No próximo domingo (2), novos deputados federais serão escolhidos para ocupar as 513 vagas na Câmara dos Deputados, no próximo ano, em Brasília. Dessas, 70 cadeiras são garantidas para parlamentares de São Paulo.
A Agência Mural conversou com três desses políticos de bairros periféricos de São Paulo e da Grande São Paulo, para entender os objetivos e o que fariam em um eventual mandato para as periferias. Durante a semana, também trouxemos a história de quatro candidatos a deputados estaduais.
Fernanda Curti dos movimentos estudantis
Secretária Estadual de Mulheres do PT (Partidos dos Trabalhadores), a guarulhense Fernanda Curti, 27, começou na política aos 15 anos, no movimento estudantil secundarista, em 2011, quando atuou no grêmio estudantil.
“O que me motivou foi a luta por uma escola melhor, pela qualidade do ensino”, diz a candidata que foi presidente do Conselho Municipal de Juventude de 2012 a 2015 em Guarulhos.
Fernanda conta que no PT teve chances para construir sua carreira política e pessoal. “Além disso, sou do movimento de mulheres, e estou no partido que elegeu a primeira mulher presidenta do Brasil, que me deu oportunidade de me formar, pois sou formada no curso de direito pelo Prouni (Programa Universidade Para Todos)”, observa.
Em 2020, Fernanda chegou a ser eleita vereadora em Guarulhos, com 4.405 votos, mas não pode assumir o mandato. Após o resultado, o PP conseguiu mais uma cadeira, após uma decisão judicial sobre a candidatura de Anderson Marques (PP).
Com os votos validados pelo partido, a cadeira conquistada por Fernanda foi para a candidata Márcia Taschetti (PP). “Hoje, ainda estou brigando na justiça, meu caso está no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”, explica.
Entre as propostas, a candidata quer levantar a questão do trabalho doméstico remunerado para as mulheres. “Defendo uma política salarial para as donas de casa e a inclusão do tempo de serviço doméstico ser incluído na conta da previdência social”, afirma.
“Quantas mulheres que você conhece, idosas, que querem e precisam se aposentar, mas trabalharam a vida inteira dentro de casa e por isso não conseguem?”, questiona.
Tem que reconhecer o trabalho doméstico como um trabalho essencial da economia”
Também quer criar um estatuto da diversidade sexual no Brasil, para garantir direitos a população LGBTQIA+. “Nós já conseguimos avançar no estatuto da igualdade racial, da criança, da juventude, do idoso, está na hora de garantir um conjunto de direitos para a comunidade LGBTQIA+.”
Rodolfo, o despachante da zona sul
Rodolfo Francisco de Souza, 60, (PSC), mora no Parque Bristol, na zona sul da capital, e é conhecido popularmente na região como ‘Rodolfo Despachante’ por conta da profissão que exerce há mais de 40 anos.
Ele iniciou a trajetória política como líder comunitário em 1992, quando cuidava de times de futebol de várzea. “Víamos algumas demandas da região. Tinha conhecimento com alguns políticos e fazíamos alguns pedidos a eles”, relembra.
Casado, pai, avô e despachante, como reitera, Rodolfo nasceu em Conceição do Canindé, no Piauí, mas veio para São Paulo ainda recém-nascido, onde foi registrado. Na capital, se instalou em bairros como Vila Brasilina e Parque Bristol, no distrito do Sacomã, na zona sul.
No próximo 2 de outubro, Rodolfo quer ser eleito para representar as periferias, especialmente de São Paulo, na Câmara. “As periferias infelizmente são esquecidas, são lembradas agora na hora da eleição e a gente quer representá-las, porque o deputado federal vota sobre todos os projetos do Brasil, mas sobretudo São Paulo”, explica.
“Vamos montar projetos pertinentes à saúde e à educação porque se você melhorar um pouco essas áreas as outras são consequência”
O candidato está no PSC (Partido Social Cristão) há cerca de três anos, quando recebeu um convite para integrá-lo e se identificou com as propostas.
Antes passou por três partidos políticos, Prona (Partido da Reedificação da Ordem Nacional), PMN (Partido da Mobilização Nacional) e PHS (Partido Humanista da Solidariedade). Em 2020, obteve 5.254 votos e ficou com a cadeira de suplente do vereador eleito Gilberto Nascimento.
Segundo Rodolfo, o recurso financeiro é uma das principais dificuldades enfrentadas pela campanha nas periferias. Na sua candidatura, por exemplo, foram destinados cerca de R$ 50 mil por meio do fundo eleitoral; os outros R$10 mil são recursos próprios do candidato.
“Sem uma captação financeira boa é difícil desenvolver uma campanha. Nesse caso é preciso investir para fazer uma [campanha] na TV boa, para fazer alguns trabalhos bons, e os ‘grandões’ tem essa facilidade. Por isso, o povo deveria pensar um pouco, para dar oportunidade a outros”, observa.
Além desse entrave financeiro, o despachante diz que trabalha em horário comercial em seu escritório, e só pode atuar na campanha após o expediente e aos fins de semana.
Sueli Alves e Bancada Coletiva Luta em Movimento
A professora da rede pública Sueli Alves, 47, é candidata a deputada federal pelo Coletivo Luta em Movimento (PSOL). Mãe de dois filhos e bissexual, nasceu e cresceu na cidade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Militante há 30 anos, começou pelo movimento secundarista em 1990, depois participou das manifestações dos caras pintadas contra o presidente Fernando Collor de Mello. “Sempre fui militante de esquerda, de movimentos sociais, da categoria de professores, defendendo uma educação pública de qualidade. Me identifico pelas pautas identitárias, das lutas de classe”, comenta.
O nome de Sueli aparecerá nas urnas, no dia 2 de outubro, mas a bancada é composta por seis codeputados, a socióloga e indígena Silvia Guaianá- Muramomi, o historiador Fernando Che, o professor Hugo Allan Matos, a servidora Ana Clara Dadasio e a professora Isabel Rodrigues.
Do grupo, Sueli e Isabel disputaram eleições pela região, em 2020. Sueli foi candidata a vereadora pela bancada Luta Coletiva, em São Bernardo do Campo, e obteve 2.621 votos; já a professora Isabel disputou com o coletivo Massa, em Santa André, e obteve cerca de 800 votos.
“Escolhemos o PSOL porque nos identificamos com os projetos e posicionamento dos nossos deputados. Estamos do lado dos trabalhadores, mulheres, negros, das periferias, LGBTQIA+”, diz Sueli, que está na sigla há seis anos.
O coletivo defende investimentos em educação, cultura, trabalho digno e pelos direitos dos povos originários, negros, LGBTQIA+, e a proteção do meio ambiente. São contra pautas, como a reforma trabalhista, previdenciária, teto de gastos. “Optamos pela candidatura federal, porque precisamos debater os temas maiores, na Câmara Federal. Temos que pensar o Brasil e vencer o bolsonarismo, acreditamos que esse debate é possível em Brasília”, explica.
No programa do coletivo estão promessas como a construção de moradias populares (8 milhões de residências), geração de postos de trabalho digno (10 milhões de vagas), por meio de contratações para trabalho em obras e projetos de expansão de infraestrutura, educação, saúde e segurança e a construção de creches em tempo integral (5 milhões de vagas), com dinheiro vindo da auditoria cidadã da dívida pública.
“Pretendemos ajudar a fomentar a cultura com os jovens da região, evitar a desindustrialização no ABC, lutar por saúde pública e moradia”
Os codeputados do Coletivo Luta em Movimento contam ter dificuldades de fazer a campanha com os R$ 12.700 recebidos por meio do fundo eleitoral.
Eles buscam apoio dos outros coletivos no interior de São Paulo, para alcançarem o valor de R$ 25 mil e bancar parte do material.
“Sou a única liberada para fazer campanha o dia todo, os companheiros trabalham podem ajudar à noite ou nos fins de semana. Isso nos prejudica porque não conseguimos chegar nas periferias, quase em lugar nenhum, usamos as redes sociais e contamos com os amigos.”