O Observatório Popular do Clima ABC, grupo formado por ativistas, militantes e moradores das cidades de Santo André, Mauá e zona leste de São Paulo, fazem um ato nesta sexta-feira (25), para alertar sobre os impactos no meio ambiente na Grande São Paulo.
O ato previsto para às 17h na Avenida das Nações, 2878, em Santo André, prevê uma caminhada por vias da região até a capital para conscientizar sobre o tema e cobrar políticas públicas pela redução de poluentes.
Estudante de Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC) e membro do Observatório, Everton Farias, 22, afirma que é fundamental a mobilização da população preocupada com os impactos do aquecimento global, sobretudo às famílias que vivem em situação de vulnerabilidade.
“Vivemos em um cenário de emergência, precisamos pressionar, conscientizar e agir para que políticas públicas de mitigação tornem prioridade nas agendas dos governos a níveis municipais, estaduais e federal”, comenta Everton.
“Nós – classe trabalhadora, mulheres, pessoas negras, estudantes, favelados e faveladas – somos os que mais sofrem com os impactos das mudanças climáticas e da atuação de indústrias poluentes em nossos territórios”, diz texto do protesto, que faz parte do Fridays For Future (Sextas-feiras pelo Futuro), um dia em que movimentos sociais somam em defesa do futuro possível para a humanidade, movimento iniciado pela jovem sueca Greta Thunberg, em 2018.
Polo Petroquímico
No ABC, o principal ponto de discussão são os efeitos do Polo Petroquímico, em Capuava, que fica no limite entre as cidades de Santo André e Mauá, na Grande São Paulo. A empresa fabrica produtos para segmentos da indústria automotiva e alimentícia, como embalagens.
Moradora do Jardim Sônia Maria, em Mauá, a dona de casa Maria Silva, 57, participa de grupos nas redes sociais que reivindicam melhorias para a região.
Ela nasceu e cresceu no bairro e na infância viu a inauguração do Polo Petroquímico, no início da década de 1970. “Meus pais compraram um lote, construíram a casa, acompanhei o crescimento da indústria de química”.
Maria tem problemas de tireóide, glândula que produz hormônios que atuam no metabolismo – pode causar diversos problemas, como emagrecimento acelerado ou facilidade para engordar (entre outros sintomas) dependendo do tipo de distúrbio.
O irmão mais velho dela é autista e também sofre com o problema. Ela descobriu numa consulta médica que a doença pode estar relacionada ao fato de residir próximo da empresa, por causa dos poluentes.
“Quem mora no entorno do polo tem problemas respiratórios e tireóide. O cheiro é forte e as residências vivem com sujeira da fuligem preta e oleosa há anos”, afirma.
Ela junto com outros moradores tiveram reuniões com o Cofip ABC (Comissão de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC), os representantes negaram que o problema exista. “A descrença na justiça é grande, o sentimento é de tristeza. Sou avó tenho dois netos. Penso: é isso que vou deixar para o futuro deles”? questiona.
Para a professora e médica endocrinologista Maria Angela Zaccarelli Marino, pesquisadora que estuda há 31 anos casos de doenças relacionadas com pacientes que moram entorno do Polo Petroquímico, os agentes químicos das indústrias derivadas do petróleo liberam uma fumaça escura que pode ocasionar problemas de saúde.
Ela afirma que houve aumento de incidência de homens e mulheres com hipertireoidismo primário e a falta de hormônios tireoidianos, doença inflamatória em que a glândula produz anticorpos contra ela mesma, e pode levar à morte. “Precisamos cuidar da população residente próximo da indústria para ter uma qualidade de vida melhor”, avalia.
Procurada, a Cofip ABC afirma que apresenta intensa atividade industrial, congregando os mais diversos setores produtivos, no Polo e fora dele, e muitas indústrias não são associadas ao grupo. “Monitoramos sistematicamente, dia e noite, seus processos produtivos, para reduzir possíveis impactos ambientais na região”.
Referente às medidas da empresa, as fontes fixas associadas ao Cofip ABC são controladas e fiscalizadas, estão dentro dos limites impostos pela Legislação Ambiental do Estado de São Paulo.