Por: Jéssica Moreira
Notícia
Publicado em 01.09.2020 | 12:02 | Alterado em 01.09.2020 | 14:25
Com atividades de promoção à cultura há mais de 15 anos, a Comunidade Cultural Quilombaque, em Perus, na região noroeste de São Paulo, pode perder a sede em que atua na Travessa Cambaratiba, ao lado da estação da CPTM.
Nesta terça-feira (1º), o grupo lançou uma campanha de financiamento coletivo #FicaQuilombaque para tentar arrecadar o valor necessário para a manutenção do espaço.
O grupo corre contra o tempo. Para seguir, precisam arrecadar ao menos R$ 150 mil até o final de setembro, metade do valor pedido pelo proprietário do terreno – R$ 300 mil.
O local foi alugado por ao menos 13 anos, mas nos últimos dias, o proprietário disse que tinha urgência para quitar uma dívida e que, por isso, precisava do terreno. “Ou a gente compra o terreno, ou temos que entregar”, conta Clébio Ferreira, 36, um dos fundadores e gestores.
A organização, que faz aniversário neste mês, já atendeu centenas de meninas e meninos ao longo de uma década e meia e tenta mobilizar moradores para seguir no espaço.
“Estamos ameaçados de perder o nosso espaço físico para a especulação imobiliária, fomos intimados a entregar o espaço caso não ocorra a compra do terreno”, aponta manifesto lançado pela organização.
Para os integrantes da Quilombaque, o valor e o prazo estimado para a aquisição são incoerentes com o orçamento da organização, que depende, essencialmente, de editais públicos.
“[Queremos] nosso quilombo vivo, contrariando as estatísticas, quebrando correntes e plantando sementes, resistindo e pulsando com a nossa firmeza permanente e fervendo o território”, apontam.
São exemplos de atividades o jongo, aulas de capoeira, rodas terapêuticas, shows, aulas sobre direitos humanos, polo de cursinho pré-vestibular da Uneafro, trilhas da memória no território, aulas sobre urbanismo, além de atuarem na construção de importantes políticas públicas em SP, como a Lei de Fomento à Periferia na cidade de São Paulo e o Território de Interesse da Cultura e da Paisagem (TICPs) do Plano Diretor de São Paulo.
HISTÓRIA E REVITALIZAÇÃO
Um dos pontos marcantes da atuação da associação no bairro foi a revitalização de um espaço abandonado.
A Agência Mural já mostrou o antes e depois da Travessa Cambaratiba desde a chegada da Quilombaque, em 2007. Até então, a viela situada ao lado da estação de trem da CPTM, causava medo à população, diante de tamanha falta de manutenção pelo poder público.
“Há muitos desafios a se consolidar e um deles é a permanência no nosso espaço físico, que, anteriormente, era um lugar abandonado e altamente degradado”, diz o texto.
Logo que a Quilombaque se instalou, foi realizado um mutirão de revitalização, com grafites, limpeza do espaço e a realização de atividades.
“Queremos implantar projetos e ações socioculturais, educacionais, econômicas e ambientais, na perspectiva de empreender um processo de reparação ao acesso a bens culturais, promover a convivência com a diversidade cultural local”, aponta o manifesto.
Desde que foi fundada, em 2005, a Quilombaque tem sido palco das mais diversas expressões culturais, trazendo à população do bairro alternativas de lazer e diversão, onde ainda não há equipamentos culturais mantidos pelo poder público.
Durante dois anos, foi na garagem da casa dos irmãos Cleber e Clébio Ferreira, que as ações foram realizadas.
Pouco a pouco, novos atores sociais foram se juntando ao grupo e formando uma teia de atividades culturais, ambientais e educativas, tornando o espaço da garagem pequeno demais para a criatividade do grupo. Em 2007, migraram para o espaço que hoje correm o risco de perder.
Jornalista e escritora. Formada em Jornalismo pela FAPCOM. É cofundadora do Nós, mulheres da periferia e coautora do Blog Morte Sem Tabu (Folha.com). Escreve sobre diversos assuntos a partir das questões de raça, gênero e território. Correspondente de Perus desde 2010.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.
Envie uma mensagem para [email protected]