O samba tem tradição e muito espaço garantido na zona norte de São Paulo. Além do Sambódromo do Anhembi, palco principal dos desfiles, encontramos nesta área seis das 14 escolas de samba do Grupo Especial de 2017, que desfilarão na noite desta sexta-feira (24) e de amanhã (25). O destaque para essa comissão grandiosa de agremiações fica com a região administrada pela prefeitura regional da Casa Verde, com três entre as principais escolas do carnaval paulistano.
A harmonia é tanta que Unidos do Peruche e Mocidade Alegre são vizinhas, dividindo a rua Samaritá, no bairro do Limão, enquanto a Império da Casa Verde fica a aproximadamente 2 km de distância das duas, na avenida Engenheiro Caetano Álvares, no bairro da Casa Verde. Na comparação com toda a capital paulista, a região só perde para a Lapa, na zona oeste, que tem quatro escolas entre as principais deste ano.
Essa concentração de escolas na zona norte da cidade se repete todo ano e tem uma explicação histórica, segundo o professor Alberto Ikeda, pesquisador da cultura negra e especialista em carnaval. “A partir da década de 30, os negros passam a migrar para a região por conta da especulação imobiliária de regiões mais centrais, como Barra Funda, Bixiga e Glicério. Nessas novas áreas se concentram a prática do samba e uma das localidades dessa mudança, para depois do Rio [Tietê], é a Casa Verde”.
Na região, desde a sua oficialização, em 1956, a Unidos do Peruche é uma das mais tradicionais do carnaval paulistano. A componente de ala da escola, Janete Pádua, 57, relembra dos desfiles na rua Zilda. “É uma rua tradicional famosa no Peruche. Meu tio saía vestido de rei e eu tenho essa lembrança de pequeninha. A rua Zilda para o Peruche é como a avenida Paulista para São Paulo”, compara.
No quesito familiar, Janete destaca o envolvimento dos grupos da comunidade. “Há muitas famílias na escola. Venho com a minha filha, minha sobrinha, meu irmão vem com a noiva, vem meu genro, todos estão aqui. Sem contar os aniversários que acontecem. Tenho amigos que moram na Aclimação, desfilam na Vai-Vai, mas vêm comemorar, em plena segunda-feira, aqui na Peruche”, conta.
Oficializada em 1968, quando os ensaios ainda aconteciam em ruas da Vila Mariana, a Mocidade Alegre mudou-se para a avenida Casa Verde em julho de 1970 e transformou um terreno onde funcionava um ferro-velho na “Morada do Samba”. “A comunidade abraçou a Mocidade como a escola do coração pelo trabalho que faz e que desenvolve como escola de samba. É com certeza um ponto de referência na zona norte”, diz Pedrão da Bateria, como é conhecido Pedro dos Santos, 57, ritmista, que começou na escola aos 13 anos.
Em 2013, a agremiação foi para o endereço atual, também no bairro do Limão. Contudo, Pedrão afirma que em breve ela deve ir para um novo espaço. “A escola está prestes a ir para as proximidades da Ponte da Freguesia do Ó, onde futuramente será nossa sede. Mas, sem deixar os trabalhos sociais aqui na comunidade”.
Com o distrito e o bairro em seu nome oficial, a Império da Casa Verde, mais nova do trio, se mantém firme no seu endereço desde sua fundação, em 1994. Quem passou por mudança de CEP foi Theba Pitylla, 32, musa da escola, que não deixou a agremiação onde seu coração faz morada. “Estou na Império há 15 anos. Até dois anos atrás, eu morava na rua de trás da escola, mas casei e mudei para zona leste”, diz. “Eu amo a escola e o bairro. Sinto falta. É uma escola que cresce a cada ano. E já não há como falar do bairro da Casa Verde sem falar da Império e vice-versa”, se emociona.
Foto principal: Rafael Neddermeyer/LIGASP