Por: Redação
Publicado em 28.08.2017 | 14:21 | Alterado em 28.08.2017 | 14:21
Era 15h de uma sexta-feira. Um dia convidativo. O sol de inverno, a postos em meio a uma temperatura de 24 graus, foi o suficiente para reunir as irmãs Natália e Letícia na Praça Horácio Sabino, na Vila Madalena, em Pinheiros, zona oeste da capital.
Um programa que certamente seria corriqueiro para elas, caso não morassem a pelo menos 8 km de distância. Reformada por moradores do bairro, desde o fim de maio a praça tem sido o destino para o passeio vespertino da dupla que vive na Casa Verde, zona norte. “Onde a gente mora não dá nem pra chamar de praça. São muito sujas, a situação bem crítica”, diz a estudante de psicologia, Letícia Neves, 21, que conhecia o local há quase cinco anos. “O ruim é que lá [na Casa Verde] tem muito lixo no chão. As praças, geralmente, estão próximas a escolas públicas, onde há muitas crianças. Às vezes, eu e meu namorado saímos catando o lixo”, completa a irmã Natália Neves, 19.
Acomodadas em bancos novinhos de madeira, ainda reluzentes, as jovens aprovaram a reforma da praça Horácio Sabino, porém com ressalvas. “Ficou bem legal, mas eu gostava bastante do clima sem esse excesso de concreto, com cara de parque”, salienta Letícia.
“Era uma praça show, com uma baita estrutura. Saíram umas árvores bonitas e grandes daqui. A gente vinha com canga. Era outro clima, de praça mesmo. Eu gostava mais de como era antes. Mas não ficou ruim, não critico”, pondera a jovem.
Além dos bancos, piso liso e da grama nova, dois playgrounds para crianças, rampas acessíveis e iluminação também foram trocados ou reformados. “Não tinha esses brinquedos”, afirma, Sergio Lima, 32, comprador de suplementos hospitalares, em visita à praça ao lado da filha de dois anos. “Tinha um gira-gira, um trepa-trepa. Reformaram tudo. Está supernovinho”, comemora ele, nascido e criado na Vila Madalena.
Ainda de acordo com o comprador, a visitação aumentou depois da melhora no local, que custou cerca de R$ 1 milhão por meio de um fundo de investimento de moradores, viabilizado pela Associação Praça Horário Sabino, responsável pelo processo de reforma autorizado pela Prefeitura Regional de Pinheiros.
“Moro aqui desde que nasci. A praça sempre foi legal. Sempre teve uma frequência legal de pessoas. Mas é claro que depois da reforma ficou mais bonitinha, bem melhor”, destaca Lima. “Não era abandonada. Mas não era tão bem cuidada como está agora. Agora é cuidar para manter.”
Moradora do Taboão da Serra, na Grande São Paulo, Jade Oliveira, 20, acredita que a conservação das praças dependem mais da iniciativa da população do que do poder público. “Quando morei na Pompéia, tinha uma praça com horta e espaço para criança. No Brooklin, onde vive a minha avó, os brinquedos estão quebrados e enferrujados. Depende mais dos moradores do que da prefeitura, que já não faz muita coisa”, afirma a estudante de educação física, que mora a pelo menos 15 km distante da Praça Horácio Sabino.
A constatação de Jade é não é isolada. Segundo avaliação do IRBEM 2016 (Indicadores de Referência e Bem-Estar do Município), os paulistanos deram nota 3,6 para a relação com o Meio Ambiente. Ou, mais especificamente, 4,2 (numa escala de até 10) para a proximidade de parques e áreas verdes, e apenas 3,7 para a conservação de parques, praças e várzeas existentes.
Sem muitas opções próximas de casa, o motorista José Felinto da Silva, 60, diz ter parado na Horácio Sabino por causa da boa zeladoria feita nela e “para tomar um sol” junto com a patroa, uma senhora aposentada, moradora dos Jardins. “Eu moro na Cohab, no Butantã [também na zona oeste] e lá onde não tem muitas praças. As que têm estão todas detonadas”, revela.
“Com o dinheiro que gastaram aqui, poderia ter sido feito um banheiro”, sugere o motorista, reforçando o status de parque que o local parece receber. A aposentada engrossa a referência ao recomendar a presença de seguranças.
Na Horácio Sabino há pelo menos dois deles, acomodados em pequenas guaritas nas duas ruas perpendiculares ao local. Um terceiro está mais próximo às residências e mansões no perímetro. Para os vigias, no entanto, a vigilância não se restringe à praça, mas às moradias. Se algo acontece dentro da praça, fica na praça, asseguram.
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