Dois dias antes do natal de 2019, o prefeito de Osasco, Rogério Lins (Pode), postou um vídeo em que anunciou o congelamento no preço da tarifa dos ônibus no município.
“Quero comunicar uma importante decisão. Todo fim de ano acontece reajuste no transporte público, e neste ano, decidimos que não haverá reajuste”, avisou.
Apesar do tom de comemoração, Osasco cobra mais do que a capital desde 2017. Atualmente, são R$ 4,50. Em 2017, a tarifa chegou a ser R$ 0,40 mais cara do que a cobrada para os paulistanos. A situação não é única na Grande SP.
Cobrar mais do que São Paulo na passagem de ônibus é realidade em boa parte da região metropolitana. Levantamento da Agência Mural aponta que 17 das 39 cidades na Grande São Paulo praticam valores acima de R$ 4,40.
A maioria delas anunciou o congelamento da tarifa este ano, em que haverá disputa das eleições municipais. Cinco delas aumentaram o preço como Caieiras e Franco da Rocha, que se tornaram as tarifas mais caras da Grande SP – R$ 4,80.
">Tarifa de ônibus na Grande São Paulo | |
">Cidade | ">Tarifa |
">Caieiras | ">R$ 4,80 |
">Franco da Rocha | ">R$ 4,80 |
">São Bernardo do Campo | ">R$ 4,75 |
">Mairiporã | ">R$ 4,70 |
">Diadema | ">R$ 4,65 |
">Cajamar | ">R$ 4,60 |
">Francisco Morato | ">R$ 4,60 |
">Biritiba Mirim | ">R$ 4,50 |
">Carapicuíba | ">R$ 4,50 |
">Cotia | ">R$ 4,50 |
">Itapevi | ">R$ 4,50 |
">Mogi das Cruzes | ">R$ 4,50 |
">Osasco | ">R$ 4,50 |
">Arujá | ">R$ 4,50 |
">Santana do Parnaíba | ">R$ 4,50 |
">São Caetano do Sul | ">R$ 4,50 |
">Guarulhos | ">R$ 4,45* |
">Ferraz de Vasconcelos | ">R$ 4,40 |
">Itaquaquecetuba | ">R$ 4,40 |
">Jandira | ">R$ 4,40 |
">São Paulo | ">R$ 4,40 |
">Poá | ">R$ 4,40 |
">Ribeirão Pires | ">R$ 4,40 |
">Santo André | ">R$ 4,40 |
">Suzano | ">R$ 4,40 |
">Barueri | ">R$ 4,35 |
">Mauá | ">R$ 4,30 |
">Guararema | ">R$ 4,25 |
">Rio Grande da Serra | ">R$ 4,20 |
">Santa Isabel | ">R$ 4,20 |
">Embu | ">R$ 4,00 |
">Taboão da Serra | ">R$ 3,80 |
">Itapecerica da Serra | ">R$ 3,75 |
">Embu-Guaçu | ">R$ 3,50 |
">Pirapora do Bom Jesus | ">R$ 0 |
">Vargem Grande Paulista | R$ 0 |
">Juquitiba | ">Só possui ônibus intermunicipal. |
">Salesopólis | ">Só possui ônibus intermunicipal. |
">São Lourenço da Serra | ">Só possui ônibus intermunicipal. |
">*Em Guarulhos são três tipos de passagem. Para Bilhete Único R$ 4,45. Quem paga em dinheiro segue com o mesmo valor: R$ 4,70, e R$ 4,94 no Vale Transporte pago pelas empresas |
Um dos motivos alegados pelas gestões para cobrar mais é que as prefeituras não têm condição de pagar um valor extra para compensar os gastos das empresas de ônibus – o chamado subsídio.
Em 2020, por exemplo, o valor do subsídio que a prefeitura de São Paulo separou para o sistema foi de R$ 2,5 bilhões – o valor é menor que um ano antes – R$ 2,9 bi. O recurso é utilizado para compensar despesas das empresas com a operação.
Além de Osasco, as outras cidades da região também anunciaram manter a mesma tarifa, casos de Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Santana de Parnaíba e Cotia. “Em 2020 não tem aumento”, divulgou o prefeito Rogério Franco (PSD).
Moradora de Osasco e estudante de matemática, Mariana Sarmento, 43, diz acreditar que a prefeitura deveria baixar a tarifa, não comemorar por não aumentá-la. “No ano passado, o preço aumentou duas vezes. Primeiro para R$4,30 e depois para R$4,50”, relembra”. “A tarifa é maior que em São Paulo, tem carros piores e trajetos menores”.
Osasco implantou o Bilhete Único no final do ano passado. No entanto, o benefício ainda não atende integração entre ônibus e trens.
DIFERENÇAS
Entre 2017 e 2019, um morador que usa ônibus todos os dias para ir trabalhar em Osasco gastou R$ 500 a mais em tarifas do que um morador de São Paulo, somando apenas a diferença de preço entre as cidades
Márcio Damasceno, 36, lojista na cidade de Cotia, comemorou a estabilização no preço, mas diz que o prefeito deveria considerar os mais pobres. “Tinha que fazer um programa de gratuidade para pessoas de baixa renda, e as desempregadas, tanto para os intermunicipais como os municipais’, reivindica.
No município, a passagem chegou a aumentar R$ 1,30 em quatro anos.
Em São Paulo, o reajuste nas tarifas foi de R$ 0,10. O valor de R$ 4,40 foi pautado pela Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo ao CMTT (Conselho Municipal de Transporte e Trânsito) sob o argumento de que aumentaram os custos do transporte público no município.
O reajuste foi de 2,33%, abaixo da inflação anual medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que fechou em 4,3% ano passado.
REDUÇÃO DE PASSAGEIROS
Segundo dados da Pesquisa Origem e Destino realizada pelo Metrô, 24,9% dos deslocamentos diários realizados são feitos por ônibus na Grande SP.
Entre 2016 e 2019, a SPTrans apontou a redução de 760 mil passageiros. Para Kelly Fernandes, especialista em mobilidade urbana do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a qualidade na operação e o aumento no preço da passagem levaram à queda.
Uma das motivações é a substituição dos ônibus pelo transporte a pé ou de bicicleta, como alternativa para diminuir os gastos no orçamento familiar. Também citou o uso de transporte por aplicativos.
Kelly ainda reforça que o diagnóstico não é restrito a São Paulo, sendo que efeitos similares podem ser observados em outras cidades da região metropolitana, como Osasco e Guarulhos.
Há três tipos de passagem nos ônibus guarulhenses. Com Bilhete Único são R$ 4,50. Quem paga em dinheiro tem que desembolsar R$ 4,70. No caso do vale transporte, a tarifa é de R$ 4,94 – valor pago por empresas e descontado 6% dos trabalhadores.
Para a especialista, a Grande São Paulo precisa de instrumentos de planejamento e acordos entre as prefeituras e o governo do estado para reduzir os preços. “Na prática, muitas pessoas têm sido prejudicadas pelo descompasso entre os diferentes órgãos de planejamento e gestão que são responsáveis pelo sistema de transporte nas diferentes cidades”.
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SISTEMA E TRANSPARÊNCIA
Na Grande SP, a forma mais comum encontrada pelos municípios para ofertar serviços de transporte coletivo para os cidadãos é a concessão, por meio de licitação, onde as prefeituras concedem a operação dos serviços para empresas do setor.
Em sua maioria, os editais de licitação definem o tamanho da rede, o tipo de veículos, a forma de remuneração das concessionárias, a taxa interna de remuneração das empresas (TIR), onde fica especificada a taxa de lucros destas e, em alguns casos, as regras para a realização de reajustes tarifários.
Os municípios gerenciam os aumentos no preço da passagem de acordo com o contrato de prestação firmado com as empresas que tem por base o edital. No entanto, a falta de transparência dos custos operacionais, registrados em planilhas de custos, é um problema a ser enfrentado, segundo a consultora do Idec.
“Os custos registrados nem sempre representam a realidade dos valores operacionais, que podem ser superfaturados ou não levar em conta a redução do custo operacional mediante otimização da operação, redução de custo gerada pelo aumento da experiência do operador”, exemplifica Kelly.
“Com o distanciamento das gestões municipais no monitoramento e fiscalização da operação é um fator que contribui para corrupção”.