Em 26 de março de 2023, o município de Barueri, na Grande São Paulo, comemorou 74 anos. Nessa data, o prefeito Rubens Furlan (PSB) esteve na Câmara Municipal ao lado do vice-prefeito e secretário de obras, Beto Piteri (PSDB), que tem acompanhado o gestor em diversos eventos, audiências públicas e inaugurações.
No mesmo dia, o ex-prefeito Gil Arantes (União) divulgou um vídeo feito com drones para mostrar obras que foram feitas durante o período que administrou a cidade. Mas essa mobilização está longe de ser algo apenas no aniversário do município.
Desde o ano passado, Barueri vive um clima de campanha eleitoral antecipada, com o grupo do prefeito e do ex-gestor intensificando atos partidários pelo município, sendo alvo de discussões nas redes sociais e até causando atritos entre servidores da Câmara de Vereadores e da própria gestão municipal, acusados de defender um ou outro lado.
No controle político do município desde os anos 1980, Furlan está no sexto mandato e o segundo consecutivo e não poderá concorrer novamente. Com isso, decidiu lançar o vice com bastante antecedência. Piteri tem até um site oficial para divulgar quem é e aparece ao lado de Furlan em qualquer tipo de evento – esteve em mais de dez entregas de agasalhos.
Do outro lado, Gil, que já foi aliado de Furlan, também deu a largada. Ele venceu eleições em 1996, 2000 e 2012, e tem se encontrado com lideranças comunitárias em diversos bairros da cidade.
Para quem vive em Barueri, o clima é visto sem expectativas de mudanças. A assistente de atendimento Soraia Rosa de Oliveira, 44, mora no Recanto Phrynea há 32 anos. Ela diz que espera que a próxima gestão priorize saúde e educação na cidade.
“Espero melhorias na saúde com mais profissionais capacitados, para acabar com a fila nos atendimentos de especialidades”, diz. “Também espero que a nova gestão eleita disponibilize o material escolar e uniforme já no começo do ano letivo para as crianças”, ressalta.
Além disso, Soraia cita a demora na distribuição dos uniformes escolares como um motivo de frustração com a atual gestão. Ela já viveu mandatos do Rubens Furlan e do Gil Arantes. “Gostaria que tivéssemos outros candidatos fortes, porém como não temos, voto na gestão atual.”
A falta de uma terceira opção para prefeitura da cidade também incomoda o analista de logística Ezequias Rozo da Costa, 37, morador do Parque dos Camargos. “É uma pena para a cidade sempre eleger os mesmos candidatos, principalmente para as pessoas que mais precisam [de serviços públicos]”, opina.
“Barueri é um município muito rico e certamente tem condições de melhores investimentos para essa parte da população”, afirma.
Além disso, para Ezequias, falta comprometimento com algumas demandas da cidade. Para ele, é importante que o próximo governo invista em acessibilidade para pessoas com dificuldades de locomoção.
“Moro na avenida Zélia onde cadeirante, idosos, pessoa com deficiência e de mobilidade reduzida, não tem o mínimo de acesso para andar na calçada e acabam se arriscando, utilizando as vias para transitar”, conta.
A estudante de ciências sociais Anne Senir Rocha, 34, concorreu para covereadora em 2020 pelo PSOL. Secretária geral do partido, ela fez parte do Coletivo Juntas por Barueri, que obteve 3.134 votos – apesar de ser a sétima mais votada, o PSOL não conseguiu votos suficientes para fazer uma cadeira.
Moradora do Engenho Novo, ela diz que a atual gestão da cidade fez um governo pautado na campanha eleitoral.
“Eles não investem em políticas públicas permanentes e efetivas, mas em prédios e ações que dão visibilidade e alcance, dando a sensação de heroísmo em cada obra entregue, mas, na verdade, não passa do cumprimento do dever enquanto sujeito eleito”, afirma Anne.
Apesar de sentir que os moradores não aguentam mais sempre os mesmos nomes, ela não vê a cidade se afastando deles.
“O dinheiro faz muita diferença em campanha eleitoral, e eles têm a influência da máquina pública, que não usam meramente para atender às necessidades dos munícipes, e sim para fortalecer o elo de dependência da população”
Anne Rocha, do PSOL
Barueri é uma das cidades mais ricas do estado de São Paulo, em especial por conta da arrecadação vinda de empresas existentes em Alphaville. Só no ano passado, foram mais de R$ 4,7 bilhões arrecadados – a efeito de comparação, a cidade vizinha de Carapicuíba recebeu perto de R$ 900 milhões e possui uma população maior do que Barueri.
Sem diversidade
Apesar do clima eleitoral, em geral, não há irregularidade em fazer discussões políticas neste ano. A pré-campanha permite a interação com a população. Só não é permitido falar que é candidato ou distribuir panfletos que insinuam isso ou o pedido de votos. Outro ponto é caso seja comprovado que recursos públicos fossem usados para esse fim.
Apesar da legalidade, o cientista político e diretor do Instituto MAS Pesquisa, Marcos Agostinho Silva, aponta que as pré-campanhas evidenciam a desigualdade no que diz respeito ao alcance político de novos candidatos.
“O prejuízo está no acesso às condições para fazer essa pré-campanha. O que traz esse embate centrado em dois possíveis candidatos que já têm uma história na política, no caso de Barueri”
Marcos Agostinho, cientista político
Tanto Gil quanto Piteri, por exemplo, são dois homens brancos com mais de 70 anos.
A alternativa para sair deste jogo político, de acordo com Marcos Agostinho, é focar em candidaturas de mulheres negras, que fogem à essa regra da tradição da política brasileira que privilegia os donos de terras, os escravocratas, quem desde sempre teve condições e poder. “Um dos caminhos é apostar em candidaturas coletivas, de mulheres negras, que estão sujeitas a prestar atenção a essas lacunas”, diz.
Sobre os dois grupos que controlam a cidade, ele diz que um caminho seria uma candidatura que cobrisse essa lacuna da falta de alternância. Apesar disso, ele sinaliza que a chance de surgir uma terceira via em Barueri é complexa. “A esquerda já esteve como Gil em 2012. E, agora em 2022, estava com o Furlan. Então, o grupo que seria oposição, já está integrado.”
Procurada, a secretaria de comunicação de Barueri informou que não trata das eleições de 2024 e que deveríamos acionar os pré-candidatos. Nem Gil nem Furlan retornaram ao contato da reportagem.