Criado em 2004, a partir da iniciativa de Geisson Silva, 29, o coletivo Cinemateus atua no campo sociocultural do distrito de São Mateus, utilizando o audiovisual como ferramenta de transformação da realidade de jovens da região, através do ensino das técnicas audiovisuais, produção de conteúdo para mídias sociais e exibição de filmes.
Silva, à época com 16 anos e estudante de escola pública, decidiu elaborar um trabalho escolar no formato audiovisual a respeito do racionamento de água. Sem o apoio da direção da escola, o adolescente mobilizou outros jovens e articulou de forma independente a realização do curta-metragem “Riqueza”, que retratava as dificuldades de uma comunidade onde a água era escassa. Foi a partir desta iniciativa que surgiu o Cinemateus.
“Hoje, o coletivo tem uma diversidade de projetos, e sempre tivemos uma boa aceitação e envolvimento dos jovens. Creio que por ser feito de jovem para jovem, adotando a mesma linguagem e, principalmente, respeitando e compreendendo que todos têm potencial para realizar seus sonhos e contribuir com a mudança em sua comunidade”, conta Silva, educador e empreendedor social.
Dentre os projetos realizados pelo Cinemateus está o “Em Cena”, que proporciona formação técnica dentro do universo audiovisual e tem como tema transversal a identidade. Segundo o idealizador, a partir desse tema são trabalhadas questões sociopolíticas que provoquem a reflexão dos jovens para a construção da sua própria identidade, além de refletirem sobre o tema nos recortes de identidade de gênero e diversidade, do papel feminino na periferia e a identidade do negro nas comunidades.
Além dos projetos, o coletivo promove desde 2011 a campanha social “Sem Camisinha Não Rola”, realizada com o apoio da Prefeitura de São Paulo, que informa a juventude sobre a importância do uso de preservativo para prevenir gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. O curta-metragem “Qual é? Sem Camisinha Não Rola!”, produzido pelos participantes do coletivo, tem mais de 23 milhões de acessos no YouTube. Segundo o Observatório Cidadão, no distrito de São Mateus ocorreram 287 partos de jovens até 19 anos. Além disso, a região não possui nenhum equipamento cultural públicos, nenhum cinema e nenhum teatro, estando entre os piores distritos da cidade nesses quesitos.
O coletivo também incentiva seus participantes a atuarem localmente e a participarem ativamente da transformação local. “A juventude precisa se apropriar e se enxergar como dona de sua própria história, contribuindo com importantes tomadas de decisões de sua realidade em seu território”, comenta Geisson.
Para Vitor Silva do Prado, 18, a iniciativa teve grande impacto em sua realidade. Morador de São Mateus, conheceu o Cinemateus na escola e participou de um curso promovido pelo “Em Cena”. “Através das aulas, pude conhecer o lado bom do meu bairro, culturas, costumes e opiniões diferentes e isso ajudou a ser mais sociável e comunicativo. Pude perceber a riqueza da transmissão de informações positivas”, lembra. O curso proporcionou novas oportunidades ao jovem, que conseguiu seu primeiro emprego através dele. “No local onde trabalho, na área de tecnologia da informação, tiro fotos, gravo e edito vídeos com o conhecimento que ganhei no projeto “Em Cena”, diz.
Foto: meibas7/ Flickr