Vitória Camila da Silva, 16, está no segundo ano do ensino médio. Desde os 12 anos, ela frequentava a Casa da Solidariedade 2, localizada no Glicério, região central da capital paulista. Por lá, a menina fez aulas de teatro e artes plásticas, mas a rotina mudou desde março por conta da pandemia da Covid-19.
Agora, ela teme que esse tipo de atividade não aconteça mais, pela chance de fechamento do local.
A iniciativa atendia 917 crianças e adolescentes de famílias pobres em três unidades da capital. Além do Glicério, a Favela do Moinho, no centro da cidade, e o bairro Sol Nascente, distrito de Anhanguera, na região noroeste da capital, tinham unidades em funcionamento.
Todas as crianças e adolescentes que frequentavam as casas estavam obrigatoriamente matriculadas na escola regular. Iam às Casas durante o contraturno da escola.
Vitória lembra que a cada início de ano eles tinham a oportunidade de escolher as aulas que iriam fazer. Circo, dança e capoeira eram as preferidas. Em casa, diz que tenta manter a rotina de estudo e treino para não perder o hábito e para não ‘enlouquecer’.
“Apesar de treinar e alongar em casa não é a mesma coisa do que ter uma aula de circo ou dança como eu teria normalmente”, diz a ex-aluna. “Eles [governantes] tem que começar a pensar em fazer mais desses projetos sociais porque passam cultura conhecimento e abre portas para esse mundo artístico”.
Na internet, um abaixo-assinado com mais de 17 mil assinaturas [em 14 de julho] pede a continuidade das atividades.
Mães de alunos e funcionários de unidades das Casas contaram à Agência Mural que antes mesmo da pandemia, já havia informação de que atividades poderiam ser encerradas e que o governo estadual alega falta de dinheiro. Também citam a demissão de funcionários que atuavam nos espaços.
O Governo do Estado diz que as atividades foram suspensas por causa da pandemia e nega o fechamento definitivo das Casas de Solidariedade. A gestão afirma que o contrato não foi rescindido e que os meses paralisados serão retomados após o retorno das atividades, assim como os devidos pagamentos após prestação de contas pelos serviços prestados no futuro.
Atualmente, os espaços são geridos pela ONG Instituto Criança Cidadã. Procurada, a entidade não respondeu à reportagem.
FUTURO
O projeto começou em 1984, com a criação da primeira Casa de Solidariedade, no centro. Em 2000 e 2013, surgiram as duas outras unidades, com a ideia de “atender crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social a fim de resgatar a autoestima dos alunos, identificar e desenvolver suas habilidades, contribuindo para o desenvolvimento da cidadania”, segundo o governo do estado.
Para Vitória, a participação na Casa de Solidariedade serviu de inspiração para o futuro. “Ganhei uma bolsa de estudos numa escola de dança e de circo porque comecei na casa, viram que tinha talento e me ofereceram essa oportunidade”, lembra. “Quero trabalhar com isso, e se não fosse a casa eu estaria perdida para encontrar outra coisa em que trabalhar”.
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Com 13 anos, Maria Silva também teme o fechamento definitivo da Casa. Ela fazia atividades como circo e capoeira, além de dança, horta, teatro e informática. Quando lembra do espaço, comenta que a experiência foi positiva.
“Aprendi muitas coisas que jamais pensei em aprender, fiz novas amizades, e tenho um carinho enorme por aquele lugar assim como várias outras pessoas que também estavam lá”, acrescenta.
Em casa, a rotina tem sido mais monótona com a expectativa de que possa retornar. “Não tenho feito muitas coisas, a não ser as lições que estão mandando da escola, e as aulas online de uma escola de circo”.
“Espero que eles usem o poder com mais igualdade a todos, e que eles repensem sobre esse ato, pois vários funcionários então ficando sem trabalho, e muitas famílias estão desamparadas, pois contavam com esses projetos”.