Nini Baciega, 35, professora e treinadora de futebol e Ana Maura, mais conhecida como Mel, também professora e jogadora de futebol amadora, além de dividirem a vida como companheiras, também dividem o mesmo sonho: ter um time de futebol, com categorias de base (de 8 à 18 anos), formado e gerido por mulheres.
Assim surgiu o Yes, em Itapecerica da Serra, que já dá os primeiros passos fincando o nome no futebol de várzea feminino na Grande São Paulo.
“Todas as envolvidas são mulheres, comissão, todas as atletas, e todas têm esse pensamento de divulgar a modalidade, de ter mais mulheres no ambiente esportivo”, afirma Nini.
O time iniciou as atividades em 2017, no torneio Neymar Five, campeonato de futebol da empresa Red Bull onde cada time possui cinco jogadoras em quadra.
Mas foi a partir de 2022 que os títulos vieram: foram campeãs do campeonato municipal de Itapecerica da Serra na modalidade de futsal e em seguida, em 2023, campeãs da taça das Favelas em Itapecerica da Serra no futebol de campo e terceiro lugar no campeonato municipal de futsal.
O Yes já corria pelos campos de várzea quando, em 2022, Nini e Mel fizeram um curso na CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que garantiu uma licença para trabalhar na introdução e iniciação da prática do futebol com crianças e jovens (a Licença C).
Ao final do curso, elas desenvolveram um projeto de conclusão de curso traçando um plano para que o Yes cresça.
O nome do time surgiu de uma tatuagem que Nini e Mel possuem em seus braços com a palavra.
Nini explica que “é uma forma de dizer ‘sim’ às coisas boas da vida”. Já tinham o projeto e o nome, então, disseram ‘sim’ e resolveram seguir adiante com o sonho que é “oportunizar meninas a praticar o esporte”.
A treinadora da equipe, Aline de Souza Santos Rodrigues, 31, profissional de educação física, também faz parte do projeto. Perguntadas sobre como é o relacionamento com outras equipes femininas geralmente comandadas por homens, Aline e Nini são enfáticas: “Funciona, é boa, fazemos fluir”.
Elas ressaltam a importância dessa união para o desenvolvimento da modalidade.
“A gente procura incentivar as meninas mesmo quando são adversárias, para que a modalidade sempre esteja crescendo”, acrescenta Nini.
Caminhos para o futebol feminino
Segundo mapeamento feito pela historiadora Aira Bonfim, a região metropolitana de São Paulo conta com mais de 140 times de futebol feminino, a cada 10 treinadores de futebol feminino, 7 são homens. Aline não vê problemas em dirigir um time cuja diretoria seja formada por homens.
“É a oportunidade de mostrar que enquanto mulheres também somos capazes de comandar equipes, seja ela masculina ou feminina, o estudo, a formação, serve para ambos os sexos”, constata a treinadora Aline, que gostaria de ser atleta ainda, mas, teve que adiar o desejo devido a uma lesão no joelho, mesmo assim se diz muito grata ao Yes pela posição que ocupa.
O Yes não tem patrocinador, e esse é o maior desafio das gestoras, que afirmam que a iniciativa se sustenta por meio das próprias meninas, e alguns apoios pontuais de campeonatos que fornecem ajuda de custo para transporte e lanche, mas nem sempre é possível contar com isso.
“A várzea é um espaço de muita raça, muito empenho, quem joga na várzea está ali porque gosta, porque ama. Não porque ganha alguma coisa, ao contrário, o que é de premiação não paga nem o que a gente gasta em transporte para estar ali, ou o que pagou para entrar no campeonato”, conclui Aline.
As criadoras do Yes dão um alerta sobre o que seria necessário para o melhor desenvolvimento da categoria.
“O futebol feminino tem crescido nos últimos tempos, mas ainda não está tão valorizado quanto deveria estar. Valorização, mais investimento, mais visibilidade”
Aline Rodrigues, treinadora do Yes
Embora listem as necessidades, elas também reconhecem que o futebol feminino vem ganhando mais espaço, e acreditam que a recém campanha da seleção brasileira na última Copa do Mundo, eliminada na primeira fase, não atrapalhará o desenvolvimento da modalidade.
“(Estou) há 15 anos jogando e vendo futebol feminino evoluindo, base crescendo, quebra de recordes de visualização na internet, comissão técnica com muitas mulheres envolvidas. Essa acaba sendo a melhor lição para o futebol feminino, não o resultado”, ressalta Nini, que tem boas expectativas para os próximos anos.
“Com certeza esse reflexo (da Copa do Mundo) pro futebol feminino vai ser positivo, vai dar retorno principalmente à base que vem agora, para desenvolver a modalidade aos poucos e colher frutos no futuro.”
Sobre fazer parte dessa história do desenvolvimento do futebol feminino de várzea, Aline define que “é um sentimento de muita satisfação”.