Em um pequeno portão localizado na rua Tenente Luiz Fernando Lobo, em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, fica o espaço cultural Aldeia Satélite, mantido de forma independente desde 2015 por três grupos teatrais da região: Ansur, Alucinógeno Dramático e Ato Real Fora do Tempo.
Até março do ano passado, o local oferecia atividades gratuitas como apresentações teatrais, saraus, exibição de filmes e oficinas de teatro, música, literatura, dança e cinema. Mas, com a pandemia da Covid-19, elas foram interrompidas.
“Nossos eventos costumavam variar de mês para mês. Quando tínhamos uma temporada de espetáculos, o espaço funcionava todos os sábados (e, às vezes, às sextas-feiras) no período da noite”, comenta Mariana Pitta, 27, que faz parte do Ansur.
Sem novos eventos entre março e novembro, os administradores do Aldeia Satélite criaram, no final do ano, o “Aldeia Bunker”. O projeto fez parte de uma mostra que ocorre anualmente no espaço no mês de dezembro, mas que precisou passar por adaptações em 2020.
“O Aldeia Bunker foi criado devido à pandemia. Em alguns dias, tínhamos o espaço aberto com público reduzido e distanciamento social; em outros, as apresentações eram gravadas e postadas em nossas redes sociais”, conta Rafaela Terriaga, 27, que também integra o grupo Ansur.
Com o slogan “isole-se na arte”, foram realizadas cinco apresentações em três dias de evento. Todas tiveram a presença do público reduzida a dez pessoas e os ingressos, no valor de R$ 15 cada, foram usados para custear os artistas.
“O objetivo era, além de movimentar o espaço, engajar os artistas que foram obrigados a reduzir quase que totalmente suas produções”, complementa Rafaela.
Ivan Neris, 44, do grupo Ato Real Fora do Tempo, considera que o evento atingiu as expectativas, especialmente em relação ao público. “Conseguimos atingir parte do público que ficou órfão do contato com as artes durante o fechamento do espaço”, afirma. “Parte do nosso público em geral não frequentava saraus e eventos culturais; seu contato com a arte se dá na Aldeia Satélite.”
Segundo Claudemir Darkney Santos, 45, membro do Alucinógeno Dramático e um dos administradores do Aldeia Satélite, o espaço cultural se mantém principalmente pelo esforço dos três grupos teatrais que bancam o espaço com dinheiro próprio.
“Manter o local fechado tirou o pouco que os eventos colaboram nas despesas e só não fechamos a porta definitivamente porque ter nosso espaço é um sonho muito antigo”, relata. “Durante a pandemia, nosso aluguel foi reajustado e realmente a cada dia que passa manter o espaço é uma batalha maior.”
De acordo com dados do portal Observa Sampa, da Prefeitura de São Paulo, São Miguel Paulista tem 5,60 equipamentos públicos de cultura (municipais e estaduais) por cada 100 mil habitantes. No entanto, não há cinemas, teatros ou museus no distrito. Não há dados sobre a quantidade de espaços independentes na região.
CULTURA REMOTA EM 2021
Em 2021, o Aldeia Satélite segue com o projeto Aldeia Bunker, promovendo apresentações de música, literatura e artes cênicas. A primeira atração será na sexta-feira (12), às 21h, com a participação de poetas convidados no evento “Poéthicas: do poema que floresce à poesia que o alimenta”.
“O Aldeia Bunker deixa de ser um tema da mostra DezArtes para ser um projeto abrangendo teatro, poesia e música. A presença de público, reduzido ou não, nestes eventos vai depender da situação pandêmica que nos encontrarmos”, afirma Claudemir.
“De qualquer forma, estamos nos preparando para realizar todos os eventos de forma remota. Esperamos que as pessoas se cuidem, que a vacinação em massa aconteça e que este momento vire uma página em livro de história para reflexão sobre nossa existência”, finaliza.
SERVIÇO:
Aldeia Satélite Espaço Cultural
Rua Tenente Luiz Fernando Lobo, 118 – São Miguel Paulista, São Paulo – SP
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