Numa “festa danada”, eu, filho de uma empregada doméstica nordestina, aproveitei uns dias de férias e fui fazer algo que me revigora na vida: viajar por aí.
É caro e privilégio, reconheço. Mas eu também sei de onde vim. Nos barracos de madeira em favelas ocupadas na infância, aqueles lugares só seriam vistos por meio de filmes e novelas.
E, de repente, quando me vi comendo um bacalhau em Lisboa (não gosto de peixe) ou fumando maconha em um coffeeshop de Amsterdã (que também não fumo no Brasil, apesar da cara de maconheiro e do jeito lesado), eu agradeci.
Quero experimentar. Vislumbrado, registro tudo. Compartilho o que posso pois quero dividir uma felicidade que não me cabe. Transcendo. Mesmo com o dólar mais alto da história e com o ministro da Economia, Paulo Guedes, chateado porque tem empregada indo à Disney para justificar a quantia.
Não é desejo dele, mas os empregados também podem se divertir dentro e fora do seu país; onde quiserem. Os patrões que lutem.
Sonho conhecer a Tailândia, miro uma viagem para Serra da Capivara, no Piauí. Já fui parar em dois estados nordestinos e quatro países europeus. Sorri todos os dias, mesmo quando caí doente e percebi que nem tudo é só uma questão de privilégio.
Há escolhas minhas para isso: não tenho carro, moto, roupas caras, bens. Não ligo pros padrões.
Por outro lado, tenho sorte, sonhos, pressas, gratidão, muitas dívidas. Tenho uma bagagem de novos bons amigos e o melhor: interessantes histórias para contar, como a da minha amiga Raquel Gomes, moradora da zona leste, que viajou por cinco continentes.
Sem contar os clientes do Macedo, dono de um pet shop da zona norte, que divulgam cartazes do estabelecimento ao redor do mundo.
Ah, também tenho uma mãe incrível que dá todo suporte afetivo e não faz questão alguma de ir pra Disney. Mas que pode se divertir em qualquer lugar do mundo.