O aposentado José Pereira, 66, mora no Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo, e levou um susto quando chegou a fatura da conta de energia deste mês: R$ 300. O dobro do valor que pagou em abril. Sem TV na residência, por um problema técnico, os eletrodomésticos mais usados são a geladeira e o microondas.
“Aqui, mora apenas eu e minha esposa. A televisão está quebrada faz quatro meses”, diz Pereira. “Devido o valor na conta de luz, usamos o tanque para lavar as roupas”.
Não houve medição da conta. Por conta da epidemia do novo coronavírus, a Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia elétrica em São Paulo, desobrigou as distribuidoras de enviarem funcionários para apurar o consumo de energia.
Para Pereira, houve erro no procedimento. Ele conta que a rotina dele e da esposa, Francileuda, não mudou. Ambos são aposentados e tem o costume de ficar em casa. “Somos do grupo de risco, não saímos. Também não somos ligados a essas coisas de tecnologia que essa juventude é. Não justifica o valor da que veio”.
O aposentado entrou em contato com a empresa de energia. Sem resposta, recorreu ao desconto da Tarifa Social – benefício criado pelo Governo Federal que é um desconto ou gratuidade na conta de luz.
Mas ainda há um entrave para receber o decréscimo. Embora tenha mais de 65 anos, ele precisa ser cadastrado no CadÚnico. O problema é que o CRAS (Centro de Referência em Assistência Social) que realiza o cadastramento está com as portas fechadas por razão da Covid-19.
“O atendimento tem sido através do 156, mas, por lá, não fazem esse procedimento. Para não ficar nessa enrolação decidi por pagar mesmo”, afirma Pereira.
MUDANÇAS
Sem a medição realizada de porta em porta, a Enel criou um sistema em que os consumidores podem fazer a leitura do medidor e informar por meio de um aplicativo no celular. Em tese, quem realizar o procedimento terá cobrado o valor consumido no mês. Do contrário, será cobra a média de consumo dos últimos 12 meses.
O problema é que moradores têm relatado que os valores têm vindo acima da média. Outros relatam dificuldades para fazer o cadastro. “Não sei fazer, meu celular é daqueles antigos, pedi ajuda do meu filho para fazer essa auto-leitura”, afirma Pereira.
Mesmo aqueles que têm acesso à tecnologia estão com dificuldades de enviar a foto da auto-leitura. Na página do aplicativo da Enel, as reclamações sobre o alto valor e o procedimento sem sucesso são inúmeras.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nos últimos quatro anos o valor da conta de luz superou a inflação em 28%. Somente neste ano o aumento acumulado da tarifa até dezembro deve chegar a 44%.
Quem também teve aumento no valor da conta de luz foi o João Berto, 35, morador do Jardim Nélia, extremo leste de São Paulo. Ele tem uma empresa de conserto de ar condicionados e continua trabalhando normalmente.
“A minha rotina não mudou continuo cumprindo os contratos nas empresas, principalmente, agora, que estão aproveitando para fazer limpeza nos aparelhos e instalar novos”, diz Berto.
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O microempresário mora sozinho em um apartamento CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e teve um aumento de 100% na fatura de luz. “O que mais me assustou no aumento foi que meus vizinhos que têm filhos e estão em casa tiveram uma cobrança parecida”, diz Berto.
Sem corresponder aos pré-requisitos para obter a gratuidade da tarifa social, a única opção foi entrar em contato com a Enel. Ele conta que não teve sucesso. A orientação foi fazer a auto-leitura e encaminhar pelo aplicativo.
“Sou mais um para a estatística. O aplicativo trava, não carrega a foto, bem complicado”, finaliza Berto.
Em nota, a Enel, concessionária de energia responsável, disse que vai avaliar cada caso enviado. E que os clientes ainda devem entrar em contato para tirar dúvidas em relação ao consumo no telefone (0800-280-0120).