Quantas linhas de ônibus e de trem você já enfrentou para encontrar o date? Namoros nas periferias também envolvem o desafio geográfico
Por: Paulo Talarico
Crônica
Publicado em 12.06.2023 | 12:15 | Alterado em 12.06.2023 | 12:15
Para quem namora com alguém que vive na outra ponta do mapa, seja a 40, 60 ou 70 km de distância, muitas vezes as perguntas das pessoas ao redor começam com: “Nossa, mas por que tão longe?” Como se essa coisa de relacionamento fosse uma lógica que envolvesse apenas a comodidade.
Não estou esnobando aqueles que conseguiram encontrar do lado de casa “a cara metade” (termo usado no século passado para crush). Isso é muito legal e incentivamos! O amor pode estar perto.
Mas isso não exclui os amores distantes, aqueles que vencem o desafio geográfico para acontecer. Amores periféricos que dependem de um bom ônibus, uma boa estação de trem e, principalmente, a vontade de ir, sem ligar para as horas gastas (ou investidas) nesse amor.
Hoje o mundo está um tanto mais fácil para esses aventureiros e aventureiras. Começa pelo WhatsApp que te ajuda a saber se a pessoa está ou não no caminho. Porque, antes, a forma mais fácil era ligar para a casa da pessoa para saber se ela já tinha saído. Imagina quando eram cartas?
E da mesma forma que os namoros periféricos envolvem geografias, também envolvem uma boa dose de matemática. Afinal, quanto tempo leva pra chegar? Quantos quilômetros dá para economizar? Quais caminhos dá para cortar para chegar rápido? Quanto custará para ir e voltar? – Sim, a tarifa zero também estimula o amor, fica a dica para o Ministério do Namoro.
Os atrasos também fazem parte para entender o quanto um amor está valendo. Quantos minutos você é capaz de esperar sem reclamar com quem se atrasou?
Sem estímulo à falta de pontualidade. Afinal, ser pontual para quem namora longe exige aquelas duas horas de antecipação para a saída de casa para praticamente qualquer tipo de rolê. Mas saber dessa exigência e dessa dificuldade pode te dar um pouco de empatia para aqueles minutos que a pessoa demorou a mais (desde que dentro de uma margem de erro razoável, vá lá, e também não vale o golpe: “tô chegando”, sendo que acabou de sair de casa).
Claro que nem sempre depende da gente. Tem dias que não tem amor em SP e o trem para no caminho, o busão quebra, o Uber não aceita.
Para quem supera essas barreiras, o fim do rolê é sempre especial. Cada fim de semana numa estação de trem o beijo de despedida e aquela sensação de chegadas e partidas que alguém cantou por aí. Quantos casais não têm nessas paradas o momento que marca o fim daquele dia e a expectativa de quando poderão se reencontrar.
Que os amores periféricos de norte a sul e leste a oeste, que atravessam balsas, estradas, superam vãos, descarrilamentos da viaMobilidade ou batidas da linha 15 prata, continuem fortes.
E que as chegadas e partidas sejam passageiras e que esses amores periféricos não fiquem muito tempo parados, enquanto a gente aguarda o movimento do trem à frente.
Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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