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Coletivo de Santana de Parnaíba cria especial audiovisual sobre LGBTQIA+ na cidade

Por: Amanda Atalaia

Lançado nesta sexta-feira (28) com o tema “orgulho de ser”, um ensaio fotográfico e documentário mostram a presença e a busca por respeito de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexo e pansexual em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo. O trabalho marca o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+ na região.

“Aqui não existem espaços acolhedores e saudáveis para a comunidade estar. A gente tem que ir para o centro de São Paulo. Além disso, se tivesse algum ambiente, acredito que teria um grande hate da população que não é LGBT”, afirma Ma Carrão, 24, uma das idealizadoras do projeto.

Ma é uma pessoa preta, não binária, moradora do bairro Cidade São Pedro, produtora cultural e fundadora do Clube das Afeminades, coletivo que realiza eventos, encontros e saraus para promover a visibilidade do movimento LGBTQIAP+ em Parnaíba.

Fotógrafa e trancista, Beatriz Araújo, 22, é moradora do bairro da Fazendinha e engajada com os movimentos culturais da cidade, onde conheceu Ma em um dos encontros.

Ma Carrão e Beatriz Araújo comentam sobre o ensaio fotográfico @Amanda Atalaia/Agência Mural

Conhecidas de longa data, elas ligaram o conhecimento de Beatriz no audiovisual ao propósito do clube, e idealizaram a ideia em meados de abril.

O ensaio e as gravações contaram com a participação de sete pessoas pretas LGBTQIA+, moradoras e ex-moradoras da cidade, cada uma representando uma cor da bandeira. Parte delas conheciam o coletivo e outra parte conheceu a partir da sessão de fotos.

‘A ideia do clube é falar sobre a comunidade e também sobre os outros problemas que surgem dentro da sociedade, como o racismo e o machismo, por isso a escolha de sete pessoas LGBTs, mas também pretas’

Ma Carrão, moradora do bairro Cidade São Pedro

“Pensamos em retratar a vivência, o orgulho e a felicidade, o orgulho de ser quem você é, não apenas a luta e a resistência, que também é importante e existe”, destaca Beatriz.

O QUE CADA COR REPRESENTA

Estabelecida pelo ativista Harvey Milk, em 1977, e lançada no ano seguinte na parada gay de São Francisco, nos EUA, a bandeira LGBTQIAP+ possui seis cores com significados distintos.

Vermelho – Vida

Laranja – Cura

Amarelo – Sol

Verde – Natureza

Azul – Arte

Roxo – Espírito

Branco – Pessoas não binárias.

A produção

As fotos foram tiradas em dois ambientes, na Pista de Skate e em um Campo de Futebol, ambos no bairro da Fazendinha. Nos bastidores, estavam Ma e familiares dos modelos.

A idealizadora do coletivo comenta que o grupo é descentralizado e as pessoas vão abraçando o projeto ao longo dos eventos.

Em relação aos formatos escolhidos, Beatriz justifica o porquê. “É diferente do que você vai ver nas redes sociais, além de poder contar a história das pessoas que estão nas fotos e mostrar a cidade também, ver que dá pra explorar nossos espaços aqui”.

Entre as participantes do projeto está Camilla Hermínio, 25, uma mulher bissexual, casada, atualmente moradora do bairro Guaturinho, em Cajamar, cidade vizinha de Parnaíba, mas que passou toda a infância e juventude no bairro Cidade São Pedro, bairro periférico parnaibano. A jovem representou a cor verde no ensaio fotográfico.

Para ela, a ideia de reunir pessoas que não se conheciam, foi uma experiência diferente. “Quando tínhamos que abraçar, a gente abraçava, quando tínhamos que rir, a gente dava risada, essa conexão de pessoas que não se conheciam, mas que compartilhavam de vivências parecidas, foi o que eu mais gostei”.

Modelos posicionados para os cliques @Amanda Atalaia/Agência Mural

“Quando aceitei o convite, foi emocionante para mim. Participar de um projeto para falar sobre o orgulho de existir, o orgulho de ser quem eu sou, permitir que a minha voz fosse ouvida e eu fosse visto”, comenta Marco Valencise, 22, morador do bairro da Fazendinha.

Marco, que representou a cor vermelha, diz que ao fazer parte do projeto, pôde representar outras pessoas, conquistas, lutas e objetivos. “É gratificante quando a gente conhece pessoas que estão na mesma luta que você, que acreditam na mesma verdade que você acredita”.

Com a cor laranja, Vitor Mateus, 20, homem cis, gay e morador do bairro 120, diz que o ensaio foi fundamental para fomentar o orgulho coletivo. “Pudemos nos fortalecer coletivamente, tivemos trocas ao nos olharmos olho a olho, nos auxiliamos na preparação, construímos laços e dialogamos sobre nossas autodescobertas”, comenta.

Além disso, o ensaio ajudou na aproximação das pessoas LGBTs que vivem em Parnaíba, o que era mais difícil. Mãe, professora e feminista, Gláucia Franca, 34, mulher cis, pansexual, se mudou para Parnaíba há pouco tempo e comenta suas percepções sobre o movimento na região.

“Foi difícil para mim localizar onde estava as pessoas LGBTQIAPN+ de Parnaíba. Eu conhecia pessoas isoladas e eu mesma me sentia muito isolada, então acredito que muita coisa precisa mudar. Eu não me sinto acolhida aqui na cidade”, afirma.

‘Ver esse pessoal mais novo assim engajado na causa me traz a certeza de que estou no caminho certo’

Gláucia Franca, moradora de Santana do Parnaíba

Ela expõe que passou a entender a liberdade como algo inegociável. “A liberdade sexual pra mim foi uma grande descoberta e eu entendi que eu gosto de pessoas independente de seus corpos”.

Para ela, o ensaio fotográfico lhe permitiu refletir sobre como o movimento LGBTQIAP+ mudou e está evoluindo. “Não conhecia ninguém e uma galera muito nova participou. Quando eu tinha 20 anos, como eles, nem passava pela minha cabeça participar de um movimento como esse”.

O movimento LGBT e o poder público em Parnaíba

Beatriz fala sobre a falta de apoio e incentivo da prefeitura na realização de eventos culturais. “Não temos fácil acesso à prefeitura e eu não acho que há investimento na cultura urbana, apenas se for algum evento tradicional, não há divulgação”.

Glaucia, em azul, com participantes mais jovens do projeto @Amanda Atalaia/Agência Mural

Camilla ressalta que, se os movimentos locais fossem vistos, haveria um impacto muito grande na comunidade. “Essas iniciativas abririam portas, porque a gente sabe a força que o poder público tem de disseminar informações”.

“Falta investimento em movimentos voltados não só para a comunidade, mas para a arte, cultura e lazer, que agreguem conhecimento cultural e literário para a sociedade”, Camilla Hermínio

Para saber mais sobre o ‘Orgulho de ser’, acesse @clubedasafeminades.

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