Evento reuniu 15 expositores nos dias 22 e 23 de julho, no Jardim Julieta, na Vila Medeiros
“A gente resolveu fazer esse evento na zona norte porque queríamos que as pessoas viessem conhecer as quebradas daqui”, explica Sérgio Lapaloma, o Sérgião, confundador da primeira Feira Afro da zona norte.
Barracas de artesanato, moda, cosméticos e comidas típicas da cultura negra africana trouxeram cor, cheio e sabor ao Jardim Julieta, ao lado da Avenida do Poeta, na Vila Medeiros, nos dias 22 e 23 de julho.
“Tínhamos vontade de dar possibilidades de lazer, cultura e educação perto da casa dos moradores daqui”, acrescenta ele, que viu 15 expositores darem vida à primeira edição do evento na região.
Apesar do caráter comercial, Sérgião ressalta que esse não é o objetivo da feira. Para ele, todas as peças possuem um significado maior: “Nada é apenas um simples produto”.
Um exemplo é a boneca Abayomi, que foi exposta na barraca de Yaisa Silva, do Ateliê Coisinhas de Yaiá. Ela foi criada por escravas em convés de navios que cortavam pedaços de suas roupas e davam nó nos retalhos até criarem uma boneca para as crianças. A cada nó, as mães realizavam uma oração, transformando as Abayomis em amuletos para seus filhos e filhas.
“Essas histórias precisam ser contadas, por isso a gente tá aqui hoje, para divulgar, para passar às pessoas desse bairro e de outros que visitam a feira, a nossa cultura”, assegura Yaisa.
Cultura passada não apenas aos visitantes locais. José Adão, por exemplo, saiu da zona leste para participar do evento.
“A gente começa a achar que toda quebrada é igual, mas saindo da zona leste, vindo em feiras como essa na zona norte, você percebe que as quebradas da cidade são tipo nossos dedos: todos são dedos, mas cada um é diferente do outro,” metaforiza Adão.
Ele conta que a troca de experiências entre os bairros foi o que mais curtiu no local, além da sensação de perceber que pessoas de lugares diferentes produzem coisas diferentes.
Outro aspecto da feira foi o resgate da autoestima da população negra nas periferias, que parecia estar presente em quase todas as barracas, desde a presença de bonecas negras às bijuterias com estampas afro.
“A maioria dos eventos que nós estamos acontece nas periferias porque é aqui que a gente encontra aquela mulher que trabalha o dia todo fora, que está sempre cuidando dos outros.”
“Ela quase nunca tem tempo de olhar pra si. A gente tenta sempre levantar a bandeira da valorização da autoestima da mulher negra periférica,” explica Bruna Trajano, cofundadora do Empoderadas Bijoux.
Apesar do número elevado de interessados, via redes sociais, em participar da feira, segundo os organizadores, a adesão foi baixa. Mesmo com o baixo quórum, expositores e organização afirmam que não houve espaço para desânimo.
“As pessoas podem não parar e comprar nossos produtos aqui, mas só de elas passarem, vão ter outro olhar, que tem algo a ver com elas, que representam elas”, comentou Lúcia Makena, criadora das bonecas Makena e expositora na feira.
Para o futuro, os fundadores da feira pretendem levar o projeto para outros bairros da zona norte. A ideia é que a cada edição aconteça em um local novo e também seja integrada a cultura indígena.
Paula Rodrigues é correspondente da Vila Albertina/Tremembé
paularodriguest.mural@gmail.com