Pouco mais de 12 anos após a inauguração, o prédio das unidades escolares do CEU Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, foi interditado pela Defesa Civil para obras emergenciais.
O fechamento surpreendeu pais e educadores, que esperavam que o local estivesse sendo reformado durante o fechamento por conta da pandemia de Covid-19.
Enquanto as aulas presenciais foram retomadas na capital, 2.600 estudantes da unidade encontraram a escola fechada e foram transferidos para locais que ficam até 4,5 km longe do prédio.
Inaugurado em dezembro de 2008, ainda gestão de Gilberto Kassab (PSD), o CEU Capão Redondo foi anunciado pela Prefeitura de São Paulo como o “Super CEU”.
Além da infraestrutura esportiva e cultural, o espaço também conta com três unidades escolares: a CEI (Centro de Educação Infantil) Elon Macena, a EMEI (Escola Municipal de Ensino Infantil) Professora Loreanne Lallo e a EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) José Saramago.
“Na última vistoria foi constatada a movimentação das placas de concreto e a necessidade de intervenções emergenciais no local”, afirma a Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras).
No dia 5 de agosto foi formalizada a contratação de forma emergencial da Construtora Progredior LTDA. O orçamento está em fase de elaboração e ainda não se sabe o valor que será investido na reforma do prédio que custou R$ 24 milhões.
Pais de alunos e professores afirmam que o problema do prédio é antigo e poderia ter sido resolvido antes da volta às aulas presenciais.
“No ano passado foi realizada uma vistoria e foi constatado que havia problemas estruturais”, afirma Priscila*, professora da José Saramago. O nome dela foi trocado a pedido da educadora, que tem receio de ser afetada.
“Inicialmente, descobriram algumas rachaduras na EMEI e aí foram investigar e encontraram rachaduras também no CEI e na EMEF. Então, somente neste ano, eles interditaram as três unidades.”
LEIA TAMBÉM:
Profissionais da educação relatam medo, falta de protocolo e alunos com fome
A educadora conta que não houve nenhum diálogo entre os trabalhadores da escola e a DRE (Diretoria de Ensino) do Campo Limpo ou a SME (Secretaria Municipal de Educação).
A interdição chegou em forma de aviso e funcionários e alunos foram surpreendidos com a informação de que seriam transferidos para outras escolas do Capão Redondo.
“Pensávamos que a reforma estava sendo providenciada”, diz a psicóloga Hélia Maria de Sousa Oliveira, 53, psicóloga, mãe de aluna da EMEI.
“No dia em que estava sendo distribuída a cesta saudável na escola, assinamos um abaixo-assinado solicitando reforma já, mas nada adiantou. Quando foi anunciada a retomada presencial veio a bomba: não haviam feito nada”, reclama.
MUDANÇA INESPERADA
Com a transferência dos alunos, pais relataram receio de perder a vaga conquistada no CEU. Um deles é José* (nome fictício), pai de dois alunos na Emef José Saramago e que também pediu para não ter o nome divulgado.
“Há uma diferença grande entre transferência provisória e matrícula. Nós tivemos que fazer a matrícula das crianças. Eles devem voltar [para o CEU], mas eu terei que lutar, como estou lutando agora para que as aulas remotas dos meus filhos permaneçam como antes na nova escola”, afirma.
Para ele, a volta presencial poderia ter sido adiada, já que o CEU está interditado. “Faltam quatro meses para o término do ano letivo, a maioria dos alunos estava fazendo aulas remotas, então era só continuar.”
Uma das principais reclamações da comunidade escolar do CEU Capão Redondo diz respeito a forma com que alunos e professores foram transferidos logo que houve a interdição do prédio.
A SME afirma que os estudantes foram agrupados e transferidos em conjunto com os professores que já os acompanhavam nas escolas. No entanto, essa informação não foi confirmada por moradores ouvidos pela Agência Mural.
LEIA TAMBÉM:
Nosso imposto foi levado pela enchente, diz morador do Capão Redondo
No caso da EMEF José Saramago, que atende crianças entre 6 e 15 anos, e é a única escola da região com polo bilíngue para surdos, a transferência foi feita de duas formas.
Os alunos do polo bilíngue, a maior parte dos professores e intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais), foram acomodados juntos na escola municipal José Francisco Cavalcante.
Segundo pais, os demais estudantes foram enviados para três escolas: a Euclides de Cunha, que fica a cerca de 2 km do CEU; a João Pedro de Carvalho Neto localizada a cerca de 1,5 km de distância da escola interditada; e a Mario Rangel que fica a 600 metros do CEU.
“A transferência foi uma total falta de respeito. Foi feita de maneira desorganizada e sem preocupação alguma pedagógica ou social, simplesmente empurraram todos os alunos para outras unidades”, ressalta José.
Os professores também tiveram que ser transferidos, mas para esses profissionais os critérios adotados seguiram outra lógica.
“Nós recebemos uma nova atribuição no início de agosto e tivemos que escolher as sobras da DRE Campo Limpo. Muitos professores caíram de jornada e perderam parte do salário. Tem professores que, para não perder o salário, estão dando aulas em quatro escolas”, diz Priscila.
No caso dos alunos da EMEI Professora Loreane Lallo, que atende crianças na faixa etária de 4 e 5 anos, todos foram transferidos para a escola Dante Moreira Leite, unidade que estava fechada desde 2019 para reforma e que vai acomodar todas os alunos da unidade interditada.
Essa transferência causou questionamentos por conta da distância de 4,5 km do CEU e pelo tamanho da escola, que possui três salas a menos que a EMEI do CEU, o que obrigará novas adequações, como um rodízio de alunos.
Sobre o transporte dos alunos para as outras unidades escolares, a SME informou que “os alunos que optarem pelo modo presencial terão acesso ao TEG (Transporte Escolar Gratuito), caso necessário”.
Entretanto, alguns pais afirmaram que ainda não conseguiram aderir ao TEG e que estão com dificuldades para enviar os filhos para as aulas presenciais.
De acordo com informações obtidas com funcionários da CEI Elon Macena, os bebês matriculados nesta unidade seguem em atendimento à distância. Apenas algumas crianças, que necessitam de atendimento presencial, foram transferidas para outras escolas da região.
OBRAS MILIONÁRIAS
Além do prédio interditado pela Defesa Civil onde ficam as escolas, o CEU Capão Redondo conta também com três piscinas (olímpica, recreativa e infantil), duas quadras poliesportivas descobertas e uma coberta, além de um teatro para 196 pessoas e espaço multiuso.
A empresa responsável pela construção, a Schahin Engenharia, também foi responsável pelas obras do CEU Feitiço da Vila e do CEU Guarapiranga, todos empreendimentos localizados na zona sul e entregues em 2008. Juntos, os três equipamentos custaram cerca de R$ 74 milhões.
Apesar do valor do investimento, essa não é a primeira vez que os alunos do CEU passam por esse tipo de situação.
Em junho de 2008, duas semanas após a inauguração, o CEU Feitiço da Vila, que também fica no Capão Redondo, apresentou rachaduras em vários locais do prédio onde fica a escola.
Na época, a SME afirmou que não havia risco para os alunos e que o aparecimento de rachaduras era normal. Contudo, as aulas foram suspensas para que o prédio passasse por reparos.