Política é algo que vai muito além de escolher e votar em um candidato nas eleições. Quem sabe bem disso é Bruna Costa, 24, nascida e criada no Jardim Helena, zona leste de São Paulo.
Formada em direito, desde criança ela vê o bairro onde mora ser gravemente atingido por enchentes e, cansada de esperar uma solução, arregaçou as mangas e articulou moradores, comerciantes, parlamentares e subprefeituras para resolver o problema.
“É uma questão que existe bem antes de eu nascer, há mais de 35 anos já era uma queixa de moradores antigos”, diz.
Mesmo quando chove pouco, é comum ver as ruas do Jardim Helena alagadas, o que causa riscos de saúde, segurança, além da perda de patrimônios conquistados com muito suor.
A rua onde Bruna mora não chega a alagar, mas as vias paralelas enchem de água em qualquer chuva, complicando a rotina da jovem e das outras pessoas que vivem no local. Por isso, no final de 2022, ela contatou um assessor da equipe do deputado Luiz Fernando, do PT, para articular uma saída para o problema.
Conduzir a conversa não foi um desafio para a jovem, que começou a atuar com mobilização social em 2016, administrando a página São Miguel Mil Grau no Facebook, que ultrapassava mais de 80 mil curtidas.
O objetivo era buscar ferramentas para melhorar a infraestrutura e a qualidade de vida dos moradores da Subprefeitura de São Miguel Paulista, responsável pelo distrito do Jardim Helena. Após a pandemia de Covid-19, ela optou por deixar o projeto e partir para o ativismo político, buscando soluções para os problemas da região.
“A primeira pessoa que eu conversei foi com o assessor do deputado [em outubro de 2022], porque ele mora no mesmo bairro que eu. Ele me falou que eu poderia reunir um número significativo de assinaturas [em um abaixo-assinado] e fazer um ofício relatando o problema para levar a subprefeitura de São Miguel Paulista, que é quem administra a região”, relata Bruna.
Ela, então, partiu para a ação. Para conseguir as mais de 200 assinaturas no documento, contou com a ajuda de uma vizinha e de uma tia, ambas comerciantes da região, que ficaram responsáveis por explicar para os clientes o objetivo da iniciativa e recolher os nomes dos moradores. Enquanto isso, Bruna redigiu o ofício que seria entregue ao subprefeito.
As atividades foram feitas em fevereiro do ano passado e o documento foi entregue em março, quando o deputado Luiz Fernando fez uma visita ao bairro Jardim São Martinho para agradecer os votos que teve na região e escutar as demandas dos moradores.
Por meio da equipe do deputado, a jovem conseguiu agendar uma reunião para abril do último ano com o então subprefeito de São Miguel Paulista, Fernando Velucci, para apresentar o ofício.
“Ele falou que tinha conhecimento do problema das enchentes na região e que estava conduzindo um estudo de macrodrenagem, com muitos profissionais da prefeitura e da Sabesp envolvidos”, lembra.
Bruna, então, buscou respostas na Sabesp e conseguiu uma agenda dos moradores com representantes da empresa em maio passado. A resposta chegou alguns dias depois, em um ofício que negou a responsabilidade da empresa pelo problema e afirmou que se tratava de uma questão a ser cuidada unicamente pela prefeitura.
Ela não se deu por satisfeita com a resposta e lembrou que algumas ações simples ajudariam a evitar alagamentos, como ruas em desnível, limpeza de galerias e um sistema eficiente de escoamento de água que leve a chuva direto para o bueiro.
A segunda resposta chegou apenas em junho do ano passado, na qual a Sabesp afirma que existem estudos e medidas planejadas para serem executadas na região. Até agora, pouco foi feito.
Bruna planeja continuar buscando solução para o problema das enchentes e já se articula para apresentar o ofício novamente à subprefeitura de São Miguel, já que a responsável pelo órgão hoje é a subprefeita Damaris Dias Moura Kuo.
“Agora é usar o que a gente aprendeu dentro e fora da faculdade para tentar conquistar alguma coisa. É como diz o [rapper] Emicida, você não pode sair e voltar com a mão vazia”.
As próximas reuniões dos moradores para discutir a questão das enchentes estão marcadas para março. A ideia é aproveitar a campanha eleitoral para denunciar o problema e cobrar soluções.
‘Esse é um ano bem importante, quando as portas se abrem mais facilmente e a gente tem um contato mais direto com os candidatos [por conta das eleições]’
Bruna, moradora do Jardim Helena
“Claro que por trás tem muito interesse pessoal, mas a gente vai colocar o problema dos alagamentos na mesa. Não queremos promessas, mas ações efetivas”, diz a jovem. “Eu vou com força total. Tudo o que eu puder fazer eu vou fazer.”