O "dialeto" periférico para ensinar filosofia

“Segundo Mano Brown: "não é gíria, é dialeto". Jogava esse vocabulário não só na aula de filosofia, mas para falar de ciências e das artes. Sempre buscando o momento oportuno”

É seguindo o verso presente na música "Negro Drama" que o professor Fabiano Ramos Torres, 45, ensina filosofia aos alunos das escolas que leciona na zona leste de São Paulo

Fabiano é doutor em Educação pela USP (Universidade de São Paulo), onde se formou em filosofia. Também é professor visitante na UFABC (Universidade Federal do ABC) na área de ensino de filosofia

Quando Fabiano estava na faculdade, o ensino de filosofia não era obrigatório nas escolas. Por conta disso, nunca se imaginou dando aulas

Isso mudou um ano após se formar, quando a matéria voltou ao currículo escolar

"Quis passar o máximo de tempo na escola pública sendo professor-doutor. E fazer a "molecadinha" da periferia conhecer esse universo.
Me reinventei"

Desde os primeiros anos à frente das turmas, Fabiano buscou se aproximar dos alunos por meio de grupos de estudos e no incentivo às ocupações dos secundaristas, em 2016

Dessas experiências, surgiu a colaboração no livro “Crônicas do Ensino Básico”. A coletânea de textos aborda as diferentes perspectivas da educação e do processo de aprendizagem

Além da linguagem, Fabiano também experimenta performances e formatos junto aos alunos, como quando se acorrentou na escola para contar a história do Mito da Caverna, de Platão

Ou quando simulou a "venda" de alunos por lugares como a Sé e o Anhangabaú para falar sobre o período da escravidão. "Foi uma experiência forte", relembra

Em dezembro de 2021, ele recebeu o Troféu Periferia Brasil, da ONG ORPAS, na categoria "Inovação em Sala de Aula"

"A filosofia na educação é estruturada a cada passo, conceito após conceito e ajustada a linguagem à realidade vivida”

Fabiano Ramos Torres

Reportagem:
Gabriela Alves
Adaptação do texto: Cleberson Santos
Edição:
Tamiris Gomes
Arte e montagem:
Magno Borges