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Candidatos em Cidade Tiradentes apostam no descolamento de partidos para vencer

Cidade Tiradentes, na zona leste da cidade

Por: Giacomo Vicenzo

A atuação contra bailes funks foi uma das principais bandeiras defendidas por Oziel Souza, (PSDB), 41, no tempo que esteve no cargo de subprefeito em Cidade Tiradentes (2017 – 2019) e em Sapopemba (2019-2020). Acompanhar a PM (Polícia Militar) e a GCM (Guarda Civil Metropolitana) em lives ao vivo em seu Facebook era uma prática comum. 

Na época, entre 2017 e 2019, ele criou o que foi chamado de operação Sono Tranquilo. Essa também tem sido uma das principais apostas dele para disputar as eleições deste ano à Câmara de São Paulo.

Apesar da imagem de ‘combate aos bailes funks’, Oziel mantém contato com MC’s. Atualmente, nas redes sociais, divulga fotos com artistas que declaram apoio à sua candidatura. 

Entre eles está o MC Dede, natural de Cidade Tiradentes, assim como Souza. “Esses MC’s fazem o trabalho de um funk consciente. Eles querem tirar proveito do trabalho nas casas de shows. Com o ‘fluxo’ de rua, eles não ganham dinheiro”, comenta Oziel.

Souza chegou à Cidade Tiradentes ainda criança com seus pais, que assim como outros moradores conquistaram o sonho da casa própria na década de 1980. “Comecei a andar com pessoal de associações, no centro comunitário, buscando melhorias para o bairro. Me filiei ao PSDB em 2003”, lembra ele.

Oziel foi subprefeito e disputa eleição na região

Em toda a gestão como subprefeito, Oziel fazia questão de dizer que não se candidataria a nenhum cargo político. No entanto, nas eleições deste ano, contradizendo suas alegações, ele explica que estar em um mandato é a chance de dar continuidade aos projetos que deseja criar, fazendo com que eles se tornem leis.

Souza afirma que a base de seu eleitorado em Cidade Tiradentes virá do que ele define como “cidadão de bem”. “Os pais, avós, o cidadão de bem, o jovem da igreja, pessoas que frequentam religiões, artistas”, comenta.

O bairro de Cidade Tiradentes, historicamente, é marcado pelo forte eleitorado do PT (Partido dos Trabalhadores). Mesmo assim, o candidato a vereador pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) diz que aposta na representatividade local e étnica. Ele, assim como outros concorrentes, aposta no descolamento dos partidos para tentar a vitória.

“Quando começam a conhecer minha história, as pessoas se sentem representadas. São poucos negros que têm espaço para apresentar propostas em partidos grandes. Nos extremos, eu entro, e o PSDB não. As pessoas têm a cultura de que o partido é de elite e não atende aos mais necessitados”, defende Souza.

ENTRE LULA E O PCDOB

A tentativa de Oziel é um dos pontos de uma eleição diversa em um dos maiores distritos da zona leste da cidade. A disputa pela Câmara tem também nomes que vêm de movimentos sociais.

Simone Rego, 48, encara a primeira candidatura à vereadora pelo PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Professora da rede municipal em uma escola de Cidade Tiradentes, ela confia que o eleitorado virá de alunos, ex-alunos e colegas de profissão.

“Minha ligação com o bairro vem através do meu trabalho. Sempre morei em Guaianases [distrito vizinho]. Desde 2005, estou envolvida com projetos sociais em Cidade Tiradentes. Sou coordenadora de um cursinho para vestibulandos na Escola Estadual Oswaldo Aranha B. de Mello, que é aberto para a comunidade”, explica.

Simone Rego vive em Cidade Tiradentes e disputa eleição pelo PC do B @Divulgação

Entre as principais pautas de Simone, estão as questões ligadas à moradia e combate à violência contra as mulheres. Militante pelo PT desde a adolescência, para a candidatura das eleições deste ano ela aposta na mudança de partido.

“Sempre tive o desejo de me candidatar à vereadora, desde muito jovem. Venho de movimentos sociais, mas quando me candidatei me descolei deles. Migrei do PT para o PCdoB por precisar de menos votos para vencer no partido. No PT eu precisaria de cerca de 50 mil votos, e nesse [PCdoB] 15 mil me elegem”, explica.

Apesar de mudar o partido, a candidata não esconde a simpatia pelo Partido dos Trabalhadores e a admiração pelo ex-presidente Lula, que traz tatuado em sua perna. “Em Cidade Tiradentes, é quase como uma senha quando visito as comunidades ter ele marcado em minha perna, sou bem recebida. Como uma mulher periférica, sei a diferença exata que Lula fez na história do Brasil, para as periferias e para os nordestinos”, conta.

Apesar da admiração, Simone apoia para prefeito o candidato do partido pelo qual está concorrendo, Orlando Silva (PCdoB). “É interessante, porque tenho muita gente que é do PT e que apoia a minha candidatura”, revela.

No auge da pandemia da Covid-19, Simone participou de projetos em comunidades do bairro voltados para mulheres. Entre eles, uma oficina de marcenaria. Caso eleita, ela defende que busca um mandato popular. “Um mandato em que o vereador tenha uma ligação direta com o eleitorado, que o povo tenha acesso de maneira direta e que a gente possa trazer um orçamento participativo”, diz.

Valter Lima tenta chegar à Câmara de São Paulo pelo PV @Divulgação

DE EMPREENDEDORES A CANDIDATOS

Para Valter Lima, 53, concorrer como candidato nas eleições está se tornando algo quase habitual. É a quarta vez que ele tem o nome nas urnas como opção, sendo três vezes para o cargo de vereador (2012, 2016 e 2020) e uma para deputado estadual (2014). Todas pelo PV (Partido Verde).

No dia a dia, Lima está à frente de um comércio que mantém no bairro há mais de 20 anos. “Minha trajetória é como o vendedor de pizzas se relacionando com a comunidade, isso sempre explícito durante estes anos”, comenta.

“Meu perfil sempre foi em defesa das questões ambientais. Já participei de todos os conselhos gestores dos parques em Cidade Tiradentes, além de audiências públicas para criação de parques em nosso território.”

Lima aposta que os consumidores também podem ser potenciais eleitores. “Nossos clientes nos veem como um comércio de garagem com responsabilidade socioambiental, destinando os resíduos para reciclagem”, defende ele.

Entre as principais causas do candidato a vereador, estão as de responsabilidade ambiental. “A educação ambiental, preservação do meio ambiente e conscientização do dever de toda humanidade de preservar o planeta e seus recursos naturais”, defende Lima, sem especificar.

Pelo PSD, Rubia Mara disputa uma vaga na Câmara @Divulgação

Quem também vem do caminho empreendedor para entrar como candidata neste ano é Rubia Mara, 31, que concorre a um cargo pelo PSD (Partido Social Democrático). “A pandemia foi um ponto essencial para eu decidir ser candidata, mas já tinha recebido convites antes por conta dos eventos sobre empreendedorismo”, comenta.

Rubia é produtora, assessora e fundou uma agência de comunicação em Cidade Tiradentes. Entre as atuações no território, estão eventos ligados ao empreendedorismo, projetos voltados ao universo do funk e, durante a pandemia, ações de arrecadação e doação de alimentos na região.

“Minha empresa é de impacto social e sempre busquei fazer eventos para os empreendedores locais. Acredito que terei apoio das mulheres e comerciantes que trabalham em casa”, defende Rubia sobre seu eleitorado no bairro.

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