Júlia Araújo, 17, mora no Capão Redondo, zona sul da capital. Terminou o Ensino Médio em escola pública ano passado e foi aprovada em estudos de gênero e diversidade na UFBA (Universidade Federal da Bahia), mas não teve condições de se mudar para Salvador (BA).
Começou a se preparar para o vestibular montando um grupo de estudos com os amigos e depois estudando no cursinho popular Carolina de Jesus. Atualmente, ela estuda sozinha para tentar entrar em uma universidade pública mais perto de casa.
A garota, que fez parte do movimento secundarista que ocupou as escolas estaduais no ano passado e retrasado, é crítica ao sistema público de ensino regular.
“Tenho uma amiga mais nova que estuda em escola particular. Ela me falava das coisas que aprendia e que eu sabia que não ia ter na minha escola, em nenhum ano. A quadra é precária, as salas são precárias”, diz Júlia.
A jovem também ressalta a deficiência de bibliotecas na oferta de livros que fazem parte da lista de leitura dos principais vestibulares. “Na biblioteca da minha escola não tinham alguns livros e o horário em que ela abria era ruim”, completa.
Acesso a livros no colégio também é um problema para Gustavo Gonçalves, 16, estudante do terceiro ano do Ensino Médio e morador do Grajaú, zona sul. “Falta gente para ficar na biblioteca. Tem um professor que vai segunda e terça-feira e às vezes abre a biblioteca na hora do intervalo”, comenta.
O rapaz, que faz cursinho popular na Rede Emancipa, movimento social de educação popular que organiza cursinhos comunitários, sonha em estudar geografia na USP (Universidade de São Paulo), instituição tradicionalmente bastante concorrida.
Para Gonçalves, as alternativas de acesso a livros fora do ambiente escolar são poucas. De acordo com dados de 2015 do Infocidade, site da Prefeitura de São Paulo, a Prefeitura Regional Campo Limpo, onde está localizado o Capão Redondo, possui oito bibliotecas públicas.
Já na Capela do Socorro, regional na qual está o Grajaú, existem seis bibliotecas. As duas regiões são as que têm o maior número de habitantes com idade a partir de 15 anos.
O metalúrgico Alan da Silva, 21, é outro crítico da qualidade da educação. “O ensino regular público é muito defasado. Os alunos não saem em pé de igualdade com quem teve formação em escolas particulares. Desse jeito não tem como entrar nas melhores universidades”, argumenta.
Silva é estudante do 5ª semestre de letras na USP. Morador da Vila Sabrina, zona norte, sempre estudou em escola pública. Durante o Ensino Médio, conciliou as aulas normais com o emprego de operador de telemarketing e o cursinho pré-vestibular, que fazia aos sábados, em período integral, no Emancipa da zona norte.
Hoje, Silva é professor voluntário no mesmo cursinho onde se preparou para o vestibular.
Segundo o Irbem 2017, a satisfação média da população de São Paulo em relação à igualdade no acesso à educação é baixa, de apenas 3,3. Essa avaliação da população vem caindo ao longo dos anos, já que o Irbem 2016 apresentou nota 3,5 e o anterior, 4.
Júlia acredita que as taxas cobradas para fazer as provas também são limitantes. “Agora, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) custa R$ 82. Você ainda tem a isenção. Mas, e se você não consegue a isenção? Vai pagar os 82 reais?”, questiona.
Além disso, a jovem cita que há as taxa das outras provas, como a Unicamp, a Unesp e a Fuvest, responsável pelo vestibular da USP, por exemplo, que possuem valores superiores a R$ 100 cada.
“Se está difícil arrumar emprego, se está difícil para a gente arrumar condução, imagine para pagar R$ 82 numa prova”, diz Gonçalves. O rapaz espera conseguir a taxa de isenção do Enem e de outros vestibulares.
O aumento da taxa do ENEM foi de 20,5% em relação ao ano passado.