Os estudantes do CEU (Centro Educacional Unificado) Formosa, na zona leste de São Paulo, continuam sem aulas presenciais mesmo após a reabertura das escolas em toda a rede municipal. A unidade está interditada por problemas no sistema hidráulico e até agora nenhuma obra foi iniciada no espaço.
O anúncio da interdição foi divulgado na página do Facebook do CEU no fim de agosto deste ano. Sem dar detalhes, a publicação avisava apenas que o atendimento dos funcionários seria feito de forma virtual até que o complexo fosse liberado.
Mas antes disso, em fevereiro, outra publicação na rede social já havia anunciado que as aulas presenciais nas unidades da EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental), EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) e CEI (Centro de Educação Infantil) do complexo não seriam retomadas porque o espaço sofria com “problemas de abastecimento de água”.
É a segunda unidade que passa por problemas que impedem a volta presencial. Nas últimas semanas, a Agência Mural mostrou que o CEU Capão Redondo, na zona sul, também foi interditado depois que a Defesa Civil constatou a movimentação das placas de concreto do prédio.
Na Vila Formosa, os pais dos estudantes ainda não foram informados sobre quando os filhos poderão retornar para o ensino presencial. Enquanto isso, os alunos seguem com aulas virtuais.
EFEITOS DO DISTANCIAMENTO
A filha da ajudante de cozinha Jeane Almeida do Vale, 38, está na fase de alfabetização e a mãe precisa se desdobrar para ensinar as primeiras palavras para a menina. “É complicado porque ela ainda não sabe ler. Às vezes eu explico uma coisa e ela fala que a professora não explica assim”, conta a moradora da Vila Formosa.
A distância da escola também impactou a filha de Joane Prates, 36. Com 13 anos, a adolescente teve dificuldades para acompanhar as aulas online e a família logo percebeu os efeitos do distanciamento na saúde mental da menina.
“Ela ficava nervosa e eu fui ao médico para avaliar. Ele passou um calmante para ela”, conta Joane. Pouco tempo depois, a adolescente começou a frequentar o CCA (Centro para Crianças e Adolescentes) do bairro. “Lá descobri que a minha filha tinha desenvolvido um transtorno mental por ficar muito tempo em casa.”
Para ajudar a filha, Joane decidiu transferir a menina para outra escola da região, a EMEF Vicentina Ribeiro da Luz, no Parque Santo Eduardo.
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A ajudante Jeane também tentou transferir a filha Gabriely, 7. Mas a Secretaria Municipal de Educação ofereceu uma vaga na Escola Estadual Duque de Caxias, que fica a quase 2 km da casa da família — o equivalente a mais de 20 minutos de caminhada.
Nesse caso, a transferência de escola se tornou um problema. Apenas alunos que moram a mais de 2 km de distância da unidade escolar têm direito ao transporte escolar gratuito.
Jeane chegou a cotar transporte particular, mas não tinha condições de pagar a mensalidade e manteve a matrícula da filha no CEU. Desde então, ela aguarda por uma vaga na EMEF Vicentina Ribeiro da Luz.
PROBLEMA ANTIGO
Moradora há 30 anos da Vila Formosa e uma das frequentadoras do CEU, Ana Lúcia Rocha, 59, diz que o problema no sistema hidráulico da unidade é antigo e deveria ter sido resolvido antes do período marcado para a volta às aulas.“É um dano e uma perda muito grande para a população [o fechamento do CEU].”
Ela faz parte do “Movimento pelos CEUs”, organização que acompanha as demandas dos espaços, e diz que o grupo vai solicitar uma reunião com a gestão do CEU Formosa e a Secretaria Municipal de Educação para falar sobre o problema.
“Vamos solicitar uma reunião para ter esclarecimentos e prazos. Entender o que aconteceu para, nesse período todo, não ter tido uma solução”, afirma.
Entre os pais circula a informação de que a caixa d’água do complexo estaria comprometida.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo não deu detalhes sobre o problema na unidade e disse apenas que abriu uma licitação no dia 10 de setembro para efetuar o reparo na rede hidráulica do CEU.
Segundo a prefeitura, os estudantes permanecerão em atendimento remoto até que a situação seja normalizada.