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8 em cada 10 moradores da zona leste de SP usaram serviço público de saúde em 2021

Por: Redação

Moradora da Vila Nova Utinga, na zona leste de São Paulo, Maira Isis da Silva Cardoso, 28, é usuária do serviço público de saúde. Além de passar em consultas para realização de exames de rotina, a jornalista também acompanha a mãe, Neusa Maria da Silva, 53, nas consultas mensais ao psiquiatra no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e faz a troca de receitas dos remédios. 

O bairro onde elas moram está localizado na divisa entre as subprefeituras de Vila Prudente e de Sapopemba. É justamente na região leste que a utilização do sistema público de saúde foi a maior em 2021, se comparada com as demais. Por lá, oito em cada dez moradores usaram o serviço. 

Significa que 80% dos moradores que responderam à pesquisa “Viver em São Paulo: Saúde e Educação” usaram o serviço este ano.

O estudo foi realizado pela Rede Nossa São Paulo e pelo IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria). Foram ouvidas 800 pessoas no período de 12 a 29 de abril de 2021.

Esses 80% citados acima representam queda de seis pontos percentuais em relação aos dados de 2018, quando o índice chegava a 86%.

Em 2021, as regiões norte e oeste registraram 76% de usuários que utilizam o sistema público de saúde, e a região central registrou 72%. Em 2018, os números eram, respectivamente, 91%, 89% e 82%. 

Hospital público em Distrito Sapopemba, na zona leste (Ira Romão/32xSP)

Para Maria Auxiliadora Chaves da Silva, 53, integrante do Movimento Popular de Saúde da Zona Leste, o alto índice de uso do sistema público na região pode estar relacionado a diversos fatores. Um deles é o costume com o contexto pandêmico onde as pessoas estão voltando às suas atividades rotineiras, mesmo com restrições, e procuram os serviços de saúde para se consultar.  

“É mais ou menos isso que as pessoas pensam ao procurar o serviço público: ‘eu estou indo trabalhar todo dia porque não posso procurar um médico? Se eu não estiver bem de saúde, como é que posso trabalhar? Como é que vou me sustentar?’ Não temos previsão de quando vai acabar [a pandemia] e a vida continua”, conta. 

Auxiliadora, que é moradora de Cidade Tiradentes, também cita o aumento de consultas por teleatendimento e as novas demandas surgidas durante o período de isolamento. 

“As pessoas ficaram muito tempo sem procurar médico, porque não estava atendendo. Quando [o sistema público] voltou a atender, mesmo de forma reduzida, elas recorrem ao serviço como último recurso após terem adiado”, avalia. 

Distrito Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo (Humberto Müller/32xSP)

A queda no número de pessoas que responderam ir aos postos ou hospitais pode estar relacionada à pandemia. Alguns desses serviços foram fechados e os moradores também evitavam ir até os locais com receio da doença.

A ida ao posto de saúde tornou-se menos frequente para Maira Isis e sua mãe Neusa, por exemplo. Elas passaram a usar o serviço apenas para atividades essenciais como consultas, realização de exames e trocas de receitas. 

“Tenho evitado ir ao posto de saúde porque a minha região [leste] sempre esteve com altos números [de casos de Covid-19]. Sempre que vou até lá tem muitas pessoas esperando para fazer o teste, conta. 

“As atividades no CAPS estão suspensas, então não há grupos de terapia. Ela [mãe Neusa] só está passando nas consultas com o psiquiatra.”

A zona leste é uma das regiões de São Paulo mais afetadas pela pandemia. Sapopemba possui o maior número de mortes por Covid-19 na cidade. Foram 937 óbitos registrados pela doença, de acordo com panorama da capital e Grande São Paulo atualizado semanalmente pela Agência Mural de Jornalismo das Periferias

MAIS INVESTIMENTO EM SAÚDE

Participante de movimentos populares há 20 anos, Auxiliadora ressalta a importância do SUS (Sistema Único de Saúde) no combate à pandemia. 

“O SUS vem nos mostrando dentro do sistema pandêmico que ele é melhor e não tem outro igual. Tem atendimento público gratuito e humanitário. O sistema atual de saúde não deu conta. Quem deu conta foi o SUS. Tanto é que o setor público alugou leitos particulares do setor privado”, analisa. 

Além de reconhecer a importância, ela alerta para a falta de investimento na estrutura e baixo orçamento concedido ao SUS, o que impacta no atendimento oferecido à população.

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Maira Isis também reconhece essas dificuldades quando vai ao posto de saúde. “O número de médicos que se dispõem a atender na periferia não são suficientes. São regiões populosas onde a demanda é muito grande, pois a maioria depende exclusivamente do atendimento do SUS”, diz a jornalista. 

Segundo ela, essa alta demanda faz com que as consultas médicas sejam rápidas, sem possibilidade de aprofundamento no caso e ou maior atenção ao paciente.

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