Brechós de móveis usados se popularizam em Paraisópolis

Quem passa pelas ruas de Paraisópolis, como a Manoel Antonio Pinto e a Ernest Renan, se depara com pelo menos cinco brechós de móveis, empreendimentos que compram, trocam e vendem móveis usados. 

Estabelecimentos como esses têm se popularizado na comunidade da zona sul de São Paulo, servindo como meio de sobrevivência para comerciantes que buscam se reinventar e para moradores que procuram opções de eletrodomésticos e móveis mais acessíveis.

O educador e empreendedor Mateus Almeida, 30, morador de Paraisópolis, procurou os brechós de móveis para mobiliar um estúdio musical. Na mesma rua do empreendimento, ele encontrou o “De Casa Para Casa” e lá comprou um sofá por R$ 400 e uma mesa grande de madeira por R$ 50.

“Comprei dois móveis seminovos de muita qualidade, que com meu orçamento seriam impossíveis de adquirir em uma loja tradicional”, comenta.

O brechó de móveis onde Almeida comprou pertence a Raquel Pereira, 31, e ao marido dela, Elias Farias, ambos comerciantes há mais de 14 anos. Embora já atuassem no ramo, a venda de móveis e eletrodomésticos é uma fase recente dos negócios.

A primeira experiência foi em 2020, quando o casal decidiu retornar à terra natal de Raquel, em Pirituba, na zona norte da capital. Com a mudança em curso, começaram a vender móveis que tinham para os moradores de Paraisópolis – na época, houve muitos interessados.

O casal tinha dois pontos comerciais de acessórios para celular, um na Vila Olímpia e outro próximo ao Shopping Morumbi. Com a chegada da pandemia, o negócio precisou ser fechado.

Em meio a necessidade de renda, o casal decidiu abrir o “De Casa Para Casa” aproveitando que estavam voltando a Paraisópolis. 

Raquel destaca que a ideia de comprar móveis usados e revendê-los surgiu da necessidade de se reiventar e garantir uma forma de sustento. “Minha loja fica ao lado da Casas Bahia, e já vi pessoas irem lá primeiro e, depois, visitarem minha loja, se interessarem e comprarem os móveis aqui, pela qualidade e acessibilidade”, afirma.

Segundo Raquel, o público que mais consome são pessoas vindas do Nordeste que estão começando a vida do zero. “Elas não têm R$ 2.000, por exemplo, para dar em uma geladeira. Já aqui, encontram eletrodomésticos por R$ 400, R$ 500, em ótima qualidade”, comenta.

O “De Casa Para Casa” recebe produtos quase toda semana, a maioria proveniente de moradores que se mudam da Paraisópolis ou que desejam trocar de móveis. Na loja, é possível encontrar mercadorias como geladeiras, fogões, máquinas de lavar, tanquinhos, sofás, televisões, ventiladores, freezers, entre outros.

Os preços variam de acordo com a mercadoria, e há a possibilidade de parcelamento, pagamento via PIX e trocas com descontos. O estabelecimento também realiza entregas tanto para Paraisópolis quanto para outras regiões de São Paulo. Os itens mais comprados são geladeiras e fogões, o básico para começar a vida. 

Para chegar aos clientes, a vendedora utiliza o WhatsApp para divulgar as promoções. Algumas mercadorias mal chegam à loja e já são vendidas. Há também clientes de fora da região, em especial os que participam do Programa Einstein na Comunidade Paraisópolis, onde pessoas de fora trazem os filhos para consultas e se deparam com o comércio. O número de clientes do brechó já ultrapassou 600 pessoas nesses dois anos.

Outro brechó de móveis que chama a atenção na viela Francisco Clemente, famosa pelos brechós de roupas, sapatos e acessórios é o “Zeni Móveis”, tocado há um ano por Zenilda Capelão, 44, baiana e moradora de Paraisópolis. 

Zenilda sempre trabalhou com vendas, iniciando com roupas, Tupperware e frutas em feiras. Depois disso, passou a se estruturar na viela de casa, vendendo pequenos móveis. Foi apenas no início de 2023 que ela alugou um ponto e começou a oferecer móveis à venda.

A vendedora conta com a ajuda do marido, Joani Santos, que reforma algumas das mercadorias, como armários de cozinha, lixando e aplicando verniz, ou até mesmo a geladeira, com uma boa reforma à base de lixa e tinta.

A Zeni Móveis tem recebido clientes tanto da comunidade quanto de fora. Zenilda menciona o caso de um cliente da Vila das Belezas, bairro do distrito do Campo Limpo, na zona sul, que veio por indicação da mãe, que comprou um móvel. O cliente aproveitou para levar uma máquina de lavar, um armário e uma mesa.

O perfil dos clientes da Zeni também inclui pessoas que estão começando a vida em São Paulo e buscam uma alternativa que caiba no bolso. “Vêm muitas famílias que têm três, quatro filhos e às vezes não têm condições de comprar algo nessas lojas grandes. Nisso, a gente dá um desconto. Um ajuda o outro”, afirma.