Mais antigo que a própria cidade, Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, é o local com o melhor percentual de unidades básicas de saúde que oferecem atendimento pediátrico, em relação ao total de UBSs no município.
A prefeitura regional possui 100% de atendimento, e supera em 7,5 vezes o índice do pior colocado dentre os 96 distritos, Sapopemba, na zona leste, com 13,33%.
Além de Santo Amaro, outras quatro regionais possuem pediatria em todos os postos de saúde: Butantã (zona oeste), Móoca (centro-leste), Santana/Tucuruvi e Vila Maria/Vila Guilherme (zona norte).
O indicador é um dos 28 analisados pelo Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, elaborado pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Instituto Bernard van Leer, lançado nesta terça-feira (5).
Há 30 anos, a dona de casa Diana Marche, 49, frequenta a UBS Santo Amaro, na rua Paulo Eiró, desde que levava sua filha Talita Sabrina nas consultas pediátricas, quando a unidade se localizava em outro endereço, na rua da Matriz, também em Santo Amaro. Hoje a filha, com os mesmos 30 anos, também leva seus três filhos para serem acompanhados no posto de saúde.
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“Sempre gostei muito daqui, o atendimento é excelente. Morei em Carapicuíba [na Grande São Paulo] por um tempo e lá era bem difícil de fazer o acompanhamento dos meus filhos. Agora que voltei a morar ao lado do Terminal Santo Amaro, estou fazendo a ficha do meu filho mais novo, que tem três meses, para que ele receba o mesmo atendimento que os irmãos tiveram”, explica Talita.
As duas gerações de mães afirmam que, além de o tempo de espera pela consulta ser relativamente rápida, em torno de um mês, outros serviços como medicação e vacinas são devidamente atendidos.
“Sempre tem de dois a três pediatras atendendo, além do clínico. Ano passado, o doutor Martinelli, que atendia minha filha e meus netos, se aposentou. Ele era ótimo, cuidou da minha família”, relembra a avó Diana.
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Por ser uma referência, até casais que tratam os filhos na rede particular vão à UBS para retirar medicamentos gratuitos ou usufruir das vacinas. No dia em que a reportagem visitou a unidade, na última quinta-feira (30), um casal esperava ser chamado para colocar a carteirinha de vacinação da filha de um ano em dia.
“Algumas vacinas que são mais caras nós optamos por vir até aqui para receber, ou aquelas em que nossa filha tem menos reação. Como aqui é tranquilo e próximo de casa, fazemos esse revezamento com o convênio”, esclarece o pai.
Outra mãe que aguardava ser atendida era a comerciante Elaine Ribeiro, 30, que acompanhava sua animada filha de três anos. Ela frequenta o posto de saúde desde o nascimento da pequena, e também elogia a unidade, porém com algumas ressalvas.
“O atendimento médico é ótimo, não tenho problemas para marcar, porém o atendimento da recepção deixa muito a desejar. Outro problema é que eles não marcam consultas com hora marcada, como todo o SUS faz; se estiver marcado para a tarde, chegamos 12h e saímos lá pelas 15h, depende da hora de chegada. Já reclamei. Dizem que vão melhorar isso, mas até agora nada”, argumenta.
A UBS estava bastante tranquila na tarde da última quinta-feira (30), com quatro mães aguardando serem atendidas. O corredor de procedimentos tinha apenas duas pessoas na fila, que logo deixaram o ambiente vazio. Elaine, a mãe que aguardava, conta que a UBS era mais cheia, mas depois que delimitaram as áreas de atendimento o fluxo diminuiu.
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Segundo Marisa Villi, integrante do GT da Criança e do Adolescente da Rede Nossa São Paulo, a delimitação da área de atendimento pode ser uma das explicações para a diferença nos números entre o melhor e o pior distrito.
A especialista acredita que uma das soluções seria uma melhor observação na distribuição de demanda no momento de encaminhar os médicos para cada região.
“Acredito que cabe ao poder público fazer uma análise mais aprofundada de como dividir esses médicos. Se tem uma região que tem mais olhar porque ela tem mais? É a quantidade necessária? Talvez também encaminhar pessoas de uma região para outra, isso pode ajudar”, assegura.
“Estamos notando uma baixa em pediatras nas UBS em todo o Brasil, muitas vezes por falta de condições de trabalho do profissional, por ele não conhecer a demanda da região. Isso impacta no tempo de espera da criança, que fica sem atendimento preventivo, fica mais doente e desencadeia todos os outros problemas que nossos indicadores demonstram”, conclui.