Aos oito anos, Felipe Akamine Rodrigues já tem um título que o enche de orgulho: autor. O jovem morador do Parque Cecap, em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, expôs sua última obra na Bienal do Livro do município, que ocorre até o próximo dia 24. Nas páginas estão impressões, ideias e análises do escritor mirim sobre a temporada de 2023 do seu time do coração, o Palmeiras.
“Desde 1917, não sei bem, porque não era nascido, Palmeiras e Corinthians entraram em campo pela primeira vez. Histórico”, diz um trecho do livro “Minha paixão com o Palmeiras: temporada 2023”, embasado em uma pesquisa realizada pelo jovem autor. “Para você que não sabe, Palmeiras x Corinthians são rivais tipo Naruto x Sasuke (…)”.
Mal o juiz apitava o fim das partidas e ele corria para o computador para registrar suas impressões, com marcas pessoais de linguagem. A obra começou a ser escrita no meio do ano passado e é composta por 14 capítulos, nos quais o menino aborda os auges e os declínios de seu time a cada jogo.
Com a obra, Felipe integrará a 3ª Bienal do Livro de Guarulhos, na área de exposição reservada para autores guarulhenses. Ele estará no evento no próximo sábado (23), das 14h às 16h. O título, no entanto, foi lançado oficialmente em janeiro, na unidade de Guarulhos da Livraria da Vila.
Histórias de um escritor mirim
Engana-se quem pensa que essa é a primeira vez que Felipe se dedicou a escrever diversas páginas sobre um tema. Desde os três anos ele já demonstrava interesse pelo mundo das letras. “Quando tinha quatro anos, ele gostava de grampear folhas e dizer que estava fazendo um livro”, lembra a mãe do autor, Liliane Akamine, 41. “Ele escreve exatamente como ele fala. O linguajar dele é muito próprio”.
Aos seis anos, quando terminou a educação infantil, Felipe quis entregar um presente para a secretária da escola onde estudava, Helena Salomão, de quem o menino gostava muito. E qual foi o presente? Um livro! O manuscrito, chamado “Você acredita em fadas?” narra a história de Helena como uma fada que ele encontrou pelo caminho.
“Ela me ajudou muito nos primeiros anos de prézinho e foi muito legal comigo. Eu admiro ela muito. Até que chegou um dia que eu falei: ‘vou escrever um livro pra ela’. Foi de coração mesmo”, disse Felipe sobre o presente, que é guardado até hoje por Helena.
Desde aquele primeiro livro, o menino conta que gosta de brincar e se divertir escrevendo histórias contadas e criadas por ele, como um meio de expressar emoções. Em uma das publicações, chamada “Guerra dos planetas”, corpos celestes muito poderosos competem entre si. No final, tudo se resolve em paz: “nunca obrigue os outros a fazer sua vontade”, conclui o autor após o conto.
A mãe de Felipe trabalha em uma editora e influencia o filho para o mundo da leitura, seja pelo ato de ler na frente dele ou de presenteá-lo com livros. No entanto, ela garante que não foi preciso exigir leitura ou negociar esse hábito, fazendo trocas, por exemplo, entre páginas lidas e tempo jogando vídeo-game. Ele tem acesso aos dois recursos, com equilíbrio.
“Pretendo escrever mais histórias. Eu gosto das reações das pessoas quando leem meus textos. Isso me incentiva mais”, disse o menino.
Leitor assíduo
Aos oito anos, Felipe tem uma coleção de livros para fazer inveja. A maioria foram presentes da mãe, que compra os títulos para ele e aproveita programas gratuitos de distribuição de obras, em especial da escola onde ele estuda, de administração municipal.
Para Liliane, é importante que haja distribuição de livros para estimular as crianças a embarcar no universo da leitura. No entanto, como nem sempre as obras enviadas pelas escolas são do gosto das crianças, ela afirma que os pais também devem fazer a “lição de casa” e acompanhar os interesses dos filhos na hora de ler.
“O Felipe já me falou: ‘às vezes as pessoas dão um livro chato para as crianças’. Então temos que ver o que a criança gosta”, diz Liliane. “Devemos oferecer possibilidade em casa, principalmente naquilo que a criança é melhor. A escola não vai focar só na habilidade de uma criança, porque são muitos alunos”.
Legenda: A coleção “As aventuras de Mike” é a preferida de Felipe @Evelyn Fagundes
Amor pelos livros e pelo futebol
Enquanto escrevia seu último livro, lançado na Bienal de Guarulhos, Felipe buscava uma forma de publicar a obra. Ele juntou moedas em seu cofrinho e quando terminou de escrever o livro perguntou para a mãe se o valor era suficiente para pagar a edição.
“Eu enviei o material para um revisor, ele adorou e disse que não iria cobrar. Acabou que os custos foram cobertos com as vendas do lançamento”, conta a mãe, Liliane. Um dos trechos mais apreciados por ela é o capítulo 3, que trata de uma das maiores rivalidades do futebol paulista: Corinthians e Palmeiras. “Bem clubista, mas reconhecendo que o Corinthians é o maior rival”, diz sobre a postura do filho.
Outro trecho que enche Lidiane de orgulho é capítulo 10 intitulado “A maior burrada da história desde que eu conheço”. Nele, o autor mirim expressa sua descontentação com as decisões de seu time.
“A maior burrada que eu acho que o Palmeiras vai fazer em junho de 2024 é tirar o Endrick. O Endrick fez gol no Athletico-PR. Meteu um golaço em um minuto e meio no rebaixado do campeonato E fez um futebol que, na teoria, seria melhor do que o próprio futebol do MESSI […] E o Messi não tem Paulistão (Isso é piada, claro)”, diz um trecho do livro.
Data: Até 24 de março
Endereço: Espaço Inter (Av. João Cavalari, 133 – Vila Herminia)
Preço: Gratuito
Programação: https://bienaldolivro.guarulhos.sp.gov.br/