Após assumir a prefeitura, em janeiro de 2017, o ex-prefeito João Doria (PSDB) se colocou em uma cadeira de rodas e circulou por calçadas da capital paulista. A atitude teve atenção na mídia, mas a situação das vias pouco mudou.
“São Paulo deveria ter as calçadas da avenida Paulista como modelo, assim iria garantir a mobilidade de todos os cadeirantes”, afirma Fabiano Molina, 33.
Com paralisia cerebral desde o nascimento, o tradutor acredita que a mobilidade na cidade é “nula”, “impedindo o direito de ir e vir”: “Moro no Tatuapé [zona leste], mas quando preciso encontrar um amigo vou até a [avenida] Paulista. Meus locais de passeio são restritos’’.
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Estela Laponi, 34, que convive com as sequelas após um AVC (acidente vascular cerebral) há 20 anos, também reclama da falta de acessibilidade.
“A minha rua é da década de 30, quando praticamente ninguém tinha carro. Então a frente das casas eram jardins que davam pra rua. Hoje esses jardins viraram garagem, e pelo pouco espaço ‘comeram’ as calçadas. O que nos obriga a andar na rua”, lamenta a atriz que mora em Pinheiros, na zona oeste.
“Moro só e faço tudo sozinha. O único problema é que não consigo carregar coisas pesadas.”
ILHA DE ACESSIBILIDADE
Já Eleni Heler, 71, reconhece o privilégio de morar em uma região com calçadas mais cuidadas e acessíveis. Ela vive na alameda Santos, importante via entre a avenida Paulista e a estação Paraíso do Metrô.
“A maioria das calçadas que eu ando é acessível. Um terço ainda é ruim”, diz ela, que se locomove no bairro com a ajuda de uma cadeira de rodas de mais de R$ 9.000. Já para trajetos mais longos costuma usar o transporte público.
FALTAM REGRAS
Para Roberto Righi, professor de pós-graduação da Universidade Mackenzie, falta padronização nas calçadas da cidade, que se dá pela pouca vigilância.
“Em ano de eleição a fiscalização tende a cair, e as pessoas sabem disso e aproveitam. A administração pública no Brasil é descontínua e isso faz com que não se estabeleça uma regra.”
Orientado por Righi, Lucas Feitosa, mestre em arquitetura pelo Mackenzie e professor da Universidade São Francisco, escreveu uma dissertação sobre situação das calçadas paulistanas.
A ideia de desenvolver a pesquisa ganhou força após um período como estagiário na prefeitura regional de Santana, na zona norte. “Tive muito contato com normas técnicas e leis sobre acessibilidade nesta época”, explica.
“O decreto federal 5.296 que deu efeito de lei a tudo que está na norma técnica de acessibilidade. A diretriz é de 2004, mas na minha visão ela só começou a ser aplicada de fato em 2010″, lamenta o mestre em arquitetura.
Para Feitosa, as normas técnicas procuram traduzir a acessibilidade e a mobilidade como valores sociais. Mas isso está longe de ocorrer na prática.
De acordo com o Irbem 2017 (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), a zona sul (região 2) de SP tem a avaliação em acessibilidade para pessoas com deficiência, com nota 2,9 dos paulistanos (numa escala de zero a dez).
“Há muitas vias desniveladas, buracos nas ruas, entre outros que tornam a locomoção na cadeira de rodas muito mais difícil”, afirmou o estudante de relações públicas Bruno Lopez, 30, em reportagem publicada em junho de 2017 no 32xSP.
Lopez gasta uma hora de sua casa em Itaquera, na zona leste, para chegar à universidade, no centro da capital paulista. A região também registra nota baixa no quesito: 3,5.
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Segundo a Secretaria Regional das Prefeituras Regionais, foram realizadas ações de melhorias nas calçadas das 32 prefeituras locais por meio da instalação de rampas e pisos táteis.
No entanto, a pasta reforça que o proprietário é o responsável pela conservação das calçadas.
A administração municipal conta também com um site com informações específicas sobre calçadas, com orientações sobre acessibilidade adequada, largura mínima permitida, entre outros dados.
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http://32xsp.org.br/2017/06/08/acessibilidade-de-pessoas-com-deficiencia-e-mal-avaliada-em-sao-paulo/