“Transfobia é dor. Parece que as pessoas não acreditam que eu sou uma mulher. Elas não me veem e não entendem como isso afeta meu psicológico”

Para Chloe, a mulher trans sofre preconceito em qualquer lugar, mas nas periferias a discriminação aparece na maioria das vezes como julgamento e assédio. “Nunca tocaram em mim. Na periferia é mais o falar, o olhar estranho, o buchicho”

“Às vezes todo mundo está no ‘bondezinho’ e as pessoas te olham. Depois que você passa, percebe que estão conversando sobre você. É um olhar que te deixa desconfortável, de julgamento”

“Já sofri muito assédio no transporte público. Dentro do ônibus, existem muitos homens que assediam e fetichizam meu corpo. É sempre uma coisa secreta, como se quisessem disfarçar”

Entre os desafios, falta acesso das mulheres trans a cuidados especializados de saúde.  “Tratamentos, terapias e políticas de acolhimento ainda são muito distantes das pessoas periféricas. Para quem é de classe média e tem o dinheiro é mais fácil”

Além disso, falta preparo para lidar com pessoas trans. “No posto de saúde já aconteceu de não usarem meu nome social, de atualizaram e tive que pedir pra mudar na hora que fui chamada”

LUTANDO CONTRA Busque informação “É muito difícil eu repreender alguém, não fico corrigindo. Cansei de passar informação. Nós temos internet e TV que têm falado muito nisso. As pessoas não querem ouvir”

Na dúvida, pergunte “O que mais me incomoda é não respeitarem o uso dos pronomes corretos. Mesmo que esteja evidenciado que seja uma mulher, eu prefiro que me pergunte antes de deduzir”

Discuta o assunto, sempre e mais “As pessoas não sabem o que é ser trans e muitas não respeitam. A escola é um bom lugar de aprendizado”

Fortaleça a autoestima de pessoa trans periféricas “Um familiar já me disse que eu não ia ser nada só por ser trans. Minha autoestima foi criada pelos laços de amizade, de pessoas que me deixaram confortável para ser como eu sou”

Chloe reforça que, apesar da discriminação, é na quebrada que encontra mais solidariedade “A periferia sabe lidar e viver em comunidade. Todo mundo que mora na periferia sempre está se ajudando”

Texto: Jacqueline Maria da Silva  Edição: Sarah Fernandes Imagens: Léu Britto Montagem: Magno Borges