Correr, pular, jogar bola, empinar pipa, desenhar, brincar na casa de amigas e amigos, e, se divertir nas áreas de lazer do bairro. Essas atividades podem até parecer simples, mas são direitos das crianças, que tem no brincar seu principal compromisso.
Mas nas periferias das cidades, o ato de brincar pode ser permeado de outros desafios. A Agência Mural visitou quatro famílias em duas ocupações e Cohabs (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo) de Cidade Tiradentes, no extremo leste de São Paulo, para entender como e se as crianças da região têm seu direito ao brincar garantido.
Ocupação Leonardi
Quem cruza a avenida Souza Ramos, em Cidade Tiradentes, encontra uma paisagem muito particular: em ambos lados da via é possível identificar ocupações por moradia.
Uma delas é a Ocupação Leonardi, nome esse dado ao terreno da antiga empresa de construção dona do espaço. Vigas de concreto abandonadas pela empresa no terreno da ocupação, que já causaram problemas sérios aos moradores.
‘Tem parque, mas sem estrutura’
A oferta de locais de lazer, cultura e entretenimento para crianças não é grande em Cidade Tiradentes, segundo moradores do distrito.
“Durante as férias ela está brincando mais em casa, devido aos altos custos de sair para longe”, diz a professora Vanessa Cristina de Oliveira, 44, sobre as opções de lazer para sua filha Julia Victoria de Oliveira, 5.
“Vamos à praça em horários que não tem muito sol, porque não é muito arborizado. Não são todas as praças que têm estrutura de brinquedos e só até um determinado horário é seguro”, diz @Léu Britto/ Agência Mural
“Nós estamos a menos de 200 metros dessas praças, mas elas não têm estrutura, estão sujas e são muito próximas a avenida Metalúrgicos. Não dá para confiar em deixar uma criança brincar solta. É um risco completo”, explica @Léu Britto/ Agência Mural
Júlia pede: ‘mãe, eu quero brincar!’. Segundo ela, esse é o momento mais aguardado do dia @Léu Britto/ Agência Mural
Grande parte dos brinquedos da praça estão quebrados, faltando desde pedaços do escorregador ao suporte da gangorra
Na ocupação Nós na Luta, brincar é coisa séria
Uma das líderes comunitárias da ocupação “Nós na Luta”, localizada na divisa entre Cidade Tiradentes e Guaianazes, exibe com orgulho a conquista coletiva para assegurar às crianças o direito de brincar.
Em 2021, Maria Edvania Souza, 30, se uniu a outras mulheres para ocupar um terreno particular que estava vazio há anos e soma R$ 23 mil em dívidas de IPTU. Além de moradias, ela almejam que o poder público dê suporte às famílias. Mesmo sem recursos, elas realizaram um dos seus principais planos: organizar uma brinquedoteca para as crianças da ocupação.
“É um espaço onde elas se sentem livres, onde podem pintar, ler livros e assistir televisão, que muitas crianças não têm em casa”, diz Maria
“A gente abre o espaço para eles brincarem à vontade”, explica @Léu Britto/ Agência Mural
“Se não existisse a brinquedoteca, acredito que elas brincariam na rua, no meio do barro e das pedras, com risco de acidentes” @Léu Britto/ Agência Mural
O barracão onde funciona a brinquedoteca foi organizado pelos moradores. Logo, eles receberam apoio de parceiros e de ONGs que ajudaram a levantar as paredes de madeirite @Léu Britto/ Agência Mural
“O Grupo Ação Social Atender Sempre e a Academia Carolinas ajudaram bastante a gente: chegaram com tinta para pintar o galpão, grupos de teatro, material didático, livros e doações de brinquedos” @Léu Britto/ Agência Mural
“As crianças aqui têm muitos sonhos, como o de um dia poderem andar na rua e serem livres para caminhar, brincar, jogar bola, com a segurança de um amanhã garantido” @Léu Britto/ Agência Mural
“Que elas não tenham medo de perder seus pais e de enfrentarem enchentes, pobreza e violência. Que tenham um espaço onde possam ser apenas crianças” @Léu Britto/ Agência Mural