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Grupo Sou Favela leva grafite para espaços coletivos no Itaim Paulista

Por: Léu Britto

Quem circula pelas ruas da Vila Curuçá Velha, no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, pode já ter cruzado com um grande mural com personagens do Castelo Rá-Tim-Bum, famosa série infantil dos anos 1990 da TV Cultura. O observador talvez tenha notado, do outro lado da rua, um grande ringue de boxe com a frase: Ergue-se.

Painel homenageia as personalidades negras do boxe, como o pugilista Maguila, a esquerda, e a pugilista Jucielen Romeu, a direita. @Léu Britto/ Agência Mural

As obras compuseram um circuito de arte de rua chamado “Memórias Negras”, uma iniciativa do coletivo Sou Favela Graffiti, que destaca a luta antirracista, evidenciando histórias, artistas e referências da cultura negra.

O coletivo iniciou seu trabalho com o intuito de reunir artistas para grafitar e produzir trabalhos comerciais em um ateliê próprio. Com o tempo, as ações culturais e as produções voltadas para a cultura Hip-Hop fizeram a ideia evoluir para a “Casa do Graffiti”, um espaço cultural na Vila Curuça que recebe visitas, realiza exposições e oferece oficinas de artes urbanas.

Grupo de crianças do bairro que se intula “Bonde do Grau” aproveitam programação da Casa e pediram foto no local @Léu Britto/ Agência Mural

“Quando precisávamos nos juntar para trocar ideia e planejar a pintura de umas telas, nos encontrávamos na casa [de algum membro do coletivo]. Aí decidimos: ‘vamos arranjar um espaço para ser nossa oficina e termos mais foco na produção’”, conta Dumeem, um dos artistas responsáveis pela gestão da Casa, ao lado dos também grafiteiros BÓ Treze, Gryllo e Cat.

O sonho saiu do papel após o coletivo ser contemplado pela Lei de Fomento à Cultura da Cidade de São Paulo, em 2023.

Grupo que representa o Sou Graffiti Favela, da esquerda para direita: Gryllo, Dumeem, Cat e Bó Treze @Léu Britto/ Agência Mural

Tinta do teto ao chão

Ao entrar pelo portão principal da Casa do Graffiti, o impacto é imediato: literalmente tudo é grafitado. Na primeira escada de acesso, assinaturas em forma de tags, bombing e freestyle preenchem duas placas pretas com os nomes de artistas, grafiteiros e visitantes.

Na escada de acesso, assinaturas de artistas preenchem placas @Léu Britto/ Agência Mural

Uma grande onda “molha” os pés de quem entra no local, dando continuidade à arte de temática do mar na parede, que tem como fundo o vulgo de BÓ escrito em letras amarelas, laranjas e pretas. Na garagem, denominada “Casa Aberta”, o teto está pintado com um mosaico de grafismos em preto e branco, do artista Jhoni Morgado.

Imagem da Casa do Graffiti, sempre “aberta” para o público @Léu Britto/ Agência Mural

Onda que embala os visitantes na entrada da Casa @Léu Britto/ Agência Mural

Arte do grafiteiro Jhoni @Léu Britto/ Agência Mural

Arte que integrou exposição do artista Sprart @Léu Britto/ Agência Mural

No segundo andar, na parede da sacada, um painel com tintas fluorescentes anunciava a exposição “De A a Z”: uma mostra com 26 artistas, cada um representando uma letra do alfabeto, com obras que expressam suas técnicas, estilos e trajetórias.

Além dela, outra exposição dividia o espaço: a “ROBOCAP”, uma parceria da Galeria Keep (galeria itinerante de arte urbana de Jundiaí) com a Casa do Graffiti, que trouxe obras em miniatura.

Painel da exposição “De A a Z” @Léu Britto/ Agência Mural

Miniaturas da exposição “ROBOCAP” @Léu Britto/ Agência Mural

Mostra foi uma parceira com Galeria Keep, projeto itinerante de arte urbana de Jundiaí @Léu Britto/ Agência Mural

Uma casa internacional da arte urbana na ZL

A casa já recebeu muitas visitas desde sua inauguração, em abril de 2024. Um dos visitantes internacionais foi o artista estadunidense Louie Diamondz, da Central Command (um espaço de projetos criativos em Miami). Ele deixou sua contribuição artística na caixa de luz da casa, desenhando seu característico “boneco”, que faz referência a um encontro de átomos.

Arte do grafiteiro Louie @Léu Britto/ Agência Mural

Exposição de foto do artista Mateus Silva também ganhou espaço na Casa do Graffiti @Léu Britto/ Agência Mural

Apesar da vontade de eternizar as memórias, na Casa do Graffiti mantém a ideia de que o grafite é efêmero. As obras ficam expostas por um período e logo dão lugar a novos murais e a novas provocações.

“O Mono González [artista chileno] veio para cá, ficou três meses em São Paulo e passou um bom tempo conosco. Ele fez um grande painel na parede do fundo, e nós o deixamos lá por um bom tempo. Mas a arte é efêmera e a renovação é inevitável. Registramos em foto, deixamos essa memória no legado da casa e ficamos felizes por sua passagem e contribuição”, diz Gryllo.

Foto registra visita do artista chileno Mono González @Léu Britto/ Agência Mural

Obra do artista chileno Mono González na Casa do Graffiti @Léu Britto/ Agência Mural

Casa do Graffiti

Endereço: Avenida Coca, 384 – Vila Curuçá

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