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Amigos resgatam jogo de botão e criam liga amadora em Poá, na Grande SP

Por: Egberto Santana e Leonardo Siqueira

Foi assistindo um vídeo de campeonato de futebol de botão no Youtube que o massoterapeuta Stenio “Kbral”, 43, começou a procurar por algo semelhante na região onde vive, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo.

A pesquisa pelo Instagram levou ele até o perfil de Flávio Pereira, 40, que para sua surpresa, é de Poá, cidade vizinha. Logo depois, também pela rede social, os dois encontraram o bancário Luiz Felipe, 35, que se juntou ao trio para formar o Alto Tietê Futebol de Botão.

“A intenção era juntar os botonistas daqui da região. A gente sempre via ligas em São Paulo ou no ABC, acabou que o pessoal do ABC veio pra cá jogar”, comenta Luiz Felipe. Ele foi o responsável pela ideia do logo da liga com as cores vermelho e azul das cidades de Suzano e Mogi, e o branco de Poá.

Desde os 13 anos, quando visitava os primos na parada de Taipas, zona norte de São Paulo, Kbral nunca deixou de jogar o esporte. O tempo foi passando e enquanto adulto, se reunia com amigos a cada dois meses para jogar um pequeno campeonato. “Hoje, graças a Deus, o contato está sendo sempre.”

Liga amadora de Futebol de Botão do Alto Tietê reúne jogadores de diversas idades para disputar torneios mensais @Leonardo Siqueira / Agência Mural

A paixão permanece registrada na página do Instagram “Gol de Botão”, criada para divulgar os melhores lances dos campeonatos.

Flávio também pegou o gosto pelo esporte durante a infância e seguiu com a paixão enquanto os anos passavam. “Muitas vezes, faço meus próprios times, esse que vou jogar hoje, eu que fiz”.

Na pandemia, Flávio viu a oportunidade de reviver as memórias ao se encontrar com os colegas em páginas relacionadas com o esporte, como o perfil da Liga de Guarulhos, onde Felipe fez um comentário e se aproximou de Kbral e Flávio.

Luiz Felipe foi quem arranjou os primeiros espaços para sediar os torneios da liga. O primeiro foi na Fava Burguer, espaço cedido por um amigo, para os jogos de treino, em novembro de 2021. Eram poucas pessoas, todos de máscara, em meio à pandemia de covid-19.

Já em dezembro do mesmo ano, eles se mudaram para um espaço maior, o restaurante Art na Cozinha, onde a liga se reúne até hoje, também indicação de um amigo de Felipe e dono do estabelecimento. No intervalo do torneio, os participantes aproveitam para consumir a refeição no local.

O que é e como funciona o Futebol de Botão

A modalidade foi criada pelo pintor, escritor e compositor brasileiro Gerald Décourt no ano de 1930. É jogada entre duas pessoas separadas por uma mesa lisa com um desenho representando o campo de futebol. 

Os toques são dados pelos participantes usando uma palheta, movimentando os jogadores representados por botões, que chutam a bolinha de microfibra ou a pastilha. 

O jogo é dividido em quatro modalidades: 1 toque, 3 toques, 12 toques e tem o Dadinho, onde a bolinha é substituída por um dado.

Na década de 1970, o esporte teve o seu boom no Brasil, se tornando um dos principais passatempos de jovens da época. 

Em 1988, foi reconhecido oficialmente como esporte pelo Conselho Nacional do Desporto em 1988 e hoje já existem diversas ligas profissionais e amadoras pelo país.

De acordo com o site da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, existem 21 Federações catalogadas, espalhadas por diversos estados do Brasil.

Organização

Hoje, o grupo conta com 35 membros rotativos, todos homens. Em cada evento, cerca de 12 a 16 membros participam, a fim de possibilitar a criação das chaves e divisões das partidas.

Para participar da liga, a comissão cobra uma taxa de R$ 25 para arcar com os custos das mesas, premiações e bolinhas. Cada campeonato é jogado com pastilhas ou bolinhas feitas de microfibra.

Futebol de Botão se popularizou no Brasil em 1970 @Leonardo Siqueira / Agência Mural

Os participantes jogam a modalidade 12 toques, conhecida como Regra Paulista. Nesse modelo, dois jogadores se enfrentam e cada um pode dar 12 toques até o chute.

A Liga do Alto Tietê possui cinco mesas ativas, e ao grito de Luiz Felipe todas as partidas começam, com 10 minutos para os dois tempos e um intervalo de no máximo três minutos.

Diferente da Champions League, os que perderem na primeira fase não são eliminados, mas caem para a liga prata e, caso percam novamente, vão para a liga bronze.

De onde vem esse esporte?

Já ouviu falar em Celotex? Esse era o material das mesas de futebol de botão na década de 1930 e foi justamente o primeiro nome do esporte. As pessoas pegavam o botão do paletó, passavam uma lixa e iam para a partida.

Mas a brincadeira tomou forma em 1988, quando o Futebol de Botão foi reconhecido como esporte pelo Conselho Nacional do Desporto. Na época, três regiões se diferenciavam nas modalidades identificadas pelo conselho: paulista, carioca e baiana.

Hoje, o esporte é dividido e organizado entre ligas amadoras e profissionais, espalhadas por todas as regiões do país.

Atualmente, são mais de 2.900 jogadores profissionais ativos, segundo a CBFM (Confederação Brasileira de Futebol de Mesa).

De acordo com José Jorge Farah, presidente da CBFM e da Federação Paulista de Futebol de Mesa, a popularidade do esporte cresceu na pandemia, chegando a dobrar o número de adeptos.

Para ele, o aumento foi maior que no período de 1970 até 1980, quando a prática alcançou mais popularidade, e os botões passaram a ser vendidos nas bancas de jornal. Mas o número de botonistas oficiais continua com o crescimento tímido.

“Quem sabe as ligas venham a se empolgar e muito mais ligas amadoras filiem-se às federações estaduais”

José Jorge Farah, presidente da CBFM (Confederação Brasileira de Futebol de Mesa)

Todas as idades se divertem

Vicente Rodrigues, 61, foi o terceiro lugar da Liga Prata, na edição do dia 29 de abril, onde a Agência Mural esteve presente.

O professor de informática conta que começou a jogar Futebol de Botão em 1974 contra o vizinho, em Mogi das Cruzes. Vicente relembra que usava o Palmeiras da formação de 1973 e o vizinho rivalizava com o Santos de Pelé.

“Na minha época, jogava no chão da cozinha (de cimento vermelho) ou sala (de tacos) de casa, com o meu primeiro time bicampeão de 1972 e 1973, o Palmeiras. Fazíamos a marcação do campo com giz.”

Para Vicente, o esporte é uma espécie de terapia ocupacional @Egberto Santana / Agência Mural

Os três primeiros de cada liga recebem troféus e medalhas, deixando o ambiente mais competitivo, pois o participante tem mais chances de vitória, mesmo que em outra competição.

No evento, é possível perceber uma forte presença de homens na faixa dos 30 a 40 anos. Vicente se destaca como o homem mais velho da turma e acredita que os mais jovens não conhecem o esporte, mas pegam o gosto quando começam a praticar.

Normalmente, os pais, tios ou avós levam os mais novos para conhecer os torneios. Foi o caso de um dos jogadores do último evento, Rafael, 14, estudante do Campo Limpo.

O garoto iniciou no Futebol de Botão aos 7 anos, por influência do pai, que também estava presente no torneio e retornou ao esporte de infância após conhecer campeonatos de outras regiões.

“Acho legal porque é um lugar muito amigável. Não tem discussão, todo mundo joga, sem brigas, no fair play, entendeu? Não tem confusão igual tem em lugar de profissionais, mais competitivos. Aqui é tudo amigo”, comenta Rafael.

A gíria usada por Rafael para descrever a experiência da Liga do Alto Tietê significa, na tradução para o português, “jogo justo”, mas para os jovens, designa algo a mais: um jogo limpo, tranquilo, com espírito esportivo, divertido.

Essa também é a energia transmitida dentro do local, onde é possível ouvir brincadeiras, como chamamentos de freguês ou vice em referência aos resultados anteriores.

Na partida final, todos se reúnem para assistir, com direito a narração de Luiz Felipe, que filma com o celular e a transmite ao vivo no Instagram da Liga.

Os vencedores recebem troféus, medalhas, posam para foto e voltam para a casa esperando pelo próximo torneio.

“O mundo está tão perdido que você tirar um tempinho para vir aqui e esquecer os problemas, e focar só em brincar…Cara, é divertido demais”, reflete Cabral.

O grupo se reúne mensalmente aos sábado no restaurante Art na Cozinha na Av. Vital Brasil, 1165 – Vila Monteiro, Poá.

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