Quando a vendedora Janice Santos, 46, começou a passar mal, sua família prontamente ligou para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) por meio da chamada gratuita para o número 156. Ao solicitarem a ambulância com urgência, ouviram da atendente que “são priorizados os casos mais graves”.
Foram três dias de tentativas para chamar pelo socorro que nunca apareceu. A vendedora foi internada com um quadro grave de embolia pulmonar.
O socorro começa com a chamada gratuita feita para o número 192, que são recebidas por centrais de regulação e encaminhadas para os mais de 180 pontos de atendimento em todo o país.
Janice mora na zona norte de São Paulo, região que, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), conta com 24 ambulâncias do Samu para atender mais de dois milhões de habitantes distribuídos em uma área de 296 km².
Esse número só não é menor do que nas regiões sudoeste e centro-oeste da capital: as duas possuem, cada uma, 23 unidades para atender mais de um milhão de habitantes.
LEIA MAIS
– Aplicativo de saúde da Prefeitura não decola e é reprovado por usuários
– Conselho de saúde de Pinheiros defende abrir UBSs para população de fora
Já a zona sul conta com uma frota de 25 ambulâncias do Samu para mais de dois milhões de habitantes. A zona leste é a região com mais unidades: são 26 para atender três milhões de habitantes.
Resumidamente, cerca de 100 mil habitantes precisam dividir uma única ambulância na cidade de São Paulo.
De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, isso acontece porque “o número de ambulâncias respeita a portaria do Ministério da Saúde, que estabelece um veículo a cada 100 mil habitantes”.
A assessoria também aponta a “dificuldade em contratação de recursos humanos” como um dos fatores para a cidade ter apenas 122 ambulâncias do Samu.
O número reduzido da frota reflete o dado obtido pelo jornal Agora via Lei de Acesso à Informação, mostrando que, até abril de 2017, o Samu deixou de atender uma em cada três ocorrências registradas em sua central de atendimento. Foram 113.882 chamadas de socorro, onde apenas 75.047 foram atendidas.
CUSTOS
De acordo com a Lei Orçamentária Anual (LOA), o custo da Prefeitura com operação e manutenção do órgão em 2017 foi de R$ 78.515,512. Para 2018, o valor é de R$ 79.739.848,28.
Em nota, o Samu esclarece que “o valor informado anteriormente [R$ 87.359,581] à reportagem para 2018 era o previsto, porém já foi revisado e atualizado”. O recurso é destinado para a operação e manutenção do órgão.
Em 2017, o Ministério da Saúde anunciou a liberação de R$ 467,6 milhões para a compra de novas ambulâncias do serviço em todo país.
DEMORA NO ATENDIMENTO
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, o tempo médio de atendimento do Samu, saindo da base até a chegada do local, é de 16 minutos, uma média calculada nos últimos 30 dias.
Assim como Janice Santos, a vendedora Patrícia Oliveira, 28, também esperou pela atendimento que não veio. “Liguei no 192, o atendente me avaliou e disse que meu caso não era grave. Tive que pegar uma carona e ir até o hospital. Chegando lá precisei ficar em observação, internada”, conta.
Já na zona oeste, Célia Gonçalves, 42, preferiu pegar um táxi para levar um funcionário que estava passando mal para o hospital.
“Ele estava com falta de ar devido a um medicamento que tinha tomado. Chamamos o Samu imediatamente. Pensamos que, por ser um bairro valorizado, a ambulância chegaria rápido, mas aguardamos quase trinta minutos e nada. Pela demora, preferimos pedir um táxi que chegou em oito minutos”, explica.
Durante o período de produção desta reportagem, apenas uma pessoa afirmou que conseguiu receber ajuda da equipe de serviços do Samu.
VEJA TAMBÉM
– Apenas Santo Amaro tem atendimento pediátrico em todas as UBSs
– Marsilac lidera número de UBSs em SP, mas faltam hospitais
“Faz dois meses que precisei do Samu. Foi muito rápido o atendimento, mas acho que chegaram rápido porque foi a polícia que chamou”, conta Júlia Prado, estudante de 25 anos e moradora da zona norte.
Para minimizar essa demora, a Secretaria Municipal de Saúde afirma que pretende implementar programas como o “Samu 192 – Cuidado Básico”, para ampliar para 75% o atendimento de demandas de baixa prioridade, e o “Samu 192 – Cuidado Prioritário”, para atender, em até 12 minutos, pelo menos 50% dos casos de alta prioridade (acidente vascular cerebral, infarto agudo do miocárdio e trauma).
http://32xsp.org.br/2017/09/11/inaugurada-ha-oito-meses-ubs-no-jardim-romano-continua-fechada/