Por: Cleberson Santos | Katia Flora | Livia Alves | Luis Antonio | Matheus Oliveira
Arte: Magno Borges
Edição: Paulo Talarico e André Boselli, da Artigo 19
Publicado em 01.08.2023 | 16:34 | Alterado em 14.11.2023| 16:52
Agência Mural, em parceria com a Artigo 19, revela histórias de jornalistas e ativistas que tiveram o trabalho e a vida ameaçadas por cibercriminosos;
Tempo de leitura: 11 min(s)Comentários caluniosos, xingamentos, tentativas de invasão e até mesmo ameaças. Os ataques virtuais se tornaram um problema comum na vida de influenciadores, ativistas e jornalistas. É um movimento de disseminação de ódio que vem sendo utilizado para diminuir e até silenciar pessoas ou movimentos sociais.
A situação é ainda mais delicada para comunicadores que fazem parte de grupos minoritários. Pessoas de etnias não brancas, mulheres e LGBTQIAPN+ tendem a ser atacadas de forma mais agressiva e constante. A atuação nas lutas dentro do território também traz dificuldades.
Uma enquete realizada pela Agência Mural em parceria com a ONG Artigo 19 ouviu 82 jornalistas, comunicadores e influenciadores de diversos estados, mas sobretudo de moradores da Grande São Paulo. Mais da metade (54%) afirmaram ter recebido ameaças ou intimidações na internet, enquanto 46% relataram que já sofreram tentativas de invasão em perfis nas redes sociais.
Outros estudos já mostram o tamanho do problema. O relatório “O jornalismo frente às redes de ódio no Brasil” da RSF (Repórteres Sem Fronteiras) aponta que, em 2022, durante a campanha eleitoral, um jornalista era atacado virtualmente a cada três segundos.
O relatório “O Impacto da desinformação e da violência política na internet contra jornalistas, comunicadoras e LGBT+” feito pela GN (Gênero E Número) e a Repórteres Sem Fronteiras mostra que oito em cada dez jornalistas mudaram o comportamento nas redes sociais nos últimos anos para se proteger de ataques virtuais, 42% já sofreram violência online devido à sua profissão e 53% afirmam que os ataques virtuais impactaram sua rotina profissional.
De acordo com a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), em 2020 cerca de 7.000 ataques virtuais eram direcionados a comunicadores por dia no país.
Nas últimas semanas, a Agência Mural entrevistou ativistas e comunicadores periféricos que sofreram algum tipo de violência por conta da atuação nas redes.
Essa reportagem especial revela como os ataques online se manifestam de diversas formas, sempre com o mesmo objetivo: minar a liberdade de expressão e fazer com que vozes e opiniões de grupos minoritários permaneçam na marginalidade, inclusive virtualmente.
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Lua Mota, 25, não tem sossego nas redes sociais. “O dia que passo sem receber alguma coisa é um dia feliz”. Por “alguma coisa”, entende-se comentários constantes com questionamentos sobre o conteúdo publicado e difamações sobre a identidade de gênero. Lua se identifica como uma pessoa não-binária pansexual e usa os pronomes neutros para se identificar, como elu.
Ilustradora, quadrinista, designer e ativista LGBTQIAPN+, Lua é residente da região do Jaraguá, zona noroeste de São Paulo, e publica quadrinhos sobre sexualidade e gênero no Instagram e Twitter.
“É muito difícil fazer as pessoas entenderem essas questões de uma forma simples e clara. Eu queria passar isso de uma maneira mais simples. Literalmente, desenhando para ver se as pessoas entendiam”, conta.
Lua relata que nunca recebeu ameaças, perseguições via DM (mensagem direta) ou coisas do tipo, mas sempre lê alguém tentando desqualificar a atuação, principalmente quando o assunto é questões de gênero e linguagem neutra.
“Todos meus posts falando sobre linguagem neutra têm ataques, às vezes vem de uma vez, em massa. Desde falar que não existo, porque pessoas não-binárias não existem na cabeça dessas pessoas, até xingar, descer para níveis mais baixos”.
Por conta do volume de comentários, Lua optou por diminuir a frequência de conteúdos sobre esse assunto: “Ia publicar semanalmente, toda semana ter alguma tirinha, algum quadrinho sobre esses assuntos, mas estava sendo tão cansativo. Resolvi dar um tempo, segurar e fazer isso mais pausadamente.”
SE ESCONDENDO NO ANONIMATO
Clara Becker, diretora da Redes Cordiais, organização brasileira de educação midiática para influenciadores, explica que o anonimato é uma ferramenta muitas vezes utilizada por aqueles que realizam estes ataques virtuais.
O anonimato é um recurso importante para defender a expressão online, já que muitas pessoas ameaçadas ou vigiadas só tem nele a forma de se expressar. No entanto, este direito é utilizado com a finalidade de agredir e ofender por parte de pessoas que tem o objetivo de calar vozes diversas e plurais no ambiente online.
Becker pontua que, diferente do hater, o ataque de trolls, que geralmente tem por alvo comunicadores e ativistas, tem por objetivo criar um caos que atrapalhe o debate público. O termo “Troll” é uma gíria da internet usada para definir pessoas que têm como comportamento desestabilizar discussões, enfurecer e provocar outros usuários.
“Tudo que é crime fora da internet também é crime dentro da internet. Intimidação, xingamento, constrangimento, ofensa”, diz Becker.
Lua recorda que já precisou desativar comentários de uma postagem porque a discussão se estendeu por mais de duas semanas depois de publicada:
“As pessoas não cansavam. Se abrir esses comentários de novo. Não era nem diretamente a mim, mas eram pessoas discutindo entre si, trocando ameaça”.
Apesar de nunca ter sentido a necessidade de procurar ajuda jurídica para esses ataques, Lua conta que os episódios mexem bastante com a saúde mental.
“Sempre quando era questionada sobre o que sentia, tinha que recorrer a minha psicóloga e outras pessoas não-binárias, que infelizmente passam pelas mesmas coisas. Sempre somos questionados sobre o que sentimos e se a maneira que a gente se identifica é válida”
Lua Mota, ativista LGBTQPIAPN+
Durante o mês de junho, Lua Mota levou as tirinhas em formato de zines para a POC Con, um evento geek voltado ao público LGBTQIAPN+, e discursou em um trio elétrico na Parada LGBT+, na Avenida Paulista, a respeito do “Manifesto Pansexual”.
Em 2022, durante o período eleitoral, o jornalista e influenciador digital Mateus Fernandes, 23, sofreu constantes ataques após a publicação de uma reportagem para a Agência Mural sobre políticas públicas ligadas ao funk e o que o movimento esperava do próximo governador.
“Assim que eu postei essa reportagem no meu perfil, recebi muitas tentativas de invasão ao meu perfil de maneira muito rápida”, relata Mateus. “Quando fui ver os comentários, tinha muito robô, foi algo que me assustou muito.”
De acordo com ele, foi como ter sofrido uma “ação e reação”. Havia spams, mensagens de ofensa, comentários racistas e agressivos. “Foi tudo muito rápido”.
O jovem sente que por pautar temáticas periféricas e de negritude acaba incomodando uma parcela da população preconceituosa. Antes da eleição, ele já sofreu ataques simultâneos no Instagram, Twitter e Facebook. “Tentaram silenciar essa voz periférica”, diz.
Cria de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, Mateus é formado em gestão da comunicação e acessou o ensino superior por meio do Prouni (Programa Universidade para Todos) com cotas raciais. O aprendizado na universidade foi o que o impulsionou a criar conteúdos nas redes sociais.
O guarulhense atua como influencer há seis anos e atualmente tem um alcance de 80 mil pessoas por mês no Instagram.
“Os vídeos relacionados ao funk são os que mais viralizam, e acabo recebendo muitos ataques de pessoas que não enxergam o movimento como uma cultura. Não consigo entender o motivo desse ódio de derrubar um perfil”
Mateus Fernandes, influenciador e jornalista
Apesar de não ter perdido a conta, Mateus ficou fora das redes por dois meses e chegou a sofrer bloqueio criativo. “Foram episódios que me travaram, que me deixaram mais sensível para postar minha vivência”.
De acordo com a diretora da Redes Cordiais, esse impacto no psicológico das vítimas de ataques como os sofridos por Mateus são comuns e fazem parte da estratégia de silenciamento.
“É um impacto que pode mexer com a vida de uma pessoa, ela desenvolver uma síndrome do pânico, uma ansiedade, não conseguir sair de casa, ficar com medo. Você não consegue avaliar se uma ameaça virtual vai ser de fato concretizada ou não, você perde a sua liberdade por medo, é uma situação bem delicada”
O Nós, Mulheres da Periferia não teve a mesma sorte que Mateus. Elas perderam o acesso a conta de perfil no Instagram durante 24 horas. Dias após a cobertura de manifestações contra o ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL) em maio de 2021, Bianca Pedrina, 39, junto com a equipe do site tiveram que consertar o estrago causado pelos cibercriminosos.
“Na página tinha fotos de turistas, animais e armas. Fizemos até um dossiê com o material. Contamos com uma rede de apoio muito importante, como a Repórteres Sem Fronteiras e a Artigo 19”, diz Bianca, diretora executiva operacional e cofundadora do Nós.
Pedrina relata que fizeram boletim de ocorrência e que o programador conseguiu contato com o Facebook para recuperar a conta. Ela afirma que toda a equipe ficou preocupada e com receio de perder o conteúdo. Perceberam que foi um ataque político: “entendemos que naquele período estávamos incomodando”.
Depois do ocorrido a equipe começou a tomar alguns cuidados com proteção digital. Em conjunto com os Repórteres Sem Fronteiras colocaram protocolos de segurança e verificação de senhas para resguardar.
Outras organizações já sofreram ataques do tipo. O Alma Preta mudou o endereço oficial após ter a página hackeada. Em 2020, a Ponte Jornalismo saiu do ar após ataques cibernéticos. O site foi alvo de ataques e instabilidade durante 3 semanas antes de ser derrubado.
Apesar de Bolsonaro não estar mais na presidência, a base de apoio a ele nas redes sociais ainda é atuante e segue perseguindo opositores, como descobriu a professora e comunicadora Anair Novaes, 59.
Ela é apresentadora dos programas Educação & Outras Conexões e Cantando Lá de Casa, na rádio online Boa Música FM, no Parque Maria Helena, região do Capão Redondo, zona sul da capital paulista.
No último 12 de julho, Anair apresentaria um programa discutindo sobre como combater fake news, mas teve o site invadido e não conseguiu realizar a transmissão.
“Essa não foi a primeira vez que dentro do programa da rádio, quando levo assuntos polêmicos, nós sofremos ataques de hackers”, diz a comunicadora, que chegou a postar um vídeo no Instagram pedindo ajuda aos seguidores.
Anair conta que a rádio já havia sido vítima de outra invasão no começo de junho, que fizeram eles perderem gravações. O diretor geral da rádio, Rick Bastos, fez um boletim de ocorrência e conseguiu recuperar o material para retomar as transmissões.
Desde o ataque mais recente, Rick Bastos busca estratégias seguras para armazenamento da programação. Foi ele o responsável por levar Anair à programação da Boa Música FM, há pouco mais de três anos.
Por trabalhar na área da educação, ela leva ao programa temas como racismo estrutural, o papel da mulher negra nos territórios, questões jurídicas, economia, empreendedorismo, saúde e nutrição.
“Busco conectar todas as áreas do conhecimento e trazer especialistas que tenham domínio no assunto de interesse da população. Mas é um desgaste, quando crio a pauta para o programa, penso em levar a informação com uma linguagem simples e acontece esses tipos de invasões”.
Wesley Silvestre, 36, é ativista ambiental e líder comunitário na região do Jardim Apurá, no distrito da Pedreira, na zona sul. Por lá, ele atua na defesa de uma área verde de 580 mil m², às margens da Represa Billings, o Parque dos Búfalos.
O espaço, que deveria servir de lazer à comunidade, está abandonado pelo Poder Público, além de ser disputado por uma especulação imobiliária clandestina, que quer lotear a área.
Por conta dessa defesa, Wesley chegou a perder uma página no Facebook dedicada a notícias do bairro com mais de 15 mil seguidores e sofrer ameaças de morte.
“Tenho uma atuação há pelo menos 14 anos na questão do meio ambiente, tentando proteger as áreas de mananciais. Já sofri uma série de retaliações, desde sequestro de páginas até divulgarem meu telefone na internet”, relata Wesley.
Além de líder comunitário, ele também é presidente da organização social OEKOBR, que atua na promoção do saneamento ambiental.
A área visada por essa especulação clandestina é uma Zepam (Zona Especial de Proteção Ambiental), que deveria ser anexada ao parque. “Mesmo com o processo judicial que proíbe a entrada, existe esse avanço sobre a área”, explica o ativista.
Desde que as ameaças começaram, Wesley buscou formas de se proteger juridicamente. “Não tem mais como eu andar sozinho lá, não tenho tranquilidade. É complicado. Tenho sempre que estar me policiando, ter todo um cuidado de manejo com a internet, com o que faço, onde eu vou”, relata.
Wesley conta que já foi a uma delegacia para prestar depoimento e abrir investigações, mas não sabe qual a situação do processo. Além disso, faz acompanhamento psicológico e conta com uma rede de apoio para se manter protegido: “aparecer na mídia também ajuda”, comenta o ativista.
Danilo Pássaro, 30, também viu as ameaças tomarem uma proporção maior que as telas dos computadores. Em 2020, após liderar a manifestação das torcidas organizadas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Danilo foi citado por um “dossiê antifascista” criado pelo ex-deputado estadual Douglas Garcia (atualmente filiado ao Republicanos) e chegou a ter oito viaturas na porta de casa para receber uma intimação judicial.
O dossiê consistiu em uma lista de cerca de mil pessoas críticas ao governo Bolsonaro, mas que para o parlamentar integrariam uma “organização terrorista”. Além de nome, fotos e endereços de perfis nas redes sociais, o documento também continha outras informações pessoais, como endereços de casa, de trabalho, telefones e números de documentos de identificação.
“Nesse processo das manifestações de 2020 eu andava meio ligeiro, não que hoje eu não ande, eu venho de um lugar que a gente anda com o sensor aranha ligado o tempo inteiro, nunca foi diferente, sempre andei muito ligado, mas teve algumas semanas que eu precisei ter mais atenção”, conta Danilo, que é morador da Brasilândia, zona norte de São Paulo.
Danilo é historiador, teólogo e membro de torcida organizada desde os 13 anos. A relação com a igreja evangélica e com o futebol está presente nas ameaças que recebe, mas também na formação política dele.
Ele conta que foi por meio da Gaviões da Fiel que se aproximou de movimentos como os Sem Terra (MST) e os Trabalhadores Sem Teto (MTST). Em 2022, foi assessor da campanha de Sônia Guajajara (PSOL), atual ministra dos Povos Indígenas.
Como historiador, ele lembra que o fascismo usa o medo como ferramenta para intimidar os opositores. No contexto atual, por meio das redes sociais.
“Por muito tempo, as pessoas tiveram medo de usar camisas ligadas a partidos e movimentos, agora cabe a nós fazer com que eles tenham vergonha de se expressar. Mas é importante usar dos instrumentos legais para se proteger, eu mesmo poderia fazer as duas coisas”, conta o ativista, que recorreu ao boletim de ocorrência durante o episódio do dossiê antifascista em 2022.
OUTRO DOSSIÊ
Um dossiê semelhante foi produzido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública em 2020. O documento sigiloso continha informações de quase 600 servidores públicos federais e estaduais de segurança e foi entregue a órgãos como a Polícia Federal, o Centro de Inteligência do Exército, a Agência Brasileira de Inteligência e a Força Nacional.
Em maio de 2022, o Supremo Tribunal Federal declarou que o dossiê é inconstitucional.
Essas práticas de perseguição política e ideológica foram feitas por meio da chamada “Inteligência de Fontes Abertas” (ou Osint – Open Source Intelligence), que consiste na coleta, análise e tratamento de dados publicamente disponíveis na web para fins de inteligência.
Esses dados podem ser acessados livremente, sem a necessidade de pagamento ou sem que seja utilizado algum método ilícito (como algum tipo de invasão de sistemas protegidos). O problema é que estados e empresas têm se valido dessa metodologia para monitorar e vigiar cidadãs e cidadãos, o que implica sérias ameaças aos direitos humanos.
Apesar de não haver uma forma 100% eficaz de se proteger nas redes sociais, a enquete promovida pela Agência Mural e a Artigo 19 aponta que 90% dos entrevistados usam senhas fortes e autenticação de dois fatores.
Apesar desse cuidado, 46,3% responderam ter sofrido algum tipo de tentativa de invasão em suas redes sociais, e 41% afirmam ter sido alvos de ataques de robôs virtuais.
Buscando promover a integridade física e psicológica dos comunicadores e jornalistas, existem instituições que auxiliam no processo por justiça ou segurança jurídica de pessoas alvo de Trolls ou invasões.
A RSF (Repórteres Sem Fronteiras), por exemplo, trabalha em defesa do jornalismo livre, plural e em liberdade de expressão. Artur Romeu, 34, diretor do escritório da RSF na América Latina, afirma que esses ataques atingem principalmente jornalistas de pequenas redações.
“Diria que a gente atua mais com esses grupos (jornalistas independentes) do que com jornalistas de grandes redações. Se você analisar o perfil, são esses grupos que tendem a estar mais dispostos ou vulneráveis”, diz Romeu.
O diretor afirma que esse cenário não é algo de agora, que a violência contra jornalistas e ativistas sempre foi uma realidade no Brasil, sobretudo contra grupos que lutam em defesa de lideranças indígenas, sociais, ambientais e Direitos Humanos.
“A gente vive em país historicamente violento para pessoas que exercem atividades jornalísticas e outras atividades que envolvem a denúncia de abusos, tanto por parte da força de segurança quanto de outras estruturas de poder”
Artur Romeu, diretor da RSF na América Latina
Ele cita que o Brasil é o segundo país da América Latina com maior número de jornalistas assassinados desde 2010.
Romeu também comenta a necessidade de se prevenir, considerando o tipo de pauta e assunto que o conteúdo venha a ter: “É essencial mapear os riscos que estão colocados. Sobre o que é a pauta? Vai assinar a matéria ou não? Qual a probabilidade de ter algum tipo de represália? É melhor a pessoa estar no território quando a matéria sair?”.
“Com base nessa análise de risco, você pensa em um protocolo de proteção sob medida”, completa o diretor da RSF.
Além disso, Romeu afirma que parte dos jornalistas e comunicadores atuantes nos territórios convivem com um ambiente de censura e silenciamento, um processo de auto-censura sistêmico.
“Existem essas regras não ditas em determinados espaços, regiões e contextos. Mais que desertos de notícias, são zonas de silenciamento”, explica.
Em outubro do ano passado, durante a campanha eleitoral, a Repórteres sem Fronteiras realizou um monitoramento de insultos direcionados aos jornalistas; foram registrados mais de 3 milhões de publicações contendo ofensas contra jornalistas e veículos.
De acordo com o especialista em tecnologia e proprietário da empresa Opara, Junior Rocha, 37, os comunicadores precisam ter conhecimentos básicos para garantir a segurança pessoal, mas também das fontes.
“Não adianta nada você ter um cuidado avançado, como navegar numa rede Tor (software que proporciona navegação anônima e criptografada), mas seu computador ou celular não ter senha e você ser roubado em um boteco”, compara.
“Dependendo do tipo do conteúdo que você produz, é melhor que o seu computador nem saia de casa. As medidas básicas são para todos, a tela do seu celular tem que ficar desbloqueada o mínimo possível, por exemplo”.
Rocha também alerta sobre um cuidado com os arquivos que nem sempre é lembrado: o backup. Tendo os arquivos salvos é possível restaurar o material, em caso de invasões. “É a melhor política de segurança que temos. Tendo o backup consigo restaurar e colocar seu site no ar de volta em duas horas”.
Como citado anteriormente, as senhas fortes e a autenticação de dois fatores são duas ferramentas bem conhecidas de proteção, mas Junior atenta que mesmo elas possuem detalhes que podem “dar um upgrade” na eficiência.
“Quando for usar autenticação de duas etapas, prefira por aplicativo e não por SMS. O SMS pode ser interceptado. No caso das senhas, o ideal é que você nem saiba as senhas de redes sociais. Quem sabe as minhas é o gerenciador, a única senha que preciso saber é a dele”, conclui.
Rede de Proteção aos Jornalistas e Comunicadores
A Rede Nacional de Proteção de Jornalistas e Comunicadores é uma iniciativa do Instituto Vladimir Herzog e da Artigo 19 que tem como foco combater o avanço dos ataques e ameaças à liberdade de expressão. Saiba mais em: https://rededeprotecao.org.br
Artigo 19
Nascida no Reino Unido há 36 anos e 15 de existência aqui no Brasil, a Artigo 19 é uma organização não-governamental global que defende o direito à liberdade de expressão e de acesso à informação em todo o mundo por meio de ações de capacitação para ativistas, jornalistas e comunicadores, além do apoio às vítimas – inclusive jurídica – em casos de violações do pleno exercício de direito à liberdade de expressão. Saiba mais em: https://artigo19.org/
Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo)
A ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) é uma organização focada no trabalho e no crescimento profissional dos jornalistas e atua pelo livre exercício do jornalismo investigativo, da liberdade de expressão. Saiba mais em: https://www.abraji.org.br/
Ajor (Associação de Jornalismo Digital)
Organização da sociedade civil que representa iniciativas brasileiras de jornalismo digital. Presta apoio às associadas quanto à segurança jurídica e digital. Saiba mais em: https://ajor.org.br/
Repórteres sem Fronteiras
A Repórteres Sem Fronteiras atua pelo direito de todos terem acesso a informações livres e confiáveis. Algumas iniciativas vão de desbloqueios de sites censurados, o apoio à mídia online, o oferecimento de garantias de liberdade de opinião, até o treinamento aos jornalistas para garantir sua segurança física e digital. Saiba mais em: https://rsf.org/pt-br
SAFERNET
A SaferNet Brasil é uma associação sem fins lucrativos e referência no enfrentamento aos crimes e violações aos Direitos Humanos na Internet com ações de mobilização e articulação no plano nacional e internacional, a produção de conteúdos e tecnologias que combatem os crimes cibernéticos e acordos de cooperação com instituições governamentais. Saiba mais em: https://new.safernet.org.br/
CODING RIGHTS
A Coding Rights é uma organização feminista atuante com tecnologia sob uma perspectiva coletiva, transfeminista, decolonial e antirracista de defesa de direitos humanos. Usam a criatividade e o conhecimento hacker para instigar imaginários que desafiam as desigualdades de poder. Elas acreditam na defesa de uma democracia realmente participativa visando reduzir o distanciamento entre a política institucional e os debates, reflexões e manifestações que ocorrem no âmbito de movimentos sociais e ativistas. Saiba mais em: https://codingrights.org/
Intervozes
O Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social é uma organização que trabalha pela efetivação do direito humano à comunicação no Brasil. Para a organização, o direito à comunicação é indissociável do pleno exercício da cidadania e da democracia: uma sociedade só pode ser chamada de democrática quando as diversas vozes, opiniões, culturas e raças que a compõem têm espaço para se manifestar.
Saiba mais em: https://intervozes.org.br/
PPDDH (Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas)
Serviço que faz parte da Rede de Assistência e Proteção Social do MDHC (Ministério de Direitos Humanos e Cidadania) que oferece proteção a todos os defensores(xs)(as) de direitos humanos, comunicadores(xs)(as) e ambientalistas que estejam em situação de risco, vulnerabilidade ou ameaças por causa da sua atuação.
Saiba mais em: Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH)
Esta reportagem foi produzida com apoio da Artigo 19.
Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.
Jornalista com experiência em jornalismo online e impresso, tem publicações em diversos veículos, como Uol, The Intercept e é ex-trainee da Folha de S. Paulo no programa para jornalistas negros. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2014.
Jornalista apaixonada pela cultura brasileira. Pansexual, youtuber e streamer pelo canal LadoPan nas horas vagas. Correspondente do Campo Limpo desde 2021.
Jornalista, tenho um pezinho na música e sou curioso por tecnologia. Além de fazer carinho nos cães e gatos de rua, curto boas histórias, filmes, séries e memes, sou bom de garfo e gosto de andar por aí. Correspondente de Cidade Tiradentes
Jornalista, educomunicador e correspondente de São Mateus desde 2017. Amante de histórias e de gente. Olhar sempre voltado para o horizonte, afinal, o sol nasce à leste.
Após receber denúncias feitas pelo MDAPART sobre o empreendimento, entramos em contato com membros do movimento, com as empresas envolvidas, a prefeitura de Suzano e a Cetesb.
Para ter acesso aos documentos, agendamos uma vista aos processos relativos à Mogiana, na agência de Cetesb de Mogi das Cruzes. Tivemos acesso desde o inventário do casal Badra até a licença expedida pela agência ambiental.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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