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Capoeirista de Suzano: conheça a história do mestre Amaro, um dos pioneiros da capoeira paulista

“Eu dou aulas há 44 anos e ainda não sei tudo. A capoeira é uma arte infinita, não dá pra defini-la como apenas como um estilo de luta ou uma dança”

Por: Renan Omura

A capoeira está no sangue de Amaro Caetano de Souza, 59. Nascido em uma família de capoeiristas da Bahia, mestre Amaro, como é conhecido, aprendeu a gingar aos 3 anos. Aos 17, assumiu a direção da Academia Marinheiro, a primeira escola de capoeira de Suzano, na Grande São Paulo, onde ministra aulas atualmente.

Antes de seguir carreira como capoeirista, Amaro teve que superar alguns obstáculos. Entre eles, enfrentar dificuldades financeiras, trabalhar como revendedor de roupas e calçados e ao mesmo tempo dar aulas particulares de capoeira para se manter.

“Lutei muito até chegar aqui, mas no final, todas essas experiências me ajudaram a gerenciar melhor a academia e aprender sobre o mundo comercial”, afirma.

Para ele, a capoeira é uma filosofia de vida, em que o jogador deve priorizar a saúde, evitando o uso drogas, se alimentando corretamente e treinando. Para isso, mestre Amaro explica que o capoeirista precisa ter disciplina e vontade de aprender.

“Dou aulas há 44 anos e ainda não sei tudo. A capoeira é uma arte infinita, não dá pra defini-la como apenas como um estilo de luta ou uma dança. Ela é uma expressão cultural”, afirma.

Mestre Amaro, 59, um dos pioneiros da capoeira paulista @Renan Omura/Agência Mural

Sobre a história da capoeira, Amaro explica que o gingado surgiu com os movimentos feitos pelos escravos ao desviarem das chibatadas. 

Para ele, a capoeira e outras expressões ligadas a cultura afro-brasileira, como o maculelê, o samba, as religiões de matrizes africanas, foram rejeitadas por parte sociedade.

A prática da capoeira, por exemplo, foi considerada crime, mesmo depois da Lei Áurea e foi proibida de 1890 a 1937. Somente durante o governo de Getúlio Vargas foi reconhecida como esporte nacional e, desde 2014, faz parte do patrimônio imaterial da humanidade, reconhecida pela Unesco.

“Isso está relacionado com o passado histórico do Brasil, mas conseguimos resistir com o nosso diferencial, e a Academia Marinheiro está completando 41 anos”, relata.

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Em decorrência da pandemia, as aulas estão sendo ministradas de forma individual. Nas contas do capoeirista, mais de mil alunos já foram formados.

Hoje, a academia está localizada no 3° andar de um prédio, no centro de Suzano, e é renomada no mundo da capoeira, porém para conquistar esse espaço, mestre Amaro teve que superar diversos obstáculos.

Nascido no distrito de Tucuruvi, zona norte de São Paulo, enquanto a mãe fazia uma visita de emergência. Porém, logo voltou a Salvador, na Bahia, onde teve o primeiro contato com a capoeira.

“Tive o privilégio de nascer em um berço de capoeiristas. Meu pai e meus tios começaram a me ensinar quando eu tinha 3 anos”, relata.

Pouco tempo antes de nascer, o pai tinha ganhado na loteria, porém acabou gastando todo o dinheiro sem fazer investimentos. Isso fez com que Amaro, desde jovem, planejasse com cautela os gastos.

“Foi um momento difícil. Certa vez um bandido entrou em casa e roubou até as vestimentas do meu pai. Já não tínhamos dinheiro guardado. Esse acontecimento me marcou”, afirma.

Aos 14 anos ele se mudou para São Paulo. Morava com as tias e queria estudar para se tornar advogado, mas alguns anos depois, foi morar sozinho no Bairro da Liberdade.

Para se manter, ele ministrava aulas particulares de capoeira e atuou na área de finanças em diversas empresas. Outro meio que Amaro encontrou para complementar a renda, foi vender roupas e calçados de marcas para universitários. No entanto, mesmo trabalhando duro, enfrentou dificuldades financeiras. 

“Cheguei a passar fome aqui. As pessoas achavam que eu estava magro por causa dos treinos de capoeira, mas era fome mesmo. O padrão de vida aqui em São Paulo é muito caro”, conta.

Em 1976, Amaro visitou o Exército da Salvação, em Suzano, para assistir uma aula de José Pereira, o mestre Pantera Negra. O jovem capoeirista ficou durante alguns anos sendo treinado por José, e se graduou em 1980.

Nesse mesmo ano, o Pantera Negra o convidou para trabalhar junto em uma academia de capoeira em Poá, na Grande São Paulo. Amaro aceitou e após seis meses, recebeu outra proposta. Dessa vez, ele comandaria uma academia em Suzano, na cidade vizinha. 

“O mestre Pantera Negra, disse que a escola chamaria Academia Marinheiro e um dia eu compreenderia o significado do nome. Hoje estou começando a entender. Marinheiro não tem amarras e não tem medo do mar revolto”, afirma. 

Entre a década de 1970 e 1990 houve uma ascensão da capoeira em São Paulo. Mestre Amaro usou o conhecimento na área financeira, a habilidade na capoeira somado com o bom momento para consagrar o seu nome. 

Passaram-se 41 anos e o mestre Amaro continua com o trabalho de difundir a expressão cultural em todas as camadas sociais. O capoeirista afirma que nas aulas, ele preza pela igualdade e todos os alunos têm que se vestir da mesma forma. Um calça de lã branca e uma camiseta branca. 

O JOGO

Mestre Amaro explica que o termo correto é “jogar” capoeira, e não “lutar”, pois a expressão cultural vai além dos golpes. A arte envolve dança, música e cultura popular.

Geralmente a roda de capoeira é composta pela ladainha (cântico entoado), por três berimbau diferentes (gunga, médio e viola), um atabaque, um reco-reco, um agogô e um pandeiro.

Na roda, o berimbau rege o ritmo e os capoeiristas jogam seguindo o toque do instrumento. Amaro também ensina que durante o jogo, existe uma conversa subjetiva no cântico entoado, no toque dos instrumentos e no ritmo.

“Um capoeirista ‘mandingueiro’ é aquele jogador diferenciado. Que sabe o que faz. Na minha visão, além de efetuar golpes com maestria e seguir o toque, também sabe empunhar um berimbau”, afirma mestre Amaro.

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