“Todo ano políticos vêm aqui e pedem o nosso apoio como mobilizador de votos. Mas não conhecem as demandas regionais porque não moram aqui”, diz o camelô Daio Viana, 62.
Morador do Itaim Paulista, no extremo leste de São Paulo, há décadas, ele ao lado de moradores do bairro decidiram tentar mudar essa percepção. Viana é candidato a vereador pelo PDT (Partido Democrático Trabalhista) e entrou na corrida com apoio de uma associação.
A candidatura, que o grupo denomina de “individual e coletiva”, tem como pano de fundo o apoio da Uniforça, uma associação de moradores no bairro que faz serviços em apoio à moradia e alimentação.
Na última eleição municipal, em 2016, nenhum candidato do bairro foi eleito, apesar que 415 candidatos receberam pelo menos um voto na Zona Eleitoral do Itaim Paulista, mas de acordo com os respectivos gabinetes dos 55 candidatos nenhum é morador do distrito.
De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a cidade de São Paulo recebeu 1.997 pedidos de registros de candidaturas ao cargo de vereador – um aumento de 50% em relação às eleições de 2016.
Levantamento da Agência Mural aponta que 15 candidatos são do Itaim Paulista. A reportagem consultou os 33 partidos para saber quem são os nomes da região – não há nenhuma mulher do bairro na disputa, segundo as legendas.
Para a líder comunitária Fernanda Silva, 38, não ter representantes do Itaim Paulista no legislativo é um reflexo da falta de interesse e confiança na política pelos moradores.
“O orçamento da Subprefeitura do Itaim Paulista e Vila Curuçá é um dos piores comparados a regiões centrais com menor índice populacional. E muitos não sabem da importância de eleger alguém que mora no bairro”, diz Fernanda.
Vale ressaltar que o vereador tem como função representar toda a cidade, mas ter alguém do bairro costuma ter peso quando políticas públicas de uma determinada região entram em discussão na Câmara Municipal ou no encaminhamento de verbas.
Viana aposta no apoio de líderes comunitários da região, pastores, professores, comerciantes e outras pessoas que já foram assistidas pela associação Uniforça. Pautas como habitação e regularização do trabalho informal são prioridades. “Sou conhecido no Brás como o Véio das Cortinas, onde tiro o meu sustento e o da minha família. Sei da luta que é do corre: corre ao ver a polícia”.
Ele enviou um ofício e entregou a Antônio Neto, candidato a vice-prefeito na chapa de Márcio França (PSB), sobre moradias. A ideia é falar sobre políticas habitacionais para moradores que moram em áreas de alagamentos e também idosos.
Quem também tenta uma vaga na Câmara Municipal é o empresário Edson Coqueiro (Republicanos), 44. Filho de um militante que foi contra a ditadura, diz que a proximidade com a política e as questões sociais desde a infância o fizeram se candidatar ao cargo de vereador.
“Na Bahia, onde nasci, fui barrado de ir à escola porque meu pai se opôs ao regime militar. Contei com a ajuda de freiras e dos meus pais para continuar os estudos no período de ditadura”, conta Coqueiro.
No Itaim Paulista, ele é responsável pela criação do Núcleo de Desenvolvimento Econômico que ajuda comerciantes sem experiência a fazer um negócio lucrativo e também na geração de emprego e renda aos moradores.
Pessoalmente, por ser empreendedor, uma das pautas defendidas pelo candidato é o mercado de trabalho. “Acredito que precisamos fortalecer o comércio local para gerar emprego aqui na região”, afirma Coqueiro.
De acordo com a pesquisa “Viver em São Paulo: Trabalho e Renda”, da Rede Nossa São Paulo, feita em 2019, o morador da zona leste é o que mais sofre com o tempo gasto entre a casa e o trabalho.
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No caso do jornalista Divaldo Rosa (Republicanos), 62, é a segunda tentativa como candidato a vereador. Em 2002, ele concorreu pela primeira vez, mas não se elegeu. Ele avalia que, mesmo após 18 anos, a falta de representantes do Itaim Paulista no legislativo não mudou.
“É notório como candidatos de fora levam votos, mas os moradores que conhecem as necessidades não se elegem. Em 2002, após a eleição, decidi focar na minha carreira como jornalista regional, agora quero me dedicar a política”, conta Divaldo.
Por outro lado, ele é participante da UAB (União Afro Brasil) e quer fazer políticas públicas para jovens pretos da periferia. De acordo com o TSE, na capital, apenas 307 candidatos são de pele preta, enquanto 1.203 são brancos.
Em comum, os candidatos entrevistados afirmam que a falta de dinheiro no fundo partidário é uma das dificuldades para se fazer campanha. “Dentro dos partidos existe um financiamento de campanha por grupos de candidatos que é desigual. Então já existe uma dificuldade logo no começo”, afirma Coqueiro.