Maria Tereza Santana, 48, há alguns anos convive com um futuro incerto. Moradora de Paraisópolis, na zona sul da capital, sua casa de três cômodos está com os dias contados. Ou estava. “Há anos ouço dizer que vou sair daqui, que é área de risco”, afirma a auxiliar de limpeza.
A casa de Tereza é uma entre os quase 450 mil localizadas apenas em favelas paulistanas. Ao todo, são mais de 2 mil, segundo dados da Secretaria Municipal de Habitação.
A favela de Paraisópolis pertence ao distrito de Vila Andrade, que por sua vez está sob a administração da Subprefeitura do Campo Limpo, considerada a número um no ranking entre as que possuem proporcionalmente mais domicílios em favelas. Ela contabiliza mais de um terço do total de residências nos “aglomerados subnormais” — nomenclatura dada às favelas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Essa estatística é 120 vezes superior ao número de domicílios em favelas nas subprefeituras da Sé, na região central da cidade, ou em Pinheiros, na zona oeste, conforme levantamento do Mapa da Desigualdade.
Com 58.291 moradias em favelas no Campo Limpo, a região não está sozinha nessa. Dentre as oito subprefeituras com os maiores índices, mais outras quatro também estão localizadas na zona sul: M’Boi Mirim (40.266), Ipiranga (26.210), Cidade Ademar (25.610) e Jabaquara (13.414).
Já em relação aos cortiços existentes, de acordo com o portal Habita Sampa, mais de 1.000 deles estão localizados apenas nas subprefeituras da Sé e Mooca, no centro expandido da capital. Além disso, estima-se, também conforme a Secretaria Municipal de Habitação, que existam mais 380 mil loteamentos irregulares – dos quais apenas quase 2 mil são cadastrados pela Secretaria.
MINHA CASA, MINHA…
No portal De Olho nas Metas é possível encontrar 490 projetos ligados ao tema habitação na cidade. Ao todo, são três milhões e meio de residências existentes em toda São Paulo. Desse total, quase 10% do total de domicílios estão em favelas.
A incerteza e preocupação vivida por Maria Tereza parece refletir no nível de satisfação dos moradores sobre o assunto, que diminuiu, nos últimos quatro anos, segundo pesquisa mais recente do Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município).
“Dizem que quem casa, quer casa. No meu caso, quero saber se vou continuar na minha”, brinca a auxiliar de limpeza.
Conforme o Irbem, numa escala de 1 a 10, o verbo “habitar” não vem sendo praticado com bom gosto pelos paulistanos, que deram nota 4,1 à área de habitação — bem distante da média de 5,5.