Bares se unem e fazem praça de Perus virar ‘recanto do futebol’

Uma praça na rua Júlio Maciel é conhecida como “Entrada do Recanto”. O motivo é ela estar localizada entres os bairros Recanto dos Humildes e Recanto do Paraíso, no distrito de Perus, na zona noroeste de São Paulo. Mas nos últimos tempos ela se tornou um outro tipo de espaço: um recanto do futebol.

Por ali, estabelecimentos como o Xavica’s Bar, Bar da Carol e 3L Bar & Tabacaria decidiram se unir para transmitir jogos de futebol em telões, com serviço ao público que acompanha as partidas ao ar livre. Seja uma terça ou quarta à noite, a praça lota, e a população faz daquele lugar sua arquibancada.

“A intenção é fazer com que as pessoas fiquem e se divirtam no bairro, sem precisar ir para fora para ter um atendimento de qualidade. Quis trazer algo bonito em questão de estrutura e design”, conta o palmeirense Alexssandro Sotero, 32, proprietário do Xavica’s Bar.

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Ele conta que o maior desafio foi escolher o Recanto como morada do bar, por essa parte do bairro ter no passado uma imagem negativa. A intenção dele foi contribuir para mudar essa visão que muitos tinham. 

Além dos bares, é possível encontrar várias barracas de lanches e bebidas e a Casa do Hip-Hop de Perus, espaço que teve um papel importante na revitalização dessa região. 

O prédio que hoje é a Casa do Hip-Hop era um antigo telecentro que foi desativado. Alexssandro comenta que quando ele chegou na praça com o bar, pegou a fase em que o imovél, localizado ao lado do Xavica’s, ainda estava abandonado. Essa realidade muda quando a Comunidade Cultural Quilombaque propõe um projeto para reativar a propriedade. 

“Em fevereiro de 2016, a Quilombaque chegou com essa proposta de ocupar o espaço e nos trouxeram qual era o projeto, foi onde a gente abraçou a ideia. Essa construção foi em conjunto, cultura + bar, hoje o bar carrega isso”, ressalta Alexssandro.

Com essa integração, o processo de revitalização da praça avançou e, em seguida, novos estabelecimentos foram abertos. O Bar da Carol fez dois anos de abertura, e o 3L Bar & Tabacaria em torno de três anos. Alexssandro relata que o intuito nunca foi pensar de modo individual, e sim no coletivo.  

‘A gente sempre tem esse diálogo de passar para os demais comerciantes ‘se organizem, comprem mais mercadoria, porque é dia de praça cheia’. A ideia nunca foi só nossa, é de fato da comunidade’

Alexssandro Sotero

Os donos bares se uniram para pensar programações em conjunto que vão desde os telões de transmissão dos jogos até apresentações de pagode e de sertanejo.

Junto às programações dos bares, há ainda barracas com comidinhas que ficam por ali. Algumas chegaram antes dos bares e outras depois, devido ao maior movimento que a praça gerou. 

A barraca Recanto do Pastel, dirigida por uma família corintiana, já está na praça faz 6 anos. Generina do Rosário, 38, proprietária da barraca junto do marido, comenta que a ideia da barraca veio pela falta de renda, já que estavam desempregados.

“No início foi muito difícil, não tínhamos mesas, conseguimos emprestadas com o Japa (apelido de Alexssandro, dono do Xavica’s). Com um ano e meio nos estabilizamos”, diz Generina.

Ela comenta ainda que os dias de jogos ajuda muito nas vendas, porque a praça fica ainda mais movimentada.

O são-paulino Valmir Santana, 33, é ator, palhaço e morador da região desde criança. Ele diz frequentar a praça desde moleque, já que estudava em uma escola próxima. Fala que no início colava mais por conta das barracas de lanche. Depois, passou a frequentar também os bares e assistir aos jogos transmitidos por lá.

Valmir acredita que o futebol une as pessoas: “O gostoso do futebol, na verdade, é a coletividade, é você estar junto de quem está torcendo e aloprando quem está contra”, brinca. “Mas lógico que existem limites”, ressalta.

“O dono de um dos bares é palmeirense, a praça é corintiana e eu são-paulino”, diz, se referindo a grande presença de corintianos que há na praça.

A produtora cultural Camila Cardoso, 32, diz não entender muito de futebol, mas que gosta do clima de ver as pessoas torcendo: “Existe uma rivalidade, muito engraçada e não violenta. É um espaço frequentado por crianças, por pessoas mais velhas, gente de vários times, gente que não torce para time nenhum, mas a galera vai lá pelo acontecimento, por essa comunhão de pessoas.” relata.

A corintiana Maria Eduarda dos Santos, 22, atendente e bartender do Bar da Carol e a flamenguista Jayane Santos, 27, cozinheira do Bar 3L, também comentam a lotação da praça e a diversidade de pessoas.

Jayane ainda acrescenta que o bar geralmente já tem muito movimento, mas que em dias de jogos é muito maior, principalmente nos dias de clássicos como São Paulo x Corinthians.

Em meio às críticas e casos de violência que marcaram alguns episódios entre torcidas no estado de São Paulo, os entrevistados afirmam que a rivalidade tem ficado dentro de campo:

“A gente bate na tecla de que a quebrada tem que se unir e o futebol é uma prova de que isso deu certo. Já tivemos finais com clássicos entre Palmeiras e Corinthians, sempre rola resenha, mas graças a Deus a galera sempre entendeu que a rivalidade é só dentro de campo”, pontua Alexssandro.