Léu Britto/ Agência Mural
Indígenas Guarani Mbya retomam terra ancestral nas margens da Represa Billings, em memória dos antepassados
Por: Jacqueline Maria da Silva | Léu Britto
Notícia
Publicado em 25.03.2025 | 19:59 | Alterado em 25.03.2025 | 20:07
Uma trilha de 10 minutos, no silêncio da mata fechada, entre casas de taipa e pequenas pontes de madeira sobre riachos e nascentes. Esse foi o caminho percorrido pelos repórteres da Agência Mural enquanto conversavam com Gilmar Martins da Silva, 36, conhecido como Nhamandu, umas das lideranças Guarani da Grande São Paulo.
O destino final? Um braço da Represa Billings, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Local visitado diariamente pelo jovem líder da aldeia Tekoa Guyrapa-ju e pelos demais indígenas Guarani Mbya que vivem ali, divididos em 23 famílias.
Aos 20 anos, Nhamandu foi convidado para assumir a liderança do seu povo. Naquela época, recusou o convite por sentir que ainda tinha pouca experiência. Mas, em 2024, o chamado se repetiu, e há cerca de quatro meses ele é cacique da aldeia. Apesar de sua posição de liderança, as decisões são tomadas coletivamente, desde a construção de casas até a pesca e o preparo dos alimentos.
Os povos indígenas que habitam as regiões urbanas desempenham um papel importante na preservação de remanescentes de Mata Atlântica, áreas de mananciais e curso de rios, especialmente em relação à represa Billings, que em 2025 completa 100 anos.
Confira mais nas fotos sobre a relação dos Guarani com o reservatório, que banha seis municípios da Grande São Paulo: Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Santo André, São Bernardo do Campo, Diadema e São Paulo.
“A gente fez a retomada porque sabia pelos nossos antepassados, pelos nossos avós, que seus avós ocupavam este espaço”. A Aldeia Tekoa Guarapa-ju foi retomada em 2012, por indígenas Guarani que moravam na aldeia Krukutu, na outra margem, já em São Paulo. @Léu Britto/ Agência Mural
Atualmente, a terra está homologada e aguarda demarcação pelo governo federal, com base em uma portaria publicada em 2024, que reconhece sete terras indígenas do estado de São Paulo @Léu Britto/ Agência Mural
“A gente procura falar sobre o significado da Represa Billings, o porquê de ela estar ali. A gente passa esse respeito para as crianças e jovens.” @Léu Britto/ Agência Mural
Os barcos atracados nas margens são um meio de locomoção, para visitar parentes e amigos do outro lado da represa e para pescar. Os peixes são assados nas margens, em fogueiras. @Léu Britto/ Agência Mural
“A gente tem o costume de vir à noite [pescar], porque tem mais fartura. Eu não pesco, só consumo, venho pra comer”. @Léu Britto/ Agência Mural
Segundo Nhamandu, em épocas de mais poluição das águas, o gosto e a qualidade dos peixes mudam e as opções de alimentação na aldeia reduzem. @Léu Britto/ Agência Mural
“A carne parece que é boa, mas quando você come sente um gosto bem diferente, de ferrugem. [Quando isso acontece] aí a gente prefere ficar um tempo sem pescar”. @Léu Britto/ Agência Mural
Os antigos contavam que, no passado, a represa era um corredor de terra, que foi alagado pelo homem. Uma intervenção na natureza a qual aprenderam a se adaptar. @Léu Britto/ Agência Mural
Em alguns dias especiais, Nhamandu vai às margens da Billings para se concentrar, se conectar à natureza e pensar na importância das águas para seu povo. @Léu Britto/ Agência Mural
“A gente espera que nos próximos 100 anos tenha menos poluição e mais consciência das pessoas, mais empatia com a água e mais respeito. Acho que é isso é essencial”. @Léu Britto/ Agência Mural
Essa reportagem faz parte do especial “Nas Margens da Billings“. Navegue por outras histórias e conheça as pessoas que transformam a represa em lar e fazem da preservação ambiental uma missão de vida.
Repórter da Agência Mural desde 2023 e da rede Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project. Vencedora de prêmios de jornalismo como MOL, SEBRAE, SIP. Gosta de falar sobre temas diversos e acredita do jornalismo como ferramenta para tornar o planeta melhor.
Fotojornalista e videomaker. Transitar pelos becos e vielas do mundo amando cada um do seu jeito e maneira de viver. Cofundador do DiCampana Foto Coletivo. Correspondente do Jardim Monte Azul desde 2010.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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