Em Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, a força do vento de sexta-feira (4) destelhou prédios da região e a falta de energia se estendeu por até cinco dias, levando a prejuízos para moradores do bairro. Também houve falhas com o sinal da telefonia móvel, que só funcionava a partir da Avenida dos Metalúrgicos em diante.
A luz da minha casa apagou e acendeu algumas vezes, mas o meu roteador e minha máquina de lavar pararam de funcionar. O roteador será trocado pela empresa de internet do bairro, mas a máquina vamos ter de pedir para Enel o ressarcimento deste prejuízo. Muitos por aqui terão de fazer isso.
O porteiro Gláuci Oliveira, 52, calcula ter um prejuízo de R$ 1300 somente com as telhas. “Complicado. Infelizmente, por causa disso daí vai sair do meu bolso e com certeza, ninguém vai poder me ajudar. Mas eu não posso deixar destelhado, né? Senão minha casa molha tudo. Mas, tá bom né?”
Ele e outros moradores tiveram o restabelecimento da energia apenas na terça-feira (7), na rua José Martinez, no Setor Ferroviário. “Não cheguei [a ligar para Enel] porque eu não tive tempo. Mas os vizinhos chegaram a ligar muitas vezes. Tem vizinho que chegou a ligar mais de 100 vezes aqui, mas só dava lá “no momento, não podemos atender” e nada mais, só isso.”
Entre outras perdas, estão alimentos como leite e carne. A Enel foi na terça-feira de manhã, junto com o subprefeito da Cidade Tiradentes, Lucas Sorillo.
A autônoma Vanessa Sampaio, 43, também teve prejuízos com alimentos. “Meu pai só não teve porque ele conseguiu colocar em um freezer do amigo dele. Agora os vizinhos aqui, todo mundo falou que teve”, relata.
Após a chuva e a ventania, muitas pessoas deixaram as telhas que soltaram nas esquinas. Uma árvore muito antiga caiu impedindo a passagem de veículos. Na rua Antônio Rodrigues da Silva Júnior, um murinho de tijolos baiano que servia de apoio para uma caixa d’água de uma casa caiu.
Na noite de terça-feira (7), a Enel afirmou que resta normalizar o fornecimento de energia para cerca de 30.200 clientes que foram impactados pelo vendaval na última sexta-feira, o que representa 1,43% do total de consumidores afetados.
“Dos registros totais de clientes com falta de luz com mais de 24h, são cerca de 107 mil, incluindo os 30.200 de sexta-feira”, diz a empresa. A companhia diz que está atuando com mais de 3 mil técnicos nas ruas.
Quem vai pagar?
Na segunda-feira (6), o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos) anunciou que a Enel junto às concessionárias de energia vão ressarcir os prejuízos da população e pediu agilidade no pedido dos clientes. Para isso, pretendem criar um plano espacial de atendimento, mas não forneceu detalhes nem prazos para isso.
Também falou sobre um plano de contingência para viabilizar a chegada das equipes para reestruturação da rede de fiação. Até o momento, apenas 0,3% foi enterrada em uma rede de 20 mil km de fios.
Em nota ao G1, a Enel disse que cumpriu 100% a meta de enterramento da rede elétrica, conforme contrato de contrato de concessão.
No entanto, o volume só abrangeu as regiões centrais. “65,2 km de redes, sendo 52 km no centro, 9 km na região do Mercado Municipal e 4,2 km na Vila Olimpia.”
Segundo o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o enterramento total da rede elétrica teria um custo total de R$ 20 bilhões e que seria impossível fazer o aterramento de toda a rede. O prefeito não exclui a possibilidade de dividir essa conta com a população, o que chamou de “contribuição de melhoria”.