Skatistas de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, protocolaram um documento pedindo a ampliação e a manutenção da pista de skate do bairro
Por: Jessica Silva
Notícia
Publicado em 05.10.2021 | 20:42 | Alterado em 23.11.2021 | 0:07
As manobras que garantiram as medalhas olímpicas conquistadas por Rayssa Leal e Kelvin Hoefler em Tóquio ainda fazem eco. Skatistas na Grande São Paulo, por exemplo, têm tentado impulsionar o esporte na região e cobram melhorias nas estruturas disponíveis nas cidades.
Em Mogi das Cruzes, um grupo formado por cerca de 100 jovens, de 14 a 17 anos, enviou um documento para a prefeitura pedindo a melhoria da pista de skate da Praça da Liberdade, no distrito de Jundiapeba, na periferia da cidade.
Igor Henrique, 16, é o fundador da chamada Comissão da Juventude do bairro, grupo que existe desde 2018. Além da pista, ele e os integrantes cobram o fortalecimento de políticas públicas e cultura na periferia de Mogi das Cruzes e mais visibilidade para a juventude da região.
O movimento pedindo a manutenção e a ampliação da pista começou após as Olimpíadas de 2021, em agosto. “Organizamos uma reunião com os skatistas do bairro e formulamos um documento para ser entregue na prefeitura”, diz Henrique.
O corrimão [usado como obstáculo] foi colocado pelo grupo, que adaptou a parte lateral da pista. “A gente dividiu bem as tarefas e conseguimos fazer o corrimão para a pista”, explica Lincoln Yuri de Freitas, 21, que anda de skate há oito anos.
Juntamente com os jovens, outros moradores do bairro ajudaram com a solda, com o cimento e com dinheiro.
“O espaço é nosso, a gente já está aqui andando há bastante tempo, e como realmente não tinha ninguém a se prontificar para poder arrumar a gente que se colocou à frente”, conta.
Antes da atual pista de skate ser construída, os meninos mais novos andavam de skate na calçada da igreja ou então se deslocavam para o centro.
“Só depois que a pista foi construída é que começou a aumentar o número de skatistas em Jundiapeba, não porque começaram a andar de skate, mas por não precisarem ir pra tão longe pra praticar o esporte”, diz Lincoln.
Para o mogiano, a quantidade de skatistas que existem no bairro não é compatível com a atual pista. “Os obstáculos não são reformados. Chegamos nesse ponto de precisarmos nos reunir e nós mesmos seguirmos com pequenas reformas, como remendar algumas rachaduras e chumbar o corrimão de novo”, desabafa.
A pista de skate que existe hoje na praça foi construída entre 2018 e 2019, em uma parceria entre o governo estadual e a prefeitura. A estrutura mede aproximadamente 15 por 30 metros.
Yuri Saito, 17, começou a andar de skate com os amigos há um ano e cinco meses. Para ele, a maior dificuldade está em realizar as manobras. “Hoje quero treinar tricks [manobras] e não consigo por não ter obstáculos”, conta o adolescente.
Esse é um dos motivos que faz com que muitos dos jovens de Mogi das Cruzes se desloquem para outros lugares, como a Praça Roosevelt, na capital, ou em cidades vizinhas.
“Chega uma hora que você precisa subir mais o seu nível e sair do básico, a pista [atual] limita o nível de muitos skatistas, por isso estamos solicitando uma pista nova”, afirma.
Skatistas pedem manutenção e mais obstáculos na pista em Jundiabepa @Jessica Silva/Agência Mural
Skatistas pedem manutenção e mais obstáculos na pista em Jundiabepa @Jessica Silva/Agência Mural
E a pista de skate em Jundiapeba tem outra questão: fica entre alguns brinquedos e uma ATI (Academia da Terceira Idade). As crianças que vão brincar na praça acabam passando no meio da pista e muitas vezes utilizam o espaço.
“Minha maior dificuldade hoje são as crianças que brincam na pista, são pessoas que passam na frente dos obstáculos”, diz Samuel Lima, 17, praticante de skate há quatro anos. para brincar.
Rosa Maria Antunes Cuba, 66, ativista na cidade de Mogi, participa junto com Igor Henrique da comissão e ajuda os jovens a traçar metas de desenvolvimento.
“É uma praça maravilhosa, mas que não funciona, não temos água, luz, vestiário, banheiro, não temos alambrado caprichado, mas sim, tudo arrebentado”, diz.
“Tenho certeza, como dois e dois são quatro, que nós temos um campeão aqui, é só ter um pouco de ajuda do poder público, estrutura. Sinto que os jovens daqui são desvalorizados.”
Segundo ela, é preciso aumentar a perspectiva de lazer em Jundiapeba e investir na juventude.
“Aumentar o investimento no esporte e viabilizar a prática de políticas públicas. A cultura, a juventude, o skate, todos os âmbitos precisam de atenção aqui na região” conclui.
Em Poá, cidade próxima a Mogi das Cruzes, a Ong Social Skate existe há 10 anos e trabalha a prática do skate como uma ferramenta de impacto social.
Sandro Soares, ou “Sandro Testinha”, como costuma ser chamado, é quem está a frente da ONG (Organização Não Governamental) realizando ações sociais com skatistas da região.
Dos 43 anos de idade, Testinha conta que anda de skate há pelo menos 30 e nunca viu o esporte com tanta visibilidade como hoje. Ele lembra que o skate até era forte nas décadas de 80 e 90, mas que mesmo assim não é nada comparado com o período atual.
“Não era uma cena como a gente está vendo agora. Com essa exposição mundial em todos os níveis, todos os lugares do mundo. A gente tinha uma cena do skate, mas era uma cena de campeonatos regionais”, exemplifica.
A ONG atende crianças e adolescentes de 6 a 17 anos de idade. Além das aulas de skate, os alunos têm acesso a campeonatos e recebem auxílio para os materiais de segurança, lanches e uniformes.
O projeto, inclusive, foi indicado pela Rayssa Leal, a “fadinha do skate” e medalhista olímpica, para receber uma doação oferecida ao campeão do prêmio de “Espírito Olímpico”.
Com o anúncio do prêmio, a procura pela ONG foi imensa. Foram preenchidas 160 vagas. Desse número, 55 eram para o público feminino.
“O máximo do nosso recorde foi 35 meninas no passado, e agora já pulou para 55. Estamos felizes com isso e vamos seguir em frente”, conta.
Sobre a construção de pistas de skate na região, o sentimento não é de tanta alegria. Para Testinha, ainda existe muito a melhorar, pois uma boa construção demanda tempo, consultoria e especialistas.
“A pista de Suzano, no Alto Tietê, é uma das exceções de todo o Brasil. Foi feita com mão de obra especializada e consultoria de empresas que são formadas por arquitetos e skatistas.”
O espaço da Ong Social Skate está localizado na Rua Rosa, 439, em Calmon Viana, Poá.
Em Mogi das Cruzes um dos locais mais frequentados por skatistas é o Mogi Skate Park, localizado no complexo esportivo “Professor Hugo Ramos”. O endereço é Rua Professor Ismael Alves dos Santos, 560, no Mogilar.
Cid Sakamoto, 45, é skatista há mais de 30 anos e locutor profissional homologado pela CBSK (Confederação Brasileira de Skate). Ele conta que geralmente anda de skate na pista do Parque Botyra Camorim Gatti ou Centro Cívico (atrás da prefeitura), e na pista do Mogi Skate Park.
“A pista do [parque] Botyra é antiga e o projeto é desatualizado, além do piso estar em péssimas condições. Já a pista do Mogi Skate Park é mais atual e tem boas condições, pois foi feita por empresas especializadas e com o nosso acompanhamento, desde o projeto até a sua execução.”
Na cidade vizinha, em Suzano, o Parque Max Feffer abriga a pista Suzano Skate Park. Está localizada no Jardim Imperador e possui 2,6 mil metros quadrados de área construída, com mais de 20 obstáculos verticais e horizontais.
Já em Itaquaquecetuba é possível andar de skate na Pista Municipal de Skate, na Vila Virgínia. Em 2019 a pista passou por uma reforma da prefeitura, que pretende criar uma escolinha de skate para incentivar as crianças a praticarem o esporte.
Jornalista formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Pedagogia e Mestra em Educação pela PUC-SP. Ama fotografias, séries, filmes e não vive sem Netflix. Correspondente de Mogi das Cruzes desde 2013.
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