A falta de saneamento básico, a coleta de lixo insuficiente e a precariedade das moradias seguem marcando o cotidiano de milhares de famílias nas favelas de São Paulo – com efeitos particularmente graves para as crianças.
Apesar de discretas melhorias nos serviços desde 2010, as desigualdades entre as áreas formais e as periferias permanecem acentuadas. Em 2022, apenas 76,9% dos domicílios de favelas de São Paulo estavam ligados à rede de esgoto – muito abaixo da média municipal de 94,6%. É o que revela o estudo “Racismo Ambiental e Injustiça Climática”, do Instituto Pólis, com base no Censo 2022.
Heliopolis e Hospital ao fundo da favela @Douglas Cavalcante/Comunicacao Unas
A coleta de lixo também é desigual: 91,7% dos lares paulistanos recebem o serviço regularmente, mas nas favelas o índice cai para 77,2%. Somente 44% das casas em favelas estão em ruas com bueiros (contra 58,4% na cidade), e 54,9% possuem calçadas adequadas – número distante dos 91% registrados no conjunto do município. Ao todo, 29,5% dos domicílios das favelas têm árvores no entorno, enquanto nos demais bairros o índice é de 68%.
Este conjunto de ausências ampliam a exposição dos moradores a enchentes, doenças e ondas de calor, afetando de forma mais intensa populações negras e de baixa renda.
Da esquerda para direita, Davi, Suzana e Valentina, família moradora de Heliópolis @Isabela do Carmo/ Agência Mural
“As crianças precisam crescer em territórios dignos. A moradia é a porta de entrada para todos os demais direitos de bem viver. Quando pensamos nas infâncias, olhamos para a cidade que temos hoje e vemos o oposto. A cidade que construímos é completamente avessa às crianças, sobretudo às periféricas”, afirma Cássia Caneco, diretora executiva do Instituto Pólis.
Ela relembra que brincar, circular pela cidade e viver plenamente são direitos das crianças e que não é possível vivê-los plenamente sem ruas asfaltadas, casas conectadas ao esgoto e espaços de lazer e convivência.

