A população de São Paulo não anda contente com o nível de acessibilidade oferecida na cidade. É o que se constata a partir da pesquisa IRBEM (Indicadores de Referência do Bem Estar do Município), que teve a sua versão mais recente divulgada em janeiro de 2016.
O quesito “acessibilidade para pessoas com deficiência” ficou abaixo da média estipulada pela pesquisa, de 5,5 , em todos os anos em que ela foi aplicada. Houve ainda uma sensível piora com relação ao ano de 2014. Naquele ano, a nota média dada para acessibilidade na capital foi de 3,8 contra 3,6 de 2015.
Em questões que podem, de maneira indireta, estar relacionados com acessibilidade, também se observa uma piora. Quando perguntados sobre o combate à qualquer tipo de discriminação, os paulistanos relatam uma queda pequena e a nota atribuída passou de 5, em 2014, para 4,6, em 2015. A perda é maior ainda quando se avalia a série histórica da pesquisa. Em sua primeira edição, de 2009, a nota para o combate da discriminação era de 5,3.
Após uma pausa na publicação da pesquisa, que divulgou novos índices apenas a partir de 2013, se constata que a tolerância dos paulistanos com algum tipo diversidade vem oscilando negativamente: em três anos, foi de 5,1 para 4,6.
A cadeirante Selma Rodeguero, 43, é só elogios ao bairro de Moema, onde mora, na subprefeitura da Vila Mariana, zona sul. “Vou ao mercado, padaria e bares. Tudo de cadeira”. Segundo ela, isso ocorre por conta do bairro ser plano. Mesmo com essa facilidade, ela admite usar mais as ruas do que as calçadas para realizar suas travessias. Também confessa não utilizar transporte público, pois tem um carro próprio com que se desloca para o trabalho, que fica no mesmo bairro.
“Meus amigos que usam transporte público contam as humilhações, as dificuldades. Acho que seria complicado”, opina ela, que nunca mais
usou transporte público após tornar-se cadeirante por conta de um de um acidente automobilístico, há 26 anos.
Antes de conseguir a transferência do local de trabalho para o cartório eleitoral do bairro de Moema, ela chegou a trabalhar no cartório eleitoral do Campo Limpo e viveu uma experiência bem diferente. “Nunca andei de cadeira nas ruas, sem acesso, e a maioria das ruas eram de ladeiras, e havia lugares em que eu não conseguia entrar” conta. Para ela, no geral, a acessibilidade em São Paulo é horrível. “Quem for cadeirante precisa possuir um carro”, admite.
Foi para ajudar os cadeirantes a se locomoverem que Valmir de Souza criou um aplicativo chamado Biomob, que mapeia a cidade para facilitar o transporte de pessoas com deficiência. O sistema funciona de maneira colaborativa a partir da inserção das experiências dos deficientes sobre a acessibilidade em todos os lugares de São Paulo. O aplicativo já conta com cerca de 1200 usuários.