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Buffets infantis lutam para se manter em meio à crise no setor de eventos

Por: Patrícia Vilas Boas

A festa de Mariah Lima, 6, no Buffet Klasse A, localizado na Vila Marieta, na zona leste de São Paulo, teve de ser cancelada em 2020. Neste ano, os pais dela decidiram que a comemoração do sétimo aniversário seria em casa devido à persistência da pandemia.

O pai, Antônio Augusto Lima, 33, diz que apesar da vontade da filha, ela compreende que o clima não está para festa.

Por ainda não ser totalmente seguro reunir familiares e assoprar as velinhas, muitas outras famílias, assim como a de Mariah, decidiram cancelar ou prorrogar as confraternizações em buffets infantis. 

A decisão, embora acertada do ponto de vista de evitar riscos de contaminação, teve impacto direto na renda de quem vive de festa.

Antes, quem circulava pela zona leste nos fins de semana conseguia encontrar salões em plena atividade. Casas lotadas, som alto, crianças brincando, mesa farta de docinhos e salgadinhos, e espaços decorados com os mais variados temas infantis. Agora, mais de um ano depois de a Covid-19 paralisar grande parte do setor de serviços, o cenário é outro.

Kélbia é proprietária de um buffet na zona leste @Patrícia Vilas Boas/Agência Mural

Kélbia Mattos, 46, foi uma das proprietárias de buffet infantil impactadas pela crise. Há 20 anos administrando o buffet “Conexão Kids”, no Parque Paulistano, em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, ela conta que viu o faturamento despencar na pandemia.

“A gente chegava a fazer 28 festas por mês”, conta “Hoje, eu vou te dizer que teve uma queda aí de pelo menos 80%.”

E o prejuízo de Kélbia não foi exceção. Segundo dados da Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta), em todo o país, a queda de faturamento do setor de eventos foi de 98%. 

Quem também teve a rotina afetada pela pandemia foi o proprietário Rafael Mendes, 35, que gerencia a rede de buffets infantis “Folia e Fantasia” na região de Itaquera, zona leste de São Paulo.

“Com a chegada da pandemia, onde fomos sem dúvida alguma o setor econômico mais afetado pelas políticas restritivas criadas em decorrência da Covid-19, o faturamento desceu a zero”, diz Mendes.

Ele conta que mesmo após 16 meses inoperante, não houve nenhum tipo de subsídio ou estímulo por parte do poder público para compensar as perdas do setor.

“Gosto de falar que no pré-pandemia, se houvesse algo que nos fizesse ficar 10 dias sem operar seria uma tragédia incalculável. Estamos a poucos dias de completar 500 dias sem operação.”

O setor movimentava R$ 17 bilhões anualmente em eventos sociais antes da pandemia, segundo a Abrafesta.

DESCONFIANÇA

Embora os buffets infantis em São Paulo ainda possam operar como restaurantes seguindo os protocolos de distanciamento social, a movimentação ainda não retornou ao patamar pré-crise.

O risco também é grande. Embora a taxa de mortalidade de crianças pela Covid seja baixa, elas podem servir como transmissoras do vírus. A capital tem atualmente cerca de 24% da sua população imunizada com as duas doses ou dose única da vacina contra o coronavírus.

“(O evento) não pode ter balada, tem que estar todas as pessoas sentadas, os brinquedos, a gente faz revezamento com as crianças, para poder fazer o distanciamento social certinho. Então não é o que o cliente procura, quando ele quer, ele quer ‘a festa’”, diz Kélbia.

“Fazer uma festa onde as crianças não vão poder ficar brincando, ficar juntas, não teria tanta graça assim”, diz Lima, pai de Mariah.

Ainda de acordo com a Abrafesta, apenas 8% dos eventos estão operando, 60% das empresas pararam completamente e 32% mudaram o modelo do negócio.

A proprietária Kélbia conta que, no caso dela, não precisou cortar funcionários fixos, mas alguns parceiros terceirizados mudaram o rumo da carreira por conta da paralisação do setor.

“Tem um fotógrafo, um dos que trabalhavam com a gente, que acabou abrindo até um restaurante de delivery, de hambúrguer, porque não conseguiu se firmar”, disse, acrescentando que para conseguir manter as contas em dia, o buffet vem oferecendo promoções, uma vez que o banco não aprovou a solicitação de empréstimo por classificar o setor como “grupo de risco”.

O reconhecimento dessa classe também veio tarde. Em novembro do ano passado, ela se reuniu com outros proprietários de mais de 750 buffets na cidade e juntos entraram com uma liminar na justiça para poder trabalhar com mais liberdade. 

Hoje, a expectativa é de que um retorno à normalidade aconteça com a vacinação em massa da população, prevista para ocorrer em São Paulo até 20 de agosto, com a imunização de pessoas adultas maiores de 18 anos com a primeira dose ou dose única da vacina contra a Covid-19, de acordo com o Governo do Estado.

“Nossa expectativa real é que tenhamos uma retomada forte a partir de outubro de 2021, se os cronogramas de vacinação forem cumpridos”, conta Mendes.

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O cenário positivo se desenha por conta da demanda reprimida após tantos meses de isolamento.

Por outro lado, ele não descarta cenários desfavoráveis, devido aos impactos econômicos da pandemia que refletiram no poder de compra das famílias. “Acreditamos que voltaremos a poder entregar esse momento único a nossos clientes o mais breve possível.”

AJUDA NA PANDEMIA

Pensando no setor fortemente impactado pela crise da Covid-19, a internacionalista Livia Matsumoto, 36, se reuniu em março do ano passado com duas amigas que também trabalham com eventos e, juntas, criaram a organização S.O.S. Mundo dos Eventos, que coleta e distribui cestas básicas para profissionais do setor em São Paulo.

As inscrições são feitas por meio de formulário e anunciadas no Instagram da organização. A distribuição das cestas acontece na Cidade Patriarca, bairro da zona leste da cidade.

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