QUANDO
ERA
TUDO
MATO

As experiências de quatro (quase) centenários que vivem nas quebradas de SP

Do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, João tem um negócio próprio com a esposa Maria Avelino, 77, na produção e venda de xarope caseiro para complementar a renda

João José Jacó, 104 anos

Ele veio de Alagoas e trabalhou com agricultura até os 70 anos, quando decidiu se mudar para São Paulo em 1998 para ficar próximo aos familiares. Trouxe consigo a cultura, e constituiu seu negócio

“Gosto do povo, muita gente me ajuda quando preciso pegar remédio ou ir ao médico, a vizinhança sempre está à disposição”

Moradora da Cohab Educandário, zona oeste de São Paulo, ela pisou na terra da garoa pela primeira vez em 1945, com 17 anos

Dorca Nunes Amaral, 93 anos

Nascida em Igarapava, no interior de SP, Dorca veio para a cidade grande em busca de trabalho, há 25 anos

“Vim para São Paulo novinha e fui [empregada] doméstica, porque eu não conhecia nada. Minha irmã já trabalhava como empregada. Então eu continuei e depois fui trabalhar na fábrica”

Somente com a 4ª série do fundamental, Dorca trabalhou em uma fábrica de rádios e lá conheceu o marido, com quem casou aos 22 anos. Teve de deixar o emprego para cuidar dos quatro filhos

“Na época não tinha camisinha, quando via, estava grávida. Depois do quarto, ele [marido] mandou o médico cortar as trompas. Queria ter nascido agora. Hoje, homem não manda na mulher, ela trabalha”

De São Mateus, na zona leste, Vicente também conheceu São Paulo aos 17

Vicente Bernardo, 97 anos

Ele saiu de Três Corações, município com menos de 100 mil habitantes em Minas Gerais, para morar em Santo André, região do Grande ABC. Prestes a construir uma família, chegou a São Mateus logo depois

“Aqui era uma bagunça, não tinha asfalto, luz e água. A água era no poço. Aqui todo mundo sofreu um pouco com a moradia. Tudo era terra, até que teve o esgoto em 1995”

Aposentado por idade, Vicente trabalhou longos anos como eletricista e assim pôde cuidar de uma família grande com 15 filhos ao total, mas só com 8 vivos

Ele chegou em São Paulo ainda na infância, em 1937. Hoje mora no Jardim Santo André, em Mauá

Thiago Ayres da Silva, 93 anos

E parte da viagem foi usando um transporte que era popular na época: “do Tocantins a Goiânia, gastamos mais de um mês a cavalo”

Thiago conta ainda que a família dele conseguiu a primeira televisão do bairro "Morávamos em um cômodo, vinha todo mundo, as crianças ficavam sentadas no chão assistindo. Elas não saíam de lá”

15% da população da capital é composta por idosos, segundos dados de 2019
Por isso é preciso garantir uma cidade mais acolhedora para as pessoas idosas, sobretudo as que vivem nas periferias

"É necessário políticas públicas e pensar em uma construção para que o idoso possa ter melhores condições de vida", sugere a assistente social Tamires Santana de Carvalho

Reportagem e fotos: Estela Aguiar e Suzana Leite

Adaptação do texto: Cleberson Santos

Edição: Tamiris Gomes

Arte e montagem: Matheus Pigozzi