Com a música presente em sua vida desde a infância, o rapper Vinex, 23, transformou o quarto em um estúdio musical em 2015. Esse foi o primeiro passo para a criação da Deck9 Record’s, produtora localizada no Parque Regina, distrito do Capão Redondo, zona sul de São Paulo.
Um ano após a conclusão das obras no cômodo, Vinex se uniu a Mulambo, 26, ambos crias do Capão Redondo, e começaram a angariar recursos para a produtora.
Eles se conheceram em 2016, na batalha de rap do Bowl, na Vila das Belezas, também na zona sul. Vinex foi organizador do evento e em seguida Mulambo passou a fazer parte da equipe.
O nome Deck foi escolhido, pois representa o suporte onde os barcos estacionam e as pessoas circulam, associado a uma base firme e segura. Já o número 9 resulta da soma de 2016 (2+0+1+6), ano de fundação da produtora, que também significa evolução por ser o último número da escala numérica.
“Assim é possível transmitir uma mensagem positiva para artistas independentes que são da periferia e sonham em chegar nos grandes palcos”, afirma Mulambo.
A empresa oferece serviços como produção de música, clipe, beat e fotografia, sendo responsável pela carreira dos artistas desde o início, da criação até os detalhes jurídicos de cada música, trabalhando em parceria com distribuidoras e associações musicais.
No estúdio, também há espaço para gravação de podcast e mídias audiovisuais, com foco em apoiar profissionais periféricos da zona sul.
“Faz sete meses que estou aqui e estou curtindo muito. É incrível trabalhar com o audiovisual, é algo que eu sempre quis. A Deck está sendo uma porta para o meu desenvolvimento”, afirma Matheus de Souza, 25, gestor administrativo e artístico da Deck9.
Desde o início, os sócios são responsáveis por manter a produtora com recursos próprios e ajuda de amigos e outros músicos independentes. Eles não têm nenhum apoio do poder público.
“Já fizemos inscrições, inclusive no Fomento à Cultura da Periferia, para fazer daqui [Deck9] um centro cultural, porém, não nos foi liberado. Então, seguimos por conta própria”, afirma Mulambo.
O artista também destaca a importância de projetos culturais nas periferias. Participar do Sarau na Fábrica de Cultura, situada no Capão Redondo, fez com que ele melhorasse a escrita, reverberando no trabalho como rapper.
“Vários artistas do Capão tiveram uma base fundamentada dentro da Fábrica de Cultura. Além da área artística, é importante para a produção musical, audiovisual e de campo. É importante demais”, pontua Mulambo.
Artistas da Deck9 Record’s lançaram faixas como “Luta Por Mim” (Jup do Bairro, Mulambo), “707 Headband” (Mulambo) e “Gasolina” (Vinex). Além de participarem de grandes festivais como o Lollapalooza e Festival Rec Beat.
“A Deck9 não foi criada com o intuito de lançar hits e sim produzir projetos musicais que têm como objetivo principal difundir a arte e as formas de fazê-la dentro da nossa realidade”, diz Vinex.
O estúdio está próximo de se tornar um selo da indústria fonográfica, que daria a possibilidade de gerenciar a carreira e administrar os direitos e distribuição musicais de um artista. No entanto, a Deck9 ainda não tem condições financeiras para assumir esse processo.
Vinex e Mulambo são sócios e acumulam várias funções na produtora. São eles que roteirizam todos os vídeos e trabalham na arte de diversas formas, como cinema, criação de trilhas e modelagem.
“Meu próximo sonho é ver a Deck bem estruturada, se tornando selo e fluindo de forma empresarial, gerando empregos e se expandindo cada vez mais”, afirma Vinex.
Deck9 House
Apesar da falta de recursos, os criadores da Deck9 buscam expandir a atuação. A gravadora vai funcionar também como um centro cultural e comercial. A equipe será ampliada, com a contratação de mais profissionais para compor o time.
A inauguração da Deck9 House será no dia 25 de março deste ano, com a estruturação de um novo espaço, uma sala para ensaios e gravação.
Na estreia, haverá uma feira voltada ao empreendedorismo de quebrada e economia criativa. Será debatido sobre música, além de exposição de marcas e filmes independentes. A arrecadação da feira será destinada para causas sociais.
Além disso, foi feita uma parceria com uma distribuidora para iniciar os serviços como um selo musical. “Poucos lugares tem pessoas dos nossos que chegaram lá, queremos fazer uma ruptura na indústria [da música]”, salienta Vinex.